sábado, 12 de abril de 2014

“Mulher de Jesus”: Papiro não é falsificação, assume estudo

O papiro que refere que Cristo tinha uma esposa não é uma falsificação. O documento terá sido escrito entre os séculos VI e o IX, mas não comprova que a “mulher de Jesus” tenha existido mesmo. “O texto sublinha apenas que as mulheres também poderiam discípulas”, refere uma investigadora.
Jesus Cristo pode ter tido uma esposa. Para a professora Karen King, “quase de certeza” que o papiro onde está escrita a frase “a mulher de Jesus” é antigo e não uma falsificação.
Segundo uma investigação recente, cujas conclusões foram ontem apresentadas, o papiro apresentado ao mundo pela professora de História na Universidade de Harvard Divinity (EUA) será de entre os séculos VI e o IX.
O papiro, com as dimensões de 3,8 por 7,6 centímetros, foi analisado depois da controvérsia que levantou, em 2012. A referência ao casamento de Jesus Cristo foi considerada uma farsa pelo Vaticano e por muitos historiadores, mas o estudo ontem apresentado desmontou a hipótese de ser uma falsificação recente.
A ser falso, será uma ‘mentira’ que data do tempo dos primeiros cristãos, algures entre os séculos VI e o IX.
“Todas essas análises e o contexto histórico indicam que este papiro é quase de certeza produto dos antigos cristãos e não uma falsificação recente”, salienta o estudo, cujo resumo foi publicado na revista Harvard Theological.
Para eliminar essas dúvidas, o objeto foi submetido a diferentes técnicas de datação, na Universidade de Columbia, Harvard e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
Quer o material do papiro, quer a tinta, quer a escrita e a estrutura gramatical apontam para a origem muito antiga do documento, referem as conclusões do estudo: “os investigadores concluíram que a composição química do papiro e sua oxidação correspondem ao papiro antigo, como o Evangelho de São João”.
No papiro consta, em língua copta, as citações “Jesus disse-lhes: ‘Minha esposa’” e “Ela poderá ser minha discípula”.
Para o Vaticano (ea maioria dos historiadores), é uma farsa: não existe, nos evangelhos e outros textos oficialmente reconhecidos, qualquer referência à “mulher de Jesus”, nem sequer à existência de discípulos do sexo feminino.
A origem desconhecida do papiro, a forma dos carateres e os erros gramaticais são os outros argumentos apontados pelos céticos.
A professora que apresentou o documento ao mundo, Karen King, concorda que não é uma prova de que Jesus fosse casado: “este texto sublinha apenas que as mulheres, mães e esposas, também poderiam discípulas de Jesus”.
O debate sobre um eventual casamento de Cristo remonta ao início desta religião, uma vez que a não comprovação desse casamento ter servido ao Vaticano para justificar o celibato dos sacerdotes e o facto das mulheres não poderem exercer o sacerdócio ministerial.
Após dois milénios, a discussão persiste.
Para o egiptólogo Leo Depuydt, a validação da antiguidade do papiro não comprova que o documento seja da mesma idade.
Citado pela France Press, o investigador garantiu que é possível conseguir folhas antigas de papiro no mercado e que as novas tintas podem ser alteradas, na composição, para serem semelhantes às usadas noutras eras.

Leo Depuydt, que considerou “suspeito” o anonimato do proprietário do objeto, apontou ainda a inexistência de qualquer data no papiro que aborda a “mulher de Jesus” e a semelhança dos “erros gramaticais” e das citações com os textos do Evangelho de Tomé, o texto descoberto em 1945 que o Vaticano considerou apócrifo: “não pode ser uma coincidência”.

Fonte: http://www.ptjornal.com/2014041122288/geral/mundo/mulher-de-jesus-papiro-nao-e-falsificacao-assume-estudo.html