No penúltimo debate da campanha eleitoral - marcado para hoje à noite, na TV Record -, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) vão trocar alfinetadas sobre montagem de dossiês e denúncias de corrupção. Embora os dois candidatos à Presidência garantam que estão interessados apenas na apresentação de propostas, as equipes preparam a dupla para um duelo.

'O estilo de quem é do mal é justamente de quem diz que é do bem. Nós batemos na política e nosso adversário, na baixaria', afirma o secretário de Comunicação do PT, deputado André Vargas, numa referência ao jingle Serra é do bem. 'Vamos ser incisivos quando precisar. Se quiserem discutir problema de corrupção, vamos discutir. Aliás, tomara que apareça essa questão de dossiê, pois vamos mostrar a guerra entre tucanos.'

O comitê de Dilma responsabiliza o senador eleito Aécio Neves (PSDB-MG) pela quebra de sigilo fiscal de parentes e amigos de Serra. Para o PT, a violação dos dados é mais um capítulo da disputa travada entre Serra e Aécio, no ano passado, pela definição do candidato do PSDB ao Palácio do Planalto.

Serra, por sua vez, usará o escândalo para alvejar Dilma, alegando que a quebra do sigilo dos tucanos foi ordenada por um grupo de inteligência da campanha petista. 'Mas o confronto será na base da civilidade', diz o senador Sérgio Guerra (PE), presidente do PSDB e coordenador da campanha de Serra.

O candidato do PSDB vai explorar, ainda, a denúncia publicada na última edição da revista Veja, segundo a qual o Planalto deu ordens para que a Secretaria Nacional de Justiça produzisse dossiês 'contra quem atravessasse o caminho do governo'. Os pedidos teriam partido da própria Dilma, então ministra da Casa Civil, e de Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O secretário Nacional de Justiça, Pedro Abramovay, negou 'peremptoriamente' a acusação, da mesma forma que Dilma e Carvalho. Para o governo e o PT, a denúncia não passa de vingança do ex-secretário Romeu Tuma Jr., defenestrado em junho depois de ter o nome envolvido no escândalo da máfia chinesa.

No sábado, após participar de uma carreata na região metropolitana de São Paulo, a candidata disse que o tête-à-tête com Serra é relevante por permitir a discussão das 'questões mais importantes para o Brasil, e não das laterais e das fofocas'.

Contradições. Dilma foi sorteada para abrir o debate na TV Record, às 23 horas. Ela não deve ser tão agressiva como no primeiro confronto do segundo turno, ocorrido na TV Bandeirantes, há 15 dias, mas vai provocar Serra para mostrar o que chama de 'contradições' do tucano.

Na avaliação da equipe petista, o adversário do PSDB tem um discurso diferente da prática em relação a privatizações e à continuidade de programas sociais no governo de São Paulo. Não é só: para se contrapor à crise na Casa Civil, que culminou com a demissão de sua amiga Erenice Guerra, Dilma pretende cutucar Serra com a denúncia contra o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, acusado de desviar R$ 4 milhões da campanha tucana.

Amparada por levantamentos internos, Dilma também está pronta para reagir, caso Serra use o episódio da agressão que sofreu no Rio, na quarta-feira, com o objetivo de acusar o PT de não respeitar adversários e de ser antidemocrático. Pesquisas qualitativas em poder do PT indicaram que eleitores consideraram 'exagerada' a atitude de Serra de fazer uma tomografia computadorizada após ser atingido por bolinha de papel e rolo de fita adesiva. Criticaram, ainda, a tentativa do candidato de transformar o episódio em escândalo.

Um tracking do comitê de Dilma, feito na sexta-feira, mostrou que a repercussão do conflito tirou votos do tucano. Depois da briga entre militantes do PT e do PSDB, ela passou de 56% para 58% dos votos válidos e ele caiu de 44% para 42%. No debate, Serra insistirá em que é o 'mais experiente e preparado' para comandar o País. Dilma baterá na tecla de que o rival 'interrompe programas e rasga compromissos'.