O clima de despedida por conta do estado de saúde do ex-presidente Nelson Mandela, 94, já é evidente na África do Sul. Mandela foi novamente hospitalizado no sábado (8) em estado grave por uma pneumonia, e muitos compatriotas manifestavam o desejo de que ele possa "partir com dignidade".
"É hora de deixá-lo partir", afirma a manchete do jornal sul-africano "Sunday Times" em sua página na internet.
"Agora a família deve deixar que Deus atue a sua maneira", disse ao jornal Andrew Mlangeni, amigo de Mandela, que resume uma opinião amplamente compartilhada nas redes sociais nas últimas horas.
"Diremos 'obrigado, Deus, nos deu este homem' e também o deixaremos partir", completou Mlangeni.
Pedido de orações
O ícone da luta contra o apartheid, que completará 95 anos em 18 de julho, estava na primeira página de todos os jornais neste domingo (9). Desde o anúncio da internação, na madrugada de sábado, o governo ainda não divulgou nenhuma informação sobre seu estado.
Mas, o porta-voz da presidência Mac Maharaj teria dito ao canal de TV norte-americano "CNN" que o ex-presidente está respirando sem a ajuda de aparelhos.
Na manhã de sábado, o porta-voz da presidência informou que Mandela sofreu uma recaída por pneumonia e que o estado se agravou durante a noite, o que provocou a hospitalização.
No Twitter, sul-africanos pedem por orações.
"Temos que rezar para que Tata Madiba fique bem ou para que Deus o libere de seus sofrimentos? Acredito que é o momento para que o deixemos partir", escreveu @_Porchez.
"Tata" (pai) e "Madiba" (o nome de seu clã) são duas maneiras respeitosas e carinhosas de fazer referência a Mandela na África do Sul.
O jornal "City Press" destaca o pedido do presidente Jacob Zuma de orações por Mandela, enquanto o popular "Sunday Sun" ressalta que "Mandela luta pela vida".
Oposição
Apesar do clima de comoção, o conservador Nick Griffin, líder do Partido Nacional britânico, de extrema-direita, chamou Mandela de "velho terrorista assassino" em seu Twitter.
"Santo# nelsonmandela parece que está mal das pernas. Certifique-se de evitar a BBC quando o velho terrorista assassino morrer. Vai ser nauseante", escreveu.
E completou em outro post: "Homens de Estado devem ser julgados por resultados, não por retórica. Antes de Mandela, a África do Sul era uma potência econômica segura. Agora o crime é caso perdido", escreveu.
Saúde frágil
Em Pretória, muitos jornalistas permaneciam reunidos diante do hospital onde o Prêmio Nobel da Paz de 1993 pode estar internado, já que a presidência não revelou o local da hospitalização.
Mandela apareceu bastante fragilizado nas últimas imagens divulgadas, em abril, durante uma visita a sua residência das principais autoridades do país.
Nestas imagens ele foi visto sentado em uma cadeira, com um cobertor sobre as pernas. Seu rosto não expressava qualquer emoção.
Mandela passou dez dias internado no fim de março, também por uma infecção pulmonar, provavelmente vinculada às sequelas de uma tuberculose que contraiu durante sua detenção na ilha-prisão de Robben Island.
Nesta prisão, ele passou 18 dos 27 anos de detenção, durante o regime do apartheid, obrigado a trabalhar em uma pedreira, o que afetou para sempre seus pulmões.
O ex-presidente, que se afastou totalmente da vida pública há vários anos, continua venerado pelos sul-africanos por ter conseguido evitar uma explosão de violência racial na transição do regime segregacionista para a democracia, instaurada em 1994.
Esta transição valeu o Nobel da Paz em 1993, que compartilhou com o último presidente do apartheid, Frederik De Klerk,
O arcebispo Desmond Tutu, outra grande figura da luta contra o apartheid e também Prêmio Nobel da Paz, considera Mandela um "ícone mundial da reconciliação". (Com agências internacionais)