Localizada na zona rural de Inhambupe, a vila de Saquinho possui um sistema de saúde deficiente. Nos últimos tempos, a situação se tornou ainda pior. Isso porque o único posto de saúde da região foi fechado há pouco mais de uma semana. Em seus arredores, muitas famílias tiveram que se adaptar com a carência de recursos médicos, descobrindo outra forma de cuidar de seus doentes ou gastando tempo e dinheiro para se tratar no cento do município, em Salvador ou Alagoinhas.
Muitas casas são distantes até mesmo do centro do vilarejo, o que dificulta o acesso para pessoas com locomoção prejudicada. É o caso da família de Mara*, 24, e Agenor*, 26. Os dois irmãos sofrem com deficiências motoras desde a infância. Geralmente, são atendidos em casa, pois não conseguem chegar ao hospital. Assim como os médicos, o projeto Bandeira Científica também optou por prestar assistência à família em seu próprio domicílio, na Visita Domiciliar ocorrida na terça-feira.
Quando a equipe chegou na casa, a mãe estava ausente e os irmãos encontravam-se sob os cuidados de Damiana, que cuida deles há dois anos. “Eu venho todo dia cuidar dos dois”, conta ela, que mora em uma região próxima. Segundo Silmara Rondon, discutidora da Fonoaudiologia, a mãe teria contribuído para o atendimento. “A gente não sabe como foi esse parto, como foi o desenvolvimento deles, motor, de fala, no andar, faltam dados”. Ela explica que a mãe poderia esclarecer detalhes sobre a história do problema, por conhecer intimamente o cotidiano dos pacientes desde seu nascimento. Apesar do trabalho já consolidado de Damiana, nada substitui o conhecimento da mãe.
Solicitados pelos agentes de saúde para analisar os casos mais graves, os médicos da Visita Domiciliar prestam um atendimento momentâneo, dificultado justamente por essa falta de informações e a rapidez da consulta. A situação é agravada pela falta de apoio oferecida pelo sistema de saúde da região. O contato com a comunidade se dá através dos Agentes Comunitários de Saúde, responsáveis por levantar os problemas de determinada área. “O trabalho como agente comunitário é cheio de dificuldades”, conta Domingos, agente que acompanhou as visitas dos médicos voluntários. “Agora, está pior”, diz ele, por causa do fechamento dos postos, que gerou uma sobrecarga para ele e outros profissionais. Domingos recolhe dados e passa para a Secretaria de Saúde, mas nem sempre vê resultado em sua atuação, que deveria passar antes pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS), responsáveis pela atenção primária e constante.
Mesmo admitindo a importância da atenção freqüente aos pacientes freqüentados, Domingo relata que isso não ocorre. Segundo ele, a família já se acostumou com o cuidado dos irmãos. Damiana partilha da mesma opinião. Já se adaptou a rotina, às demandas dos dois jovens sob seus cuidados. “A gente fica conversando, assistindo TV”.
Mãe solteira de quatro filhos, ela também não costuma ir ao médico. Afirma que não possui problemas de saúde. No entanto, um dos profissionais presentes na visita detectou uma irritação de pele na cuidadora, que é beneficiária de um dos programas de assistência do governo.
Enquanto seus filhos estudam no ensino público, Damiana se esforça no Topa, programa de alfabetização de adultos. Segundo ela, o problema de Mara e Agenor tem piorado. Aos cinco anos, eles caminhavam normalmente. Hoje em dia, não conseguem andar sem apoio e sofrem muitas quedas. “Faço comida, boto no prato, eles vão para a mesa comer. Ela vem derruba o prato em cima da mesa (a menina)”. Sobre os postos, Domingos conta que, da mesma forma que não foram avisados sobre seu fechamento, não sabem quando serão reabertos.
*nomes ficticios
Equipe de comunicação Bandeira Científica
Clara Roman