Cardeal Cipriani afirmou que o Vaticano recebeu poucas informações sobre caso
Cidade do Vaticano - Os cardeais receberam "poucas"
informações sobre o chamado Vatileaks, o escândalo em torno dos supostos
casos de corrupção no Vaticano, durante as congregações preparatórias
do conclave, afirmou neste domingo, 17, o cardeal de Lima, Juan Luis
Cipriani. Em entrevista, Cipriani Thorne também ressaltou que o papa
Francisco, o argentino Jorge Bergoglio, terá que impulsionar a reforma
da cúria romana para torná-la "mais transparente, singela" e para que a
mesma não sofra com a falta de êxito.
Perguntado se o Vatileaks poderia ter influenciado na escolha de um
papa de fora da Europa, ou pelo menos da Itália, o cardeal de Lima
assegurou que sim. "Eu acho que sim. Não sabemos muita coisa sobre o
tema, mas a verdade é esta. Havia um clima de que essa situação não
poderia ser repetida e, por isso, os que estavam mais próximos de uma
maneira geral foram deixados de lado, mas sem nenhum tipo de acordo",
afirmou Cipriani.
O cardeal peruano manifestou que durante essas reuniões prévias ao
conclave os purpurados receberam "muito pouca" informação sobre o
Vatileaks e, segundo ele, "porque pediram". "Sim, pedimos", acrescentou o
cardeal ao afirmar que, ao renunciar a seu pontificado, Bento XVI
reservou toda a informação sobre o caso ao novo papa - "que já recebeu",
declarou.
Bento XVI criou uma comissão formada por três cardeais - o espanhol
Julián Herranz, ex-presidente do Conselho Pontifício para os Textos
Legislativos; o eslovaco Jozef Tomko, governador emérito da Congregação
para a Evangelização dos Povos, e o italiano Salvatore De Giorgi,
ex-arcebispo de Palermo -, para averiguar o vazamento e a publicação de
documentos reservados do papa e do Vaticano.
Dentro do proposto, a comissão de cardeais interrogou cerca de 30
pessoas e toda a documentação acabou sendo entregue no último mês de
dezembro a Bento XVI, que decidiu que a documentação passasse a seu
sucessor.
Dessa maneira, segundo fontes vaticanas, a documentação não ficou
arquivada, como costuma ocorrer em caso de morte ou renúncia de um papa,
quando todo o material do pontificado fica arquivado para seu estudo e
só acaba sendo publicado depois de anos.
O porta-voz vaticano, Federico Lombardi, não descartou que durante as
congregações os três cardeais que realizaram o relatório pudessem
informar sobre seu conteúdo aos demais, mas ressaltou: "Eles sabem em
que medida poderão e deverão dar informações". Neste aspecto, Cipriani
reconheceu que sabe "um pouquinho mais" sobre o Vatileaks do que aquilo
que foi publicado na imprensa, "mas não o suficiente".
Em relação ao se papa Francisco deve realizar a reforma da cúria
romana, no olho do furacão após a divulgação do Vatileaks, Cipriani
afirmou que acredita que sim, "mas não com essa dimensão dramática que
às vezes é relatada no jornal". "Francisco nos dará um sinal quando
começar a escolher sua gente, seus colaboradores. Eu acho que é um
clamor dos cardeais a necessidade de simplificar muitas coisas na cúria,
seguindo rumo à transparência e aos fiéis", manifestou o Cipriani, que
acrescentou que a luta é contra o "carreirismo".
Segundo o cardeal peruano, o tema do "carreirismo" foi muito analisado
durante essas reuniões prévias ao conclave. Cipriani também garantiu que
Francisco quer dar um impulso de entusiasmo na Igreja para acabar com o
"pessimismo" que está instalado, sobretudo na Igreja da Europa.
Embora Francisco tenha 76 anos, Cipriani assegurou que o novo papa tem
uma grande energia espiritual, uma potência interior muito forte para
dirigir a Barca de Pedro. "Ele nos dará muitas surpresas agradáveis",
finalizou o cardeal de Lima.
Fonte: http://atarde.uol.com.br/mundo/materias/1491133