Depois das inúmeras tatuagens, dos piercings e dos
alargadores, de colorir o branco dos olhos de preto e da língua
bifurcada, Bruno Siqueira, de 18 anos, ainda não se sentia satisfeito
com a aparência. Foi, então, que o jovem decidiu implantar dois chifres
de silicone na testa em janeiro.
“Todos os dias, alguém me diz que eu devo seguir
caminho de Deus. Não é porque implantei ´chifres´ que não tenho fé, que
quero me parecer com o diabo. Coloquei e creio em Deus, sim", afirma.
Bruno mora em Guarapuava, na região central do Paraná, onde trabalha há
dois anos como tatuador.
Sequência de modificações corporais A
primeira modificação corporal foi aos 11 anos, quando Bruno colocou o
primeiro piercing, no nariz. Em seguida, vieram as tatuagens. As
estrelas tatuadas em uma das coxas, aos 13, foi o primeiro contato que o
jovem teve com a introdução de pigmentos por agulhas. “Hoje, sei que
tenho pelo menos oito piercings. Quanto às tatuagens, já perdi as
contas. No rosto, sei que são quase 20”, afirma.
Depois dos piercings e das tatuagens, Bruno
decidiu fazer modificações mais radicais. Ele colocou dois alargadores,
um em cada lado do nariz. O procedimento foi feito com o auxílio de um
bisturi, em 2014. “Foi o procedimento que mais doeu até agora”, revela.
No ano passado, o jovem também injetou tinta na
camada de proteção dos olhos, técnica conhecida por “eyeball tatoo”.
“Chorei lágrimas pretas por dois ou três dias”, lembra. A tatuagem foi
feita de graça, no Rio de Janeiro, durante um tempo em que Bruno passou
trabalhando no estado. "Foram 20 minutos para pintar cada olho. Uma
agonia", define.
Ele conta que viu a técnica de tatuar o branco
dos olhos pela primeira vez na televisão, em 2007. Desde então, ele não
tirou a ideia da cabeça. Para a Sociedade Brasileira de Oftalmologia
(SOB), o procedimento invasivo é desaconselhável e pode causar
inflamação interna, levando à perda da visão.
Em 2014, a língua do jovem também passou por uma
modificação. Agora, após a operação, ela é bifurcada; a característica é
comum aos répteis. A repartição foi feita com a ajuda de um bisturi e,
depois, foram dados alguns pontos. “Tive que ficar sem beijar por um bom
tempo. Mas valeu a pena”, garante.
A última modificação que Bruno fez no corpo foi a
implantação de dois “chifres” na testa, sem nenhum tipo de anestesia.
“A pele é cortada, descolada e, então, são colocados os implantes.
Depois são dados alguns pontos. Ainda dói um pouco porque é uma operação
recente”, conta.
Saída de casa Logo que
colocou os primeiros piercings e fez as primeiras tatuagens, Bruno teve
que sair da casa da família. “Eles não aceitavam muito. Eu não tinha
lugar fixo; às vezes, ficava na casa de amigos ou por aí”, relata. Só
aos 16, quando começou “a viver de tatuagem”, como ele mesmo diz, é que
pôde bancar sua casa própria.
Hoje, ele mora com a gata Laurinha em uma casa no
bairro Morro Alto. Em abril, a filha Sophi deve nascer. Segundo ele, se
um dia a menina pedir para fazer uma tatuagem ou por um piercing, ele
garante que não será contrário. “Mas só quando ela for madura o
suficiente”, explica.
Depois de um tempo, os parentes de Bruno passaram
a aceitar a aparência do jovem. Ele conta que as crianças da família,
principalmente, não apresentam nenhum tipo de estranhamento. “É
engraçado ver como elas não têm preconceito e ainda acham o máximo”,
afirma.
Preconceito Entretanto, o
preconceito de pessoas desconhecidas faz com que Bruno, às vezes, se
sinta mal. “Nas ruas, as reações são diversas: há quem fique olhando, há
quem ri, há quem venha falar sobre Deus comigo, há quem queira tirar
fotos, há quem me chame de gay...”, diz.
O tatuador conta que evita locais e ruas muito
movimentados justamente por causa das reações negativas de algumas
pessoas. “Elas não estão preparadas para o diferente. E eu sou
diferente”, acredita. Bruno relata que, quando vai ao mercado, há sempre
um segurança que o segue e olhares desconfiados. “Chega a ser
constrangedor, parece que eu sou um bandido”, desabafa.

Próxima vontade Ignorando o
preconceito, o jovem diz que a sua próxima vontade é a suspensão
corporal. “A suspensão corporal consiste em suspender o corpo por meio
de ganchos passados através de perfurações na pele”, explica. As
perfurações são temporárias e abertas um tempo antes de o ato ser
realizado.
Bruno concluiu o Ensino Médio, não fez faculdade
e, por enquanto, não faz planos de frequentar uma. “Eu quero viver de
tatuagem, não me imagino fazendo outra coisa na vida. E quanto ao meu
corpo, o que eu tiver que fazer para me sentir bem, vou fazer”, conclui.
Jovem tatuador tem a língua bifurcada e o olhos tatuados de preto desde 2014.
Fonte: http://www.camacarinoticias.com.br/leitura.php?id=284379