Um estudo detalhado sobre os ganhos e os gastos das classes C, D e E
trouxe um dado novo sobre a classe C, considerada a nova classe média do
País: a renda dessa parcela da população não é tão estável quanto se
pensa. Na verdade, tanto o valor quanto as fontes de rendimento tendem a
mudar, às vezes drasticamente, mês a mês. "Podemos dizer que a classe C
é classe média quando dá", diz Luciana Aguiar, sócia diretora da Plano
CDE, consultoria especializada em baixa renda, responsável pelo
estudo. A pesquisa foi feita com 120 famílias, de 64 comunidades de
centro urbanos em quatro capitais - Salvador, na Bahia, Recife, em
Pernambuco, São Paulo e Rio Janeiro.
O estudo foi encomendado e pago
pelo CGAP (sigla em inglês de Consultative Group to Assist the Poor), um
organismo internacional, baseado no Banco Mundial. Como a Plano CDE
realizou todo o levantamento, pode divulgar parte dos dados financeiros,
aos quais o Estado teve acesso. Por causa do número reduzido de
entrevistados, a pesquisa não tem valor estatístico. O seu grande
diferencial é a profundidade. Os pesquisadores tiveram acesso irrestrito
à contabilidade das famílias por seis meses, o que faz com que os
resultados tracem uma radiografia fidedigna dos padrões de comportamento
dessa parcela da população. "A pesquisa é baseada no que se chama de
Diários Financeiros, que acompanham as fontes de receita e os gastos",
diz Luciana. "É um tipo raro de acompanhamento, que permite uma
investigação do orçamento familiar e de como as pessoas lidam com o
dinheiro e as dívidas." O orçamento de todas as famílias pesquisadas
variou ao longo dos seis meses.
Uma delas atravessou quase todas as
classes. Segundo Luciana, isso ocorre porque apenas uma parte da renda é
certa - e nem sempre por causa de um emprego com carteira assinada.
Aposentadoria, pensão, bolsa família, bolsa carioca e outros benefícios
sociais, muitas vezes, são a única parcela fixa da renda. O restante -
que não raro responde pela maior parcela do ganho - é coberto por bicos e
atividades paralelas, como venda de cosméticos ou fazer salgados para
fora. Cristiano Ipaves Lacrose, 36 anos, de Itaquera, na zona leste da
capital paulista, convive com essa flexibilidade desde que começou a
ajudar o pai, aos dez anos. Microempreendedor, ganha por mês, como ele
mesmo diz, "algo entre nada e R$ 5 mil". Para garantir nem que seja um
mínimo, aprendeu a fazer de tudo - serviços hidráulicos, elétricos,
marcenaria, pintura. Sua mais recente atividade é ser chaveiro em
domicílio. "Não dá para adivinhar quando e quanto vai entrar", diz
Lacrose. "Há um ano, ganhava bem sempre, mas, desde o fim do ano
passado, os clientes ficaram mais inseguros e as coisas,
imprevisíveis." Em casa, quem tem renda certa é a esposa. São R$ 900
como auxiliar de serviços.
É dela a conta bancária, que garantiu o
empréstimo para os documentos da moto e os dois cartões de crédito, que
ele utiliza como fonte de capital de giro. Em um bom mês, a renda
familiar passa de R$ 6 mil. Pelos padrões de ganho no País, a família,
com uma filha, vai ao topo da pirâmide. Encosta na classe A, alta renda.
Em um mês ruim, porém, os R$ 900 da esposa os colocam no piso da classe
C, por pouco, não escorrega para a D. Como a renda muda, a família
Lacrose transita entre as classes C, B e A. No longo prazo, a nova
classe média precisa acumular ativos - educação, qualificação
profissional, acesso ao sistema financeiro, um espaço para empreender,
já que a maioria não tem trabalho formal. "A questão que se coloca é
como ajudá-la nessa transição." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: http://www.bahianoticias.com.br/estadao/noticia/36144-classe-c-e-039-classe-media-quando-da-039-diz-pesquisa.html