O agravamento do aquecimento global é um assunto sério que todo mundo
já está careca de tanto ouvir falar. Mas nem por isso encontramos
soluções ou mudamos atitudes que possam pelo menos desacelerar esse
quadro.
Os riscos de passarmos por mudanças climáticas são tão profundos que
poderiam parar ou até mesmo reverter todo o progresso que a humanidade
fez até agora contra a pobreza e a fome. É isso o que diz o último
relatório das Nações Unidas.
De acordo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas,
realizado ontem, apesar dos esforços crescentes de muitos governos para
combater o problema, a situação global está se tornando mais aguda
conforme os países em desenvolvimento se juntam ao Ocidente na
contramão, queimando enormes quantidades de combustíveis fósseis.
Mas qual seriam as consequências?
Bem trágicas, na verdade.
Segundo o grupo de cientistas e outros especialistas que participaram
do encontro, se a redução nas emissões de gases estufa não acontecer
muito em breve, poderíamos passar por mudanças que ameaçariam a
sociedade com a escassez de alimentos, crises de refugiados, inundação
de grandes cidades e algumas nações inteiras, extinção em massa de
plantas e animais e um clima tão drasticamente alterado que poderia ser
perigoso para as pessoas trabalhar ou simplesmente ficar ao ar livre
durante as épocas mais quentes do ano.
O novo relatório da ONU deixa bem claro que a “continuação na emissão
de gases estufa implica em mais aquecimento e mudanças de longa duração
em todos os componentes do sistema climático, aumentando a
probabilidade de impactos severos, invasivos e irreversíveis para as
pessoas e os ecossistemas”.
Qual é a novidade?
Se você não mora em uma caverna, provavelmente já ouviu falar em
todas essas coisas e consequências terríveis. Então o que mudou nesse
novo relatório da ONU?
Bom, se isso sempre foi falado e nenhuma medida realmente eficiente
foi tomada, você já pode imaginar que o cenário está ficando cada vez
mais complicado. Para expressar a gravidade da situação, o relatório usa
um tom alarmante nunca antes usado. Durante o painel, os especialistas,
mais do que das outras vezes, fizeram questão de deixar bem claro o
quanto a sociedade está em perigo se uma política séria de controle do
agravamento do aquecimento global não for colocada em prática
imediatamente.
Ações
Isso exigiria deixar a grande maioria das reservas mundiais de
combustíveis fósseis no solo ou, uma alternativa, investir no
desenvolvimento de métodos para capturar e enterrar as emissões
resultantes da sua utilização, disse o grupo.
Se os governos se comprometerem a atender suas próprias metas de
limitar o aquecimento do planeta a não mais de 2 graus Celsius, devem
restringir as emissões provenientes de combustíveis fósseis adicionais
para queima de cerca de 1 trilhão de toneladas de dióxido de carbono,
disse o painel. Se seguirmos nas taxas de crescimento atuais, esse
orçamento é susceptível de ser esgotado em algo em torno de 30 anos,
possivelmente antes.
No entanto, as empresas de energia têm preservado reservas de carvão e
de petróleo equivalentes a várias vezes esse valor, e eles estão
gastando cerca de US$ 600 bilhões por ano para encontrar mais. Nesse
mesmo barco, então as empresas de petróleo que continuam construindo
usinas e refinarias de energia movidas a carvão, e os governos que estão
gastando mais US$ 600.000.000.000 (desse jeito os zeros vão entrar em
extinção também) ou subsidiando diretamente o consumo de combustíveis
fósseis.
Por outro lado, como o relatório também constatou, menos de US$ 400
bilhões por ano estão sendo gastos em todo o mundo para reduzir as
emissões ou com alternativas de outras formas de lidar com essa tão
temida (e real) mudança climática. Essa é uma pequena fração da receita
gasta em combustíveis fósseis – e é menor, por exemplo, do que a receita
de uma única empresa petrolífera como americana ExxonMobil.
Parece que não estamos remando para o lado certo
“A ciência tem falado e não há ambiguidade em sua mensagem”, disse
Ban Ki-moon, secretário geral das Nações Unidas. “Os líderes devem agir.
O tempo não está do nosso lado”, completou.
No entanto, não houve nenhum sinal de que os líderes nacionais
estejam dispostos a discutir a atribuição do orçamento de emissões de
trilhões de toneladas entre os países. Aliás, muito pelo contrário. Eles
estão se movendo em direção a um acordo relativamente fraco que seria,
essencialmente, deixar que cada país decida por si próprio o quanto de
esforço deve colocar em limitar o agravamento do aquecimento global – e
mesmo esse documento, que mais parece uma piada, não entraria em vigor
até 2020.
“Se optarem por não falar sobre o orçamento de carbono, eles estarão
optando por não resolver o problema da mudança climática”, disse Myles
R. Allen, cientista do clima na Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha,
que ajudou a escrever o novo relatório. “Eles também não podem não se
incomodar e virar as costas para essas reuniões”, alerta.
Fonte: http://hypescience.com/agravamento-do-aquecimento-global/