Tony Ramos na novela “Champagne” (Foto: TV Globo)
Foi em 1984. Era a inauguração do
Sambódromo da Marquês de Sapucaí. A Globo – não se sabe bem por qual
motivo – quebrou uma tradição de nove anos e decidiu não transmitir os
desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro. Problemas internos,
falta de interesse pelo Sambódromo (desmentida por Boni em seu “Livro do Boni”) e até questões políticas foram cogitadas.
A também carioca TV Manchete
– que completava um ano de vida em 1984 – saiu à frente e exibiu os
desfiles da Sapucaí. Com direção de Maurício Sherman, e comentários de
Paulo Stein e Fernando Pamplona, as transmissões daquele Carnaval pela
emissora de Adolpho Bloch chegaram ao primeiro lugar no Ibope,
alcançando uma média de 70% na audiência.
Foi a primeira vez, em onze anos de existência, que o “Fantástico” (seguido do então inédito filme “Bonnie e Clyde, uma Rajada de Balas”) – no domingo – perdia no Ibope. Na segunda e terça-feira foi a vez da novela das oito levar bomba. Era “Champagne”, de Cassiano Gabus Mendes, com direção geral de Wolf Maya.
Por uma estratégia equivocada, a Globo
havia convocado Cassiano – tradicional autor de comédias das sete horas –
para escrever uma novela no horário nobre. Em 1983, a emissora estava
em déficit de novelistas das oito, já que Janete Clair, sua
principal escritora, estava adoentada (ela faleceu em novembro daquele
ano). A solução foi “subir” um autor das sete – Cassiano, que apresentou
um trabalho morno. “Champagne” até tinha um bom elenco
(encabeçado por Tony Ramos, Antônio Fagundes e Irene Ravache), mas a
história era fraca demais para uma trama das oito horas.
O Carnaval de 1984, pela Manchete, venceu a Globo no Ibope. Como poucas vezes visto na história da TV, a Vênus Platinada perdeu para uma concorrente no horário nobre – a Manchete seria novamente uma pedra em seu sapato em 1990, com a novela “Pantanal”. Cassiano Gabus Mendes retornou para o horário que o consagrou: depois de “Champagne” escreveu sucessos como “Ti-ti-ti“, “Brega e Chique” e “Que Rei Sou Eu?“. Ele voltou a escrever uma novela para as oito da noite em 1990, “Meu Bem Meu Mal“, dessa vez com uma repercussão maior.
A Globo, por sua vez, nunca mais deixou
de transmitir os desfiles das escolas de samba cariocas direto do
sambódromo da Marques de Sapucaí.
Fonte: http://nilsonxavier.blogosfera.uol.com.br/2013/02/11/o-ano-em-que-a-globo-deixou-de-transmitir-o-carnaval-carioca-e-se-arrependeu-amargamente/