Após empate em 2 a 2 no tempo normal, seleção europeia vence batalha
nos pênaltis contra o Uruguai, com três defendidos pelo goleiro
veterano
Em alguns anos, talvez, poucas pessoas se recordarão que Uruguai e
Itália terminaram a Copa das Confederações de 2013 entre os quatro
melhores. Seria “apenas” a disputa do terceiro lugar, mas o jogo deste
domingo, em Salvador, foi digno de uma final, uma mistura de drama e
crueldade com dois times esgotados fisicamente debaixo de muito sol.
Depois do empate por 2 a 2 no tempo normal e de 30 minutos sem decisão
na prorrogação, Buffon pegou dois pênaltis e deu a vitória à Azurra por 3
a 2.
O lendário goleiro italiano de 35 anos se redimiu depois de uma
competição instável, principalmente quando falhou na derrota para o
Brasil. No tempo normal, fez defesas importantes e um milagre com os pés
em chute de Forlán à cara a cara. Nas batidas, repetiu a dose e
defendeu a cobrança do atacante do Inter. Depois, para salvar o erro de
De Sciglio, pegou o de Cáceres e o de Gargano, assegurando o honroso
terceiro lugar.
Celeste e Azzurra mostraram desde o início os motivos por quase terem
eliminado Brasil e Espanha nas semifinais. Foram gigantes, legítimos
donos de seis títulos mundiais somados. Os italianos superaram qualquer
escala de esforço físico e psicológico depois de enfrentarem um duelo de
120 minutos e uma decisão por pênaltis há apenas três dias. Sem Pirlo e
tantos outros, brilharam os reservas. Astori, em nova falha do goleiro
Muslera, e Diamanti, em linda cobrança de falta, marcaram.
Os uruguaios não ficaram atrás no empenho para “subir ao pódio”.
Estiveram sempre atrás no placar e, como manda sua tradição, não
desistiram em nenhum momento. Nem mesmo com o sol de quase 30 graus às
13h na Bahia. Fazer gols em italianos é rotina para Cavani, artilheiro
do último Calcio, com 29. Fez logo dois para levar o time à prorrogação.
Não deu nos pênaltis.
A derrota, porém, não é problema. O Uruguai mostra reação para
continuar lutando por uma vaga na Copa do Mundo de 2014. O time está em
quinto nas eliminatórias (iria para a repescagem) e tem pela frente
quatro jogos decisivos: Peru, Colômbia, Equador e Argentina. A Itália
também vai buscar a classificação no segundo semestre, mas em situação
mais cômoda, liderando o Grupo B, quatro pontos acima da Bulgária.
Ah, Muslera...
Não pense em uma disputa de terceiro lugar com dois times
desinteressados. Uruguai e Itália mostraram na Fonte Nova que ficar fora
da decisão não foi motivo para desânimo. Em um primeiro tempo
equilibrado, com nove oportunidades de gol, os italianos tiveram ligeira
superioridade e contaram com a ajuda do goleiro Muslera para ficar em
vantagem.
O calor de quase 30 graus ferveu os 22 jogadores, principalmente a
defesa da Azzurra e o ataque da Celeste, posicionados em uma faixa de
campo em que o sol não teve piedade. Talvez, por isso, a Itália começou
melhor, trocando passes na sombra e ignorando o desgaste pelo duro duelo
contra a Espanha na última quinta.
O sol, porém, não pode ser o culpado pelo gol de Astori, aos 23
minutos. Muslera pode. De novo. E de novo pelo alto, seu grande defeito.
Assim como no lance decisivo de Paulinho contra o Brasil, a bola batida
por Diamanti viajou (na sombra) e passou por cima do goleiro. Desta
vez, bateu na trave, voltou no ombro dele e bateu na linha até que o
zagueiro completasse.
O Uruguai teve de se desdobrar para reagir. O empate não veio, mas o
time subiu de produção quando Cavani e Suárez acordaram e se
movimentaram com mais frequência. O atacante do Liverpool obrigou Buffon
a fazer boa defesa, enquanto o artilheiro do Napoli marcou em
impedimento bem assinalado pela arbitragem.
O cansaço bateu nos minutos finais. As equipes perderam o poder de
marcação e abriram o meio de campo. A Celeste foi para o intervalo
revoltada com a não marcação de um pênalti depois que a bola tocou no
cotovelo de Chiellini na área. Pouco antes, El Shaarawy (sim, ele jogou)
só não ampliou porque Godín salvou após a bola passar por Muslera.
Terceiro lugar? Vale muito!
A troca de lado no segundo tempo claramente favoreceu o Uruguai. Sem
tanto sol na cabeça dos atacantes, o time ganhou poder para envolver a
defesa rival e controlar os primeiros minutos. A pressão começou, e o
empate não demorou. Aos 12, em contra-ataque, o badalado setor ofensivo
finalmente funcionou. Cavani recebeu de Suárez na área e tocou certeiro,
no canto esquerdo de Buffon.
A Itália foi desmoronando gradativamente. A movimentação no ataque
diminuiu, e o time recuou, permitindo que o Uruguai avançasse suas
peças. Só Buffon não oscila. De quebra, faz milagres. Forlán chutou
forte e o goleiro rebateu. No rebote, o atacante colorado soltou nova
bomba e o capitão da Azzurra tirou de forma espetacular com a perna
esquerda.
Gigi, como é chamado pelos companheiros, talvez, pudesse prever que
aquela defesa seria o choque necessário para o time despertar. Somente
seis minutos depois, os italianos aproveitaram um lance de bola parada
para recuperar a vantagem. Da intermediária, Diamanti cobrou falta com
perfeição por cima da barreira, no canto direito baixo. Sem chances para
Muslera.
A resposta sul-americana foi tão bela e precisa quanto a batida rival.
Resposta de quem está acostumado a brilhar justamente na Itália, com
seus 29 pelo Napoli no último
campeonato nacional. Cavani, aos 32, chutou falta de longe. Candreva
não pulou, e a bola passou exatamente por cima dele. Buffon voou, mas
era tarde. Igualdade justa, e duas equipes entregues no campo, sem
forças para evitar a prorrogação.
A feição dos jogadores assim que soou o apito final denunciou o
esgotamento. Água na cabeça, atletas deitados no gramado, massagem nas
pernas...tudo foi tentado para aliviar a dor. No reinício, o Uruguai
mostrou ter mais pernas para suportar. Suárez e Chiellini arriscaram uma
arrancada de dar inveja pela esquerda. O atacante pediu pênalti,
ignorado pelo árbitro, e ainda levou uma bronca do zagueiro, com quem
havia se estranhado no primeiro tempo.
Os últimos 15 minutos de tempo-extra foram ainda mais arrastados.
Ninguém queria se arriscar. Não havia força. Montolivo ainda foi expulso
ao fazer falta por trás em Suárez. O Uruguai teve o domínio, chegou a
pressionar, mas o mesmo Suárez e Gargano perderam as últimas chances.
Forlán abriu a série parando nas penas de Buffon. Aquilani, Cavani, El
Shaarawy e Suárez fizeram. De Sciglio errou, mas o goleiro salvou
novamente nos chutes de Cáceres e Gargano. Era o dia de Gigi.