Essa rua fica praticamente na Praça da Matriz de Inhambupe e bem no Centro.
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segunda-feira, 3 de setembro de 2012
A Amizade E A Política
A conversa de hoje se situa entre o obscuro e o irrelevante, e tem
origem numa experiência muito pessoal, sofrida; além de estar no centro
de um furacão que vivencio, em silêncio, há alguns anos. Falo da amizade
na política.
Os conceitos de amizade e inimizade possuem no mundo da política
certa ambigüidade. Aliás, o realismo político desconfia muito da
amizade.
Governar com amigos ou com adversários?
A pergunta é reconhecidamente provocativa, mas é inegável que levanta
uma questão legítima, sobretudo no campo da prática política, da
política como acontece na vida real (gostemos dela ou não).
Existe uma enorme quantidade de ditos, máximas e aforismos nas obras
políticas de todos os tempos que se constitui num verdadeiro Banco de
Sabedoria Política, versando sobre a temática do inimigo e do amigo na
política.
O pensamento realista, por sua visão pessimista da natureza do homem,
prefere sempre lidar com interesses a lidar com sentimentos.
Interesses são definidos, são quantificáveis ($) e suscetíveis de negociação.
Sentimentos são ocultos, arbitrários, volúveis e demandam uma reciprocidade cambiante, instável e não quantificável.
A atmosfera do poder, se não torna a amizade impossível, por certo
impõe-lhe tensões muito desagradáveis. No mundo em que o governante
desenvolve suas atividades não há muito espaço para amizades.
Amigos exigem muito e esperam demasiado, na forma de atenção,
consideração e compreensão. Amigos tendem a atribuir um significado ao
conceito de "lealdade do chefe para com eles", que costuma extrapolar em
muito os limites toleráveis, para quem tem a responsabilidade de
governar.
Amigos exigem uma solidariedade irrestrita e imediata, a qualquer
momento em que entrem em dificuldades que, usualmente, exige pagamento
em "moeda política".
Amigos, pois, tendem a desenvolver expectativas exageradas em relação ao governante.
Tais expectativas – compreensão, paciência e consideração,
solidariedade irrestrita – são perfeitamente justas e adequadas, no
contexto das relações pessoais privadas. Transpostas para o mundo da
política que, em sua lógica própria não as reconhece, tornam-se
politicamente onerosas, e até tirânicas.
Por estas razões, amigos no governo estão sempre "à beira da
decepção" com seu amigo poderoso, sempre na iminência do rompimento da
amizade.
Há sempre alguns amigos que são capazes de fazer a distinção entre as
duas situações – amizade na vida privada e na vida pública. São poucos,
mas são valiosos. Você os reconhece porque eles não lhe criam
problemas. Antes, resolvem-nos, mesmo a custo de prejuízo pessoal, e
você só fica sabendo muito depois.
Destes amigos, o governante deveria cercar-se. Eles serão o apoio
mais importante nos piores momentos; aqueles momentos em que o telefone
não toca e o capim cresce na sua porta.
Já os inimigos, o realismo político encara de maneira diferente. Para
essa escola de pensamento político, inimigos e adversários possuem
muitos atrativos políticos. Atrair adversários, retirá-los da oposição
para fazer parte do governo e, no limite, cooptá-los, sempre foi (é e
será) uma poderosa tentação que assalta os governantes, ao montarem seu
governo.
Concluída a eleição, o novo governante, munido de sua recém
conquistada legitimidade, passa a ser o governante de todos: dos que o
apoiaram e dos que se opuseram. Com essa autoridade, pode convidar
ex-adversários para integrar sua administração.
Ora, a adesão de um adversário sempre significa um enfraquecimento do
bloco de oposição, senão quantitativo, por certo qualitativo. Aos olhos
do povo, o apoio de um adversário, valerá muito mais do que o mesmo
apoio de um aliado fiel.
Um adversário que se integra ao novo governo, para reverter dúvidas
quanto a sua lealdade, será mais dedicado ao trabalho, e evitará criar
problemas ainda que os amigos de antes o hostilizem.
Finalmente, os inimigos cooptados são infinitamente mais pacientes e
compreensivos que os amigos. Diferentemente destes, os inimigos não
podem se dar ao luxo de ficar "à beira da decepção". Se repetir a dose, é
ele quem será considerado problemático, e não os grupos políticos que
ele abandona.
Resumo da ópera: no mundo da política, inimigos são mais úteis que os amigos. Patético, não?
Fonte: http://www.artigonal.com/cronicas-artigos/a-amizade-e-a-politica-1077387.html
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