
O
Senado Federal aprovou nesta terça-feira (13), por 53 votos a favor e
16 contra, o texto final da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55,
que impõe um teto aos gastos públicos pelos próximos 20 anos. A matéria
aprovada na Câmara dos Deputados como PEC 241 precisava de pelo menos
três quintos dos integrantes do Senaod (49 de 81) para ser aprovada em
segundo turno e seguir para sanção presidencial.
Após a aprovação
do texto-base sem alterações, foram apreciados dois destaques. Um que
tratava da limitação de despesas obrigatórias, como o salário mínimo, e
outro que propunha um limite mínimo de gastos com saúde e educação.
Ambos foram rejeitados. A emenda constitucional segue agora para sanção
presidencial.
Entenda o que muda com a decisão do Congresso:
O que propõe a PEC 55?
A
PEC do Teto de Gastos Públicos, proposta pelo governo federal, tem o
objetivo de limitar o crescimento das despesas do governo. Considerado
pelo governo Michel Temer como o primeiro passo para superar a crise
econômica e financeira do país, a medida fixa para os três Poderes,
incluindo Ministério Público e Defensoria Pública da União, um limite
anual de despesas.
Por que o governo quer limitar os gastos?
A
equipe econômica encaminhou a medida para tentar reequilibrar as contas
públicas nos próximos anos e impedir que a dívida do setor público, que
atingiu 70% do Produto Interno Bruto (PIB) em agosto, aumente ainda
mais.
Para quem vale a limitação do teto de gastos públicos?
A
regra vale tanto para gastos do Executivo quanto para despesas do
Senado, Câmara, Tribunal de Contas da União, Ministério Público da União
(MPU), Conselho do MPU, Defensoria Pública, Supremo Tribunal Federal,
Superior Tribunal de Justiça, Conselho Nacional de Justiça e justiças do
Trabalho, Federal, Militar, Eleitoral e do Distrito Federal e
Territórios.
Como é calculado esse limite de gastos?
Segundo
a medida, o governo, assim como as outras esferas, poderá gastar o
mesmo valor que foi gasto no ano anterior, corrigido apenas pela
inflação. A inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA), é a desvalorização do dinheiro, ou seja, quanto
ele perde de poder de compra num determinado período. Apenas para 2017 o
limite orçamentário das despesas primárias – aquelas que excluem o
pagamento de juros da dívida – será o total gasto em 2016 corrigido por
7,2%. De 2018 em diante, o limite será o do ano anterior corrigido pela
variação do IPCA de 12 meses do período encerrado em junho do ano
anterior. No caso de 2018, por exemplo, a inflação usada será a colhida
entre julho de 2016 e junho de 2017.
Qual será a duração da medida?
O texto limita por 20 anos os gastos federais ao Orçamento do ano anterior corrigido pelo IPCA.
Ela poderá sofrer alterações?
O
presidente da República pode propor um projeto de lei complementar para
alterar, a partir do décimo ano de vigência do novo regime fiscal, o
método de correção dos limites de cada grupo de órgão ou poder. O texto
permite apenas uma alteração do método de correção por mandato
presidencial.
Quais serão as consequências caso o limite não seja cumprido?
Caso
o limite de crescimento de gastos seja descumprido, Poderes ou órgãos a
eles vinculados ficarão impedidos no exercício seguinte de: reajustar
salários, contratar pessoal, fazer concursos públicos (exceto para
reposição de vacância) e criar novas despesas até que os gastos retornem
ao limite previsto pela PEC.
No caso do Poder Executivo, a
extrapolação de seu limite global provocará a proibição adicional de
criar ou expandir programas e linhas de financiamento ou o perdão,
renegociação ou refinanciamento de dívidas que causem ampliação de
despesas com subsídios e subvenções.
Além disso, o governo também não poderá conceder ou ampliar incentivo ou benefício de natureza tributária.
A medida se aplica para todos os tipos de gastos do governo? O que fica de fora?
Ficarão
fora dos limites, entre outros casos, as transferências constitucionais
a estados e municípios, os créditos extraordinários para calamidade
pública, as despesas para realização de eleições e os gastos com aumento
de capital das chamadas empresas estatais não dependentes.
Outra
possibilidade de exclusão do teto é o uso de recursos excedentes ao
resultado primário de cada ano no pagamento de restos a pagar
registrados até 31 de dezembro de 2015.
Assim, mesmo com a
previsão de um deficit, como o projetado para 2017, de cerca de R$ 139
bilhões, se ele for menor, a diferença poderá ser usada para quitar
esses restos a pagar sem entrar no limite do regime fiscal.
Como ficam os gastos com saúde e educação?
Diferentemente
de outras áreas, saúde e educação tiveram o limite traçado pelo mínimo a
ser gasto e não o máximo das despesas. Em 2017, haverá exceção para as
áreas de saúde e educação, que somente passarão a obedecer ao limite a
partir de 2018, segundo o governo. Pelo texto, o piso para os dois
setores passa a obedecer ao limite de despesas ligado à inflação a
partir de 2018. Atualmente, a Constituição especifica um percentual
mínimo da arrecadação da União que deve ser destinado para esses
setores.
Em 2017, o parecer prevê, no caso da saúde, percentual
de 15% da receita líquida, que, segundo a Emenda Constitucional 86, só
valeria em 2020. No caso da educação, o piso constitucional foi mantido
em 18% da arrecadação de impostos. De 2018 em diante, o valor executado
no ano anterior será corrigido pelo IPCA até 2036.
Qual é o impacto da medida sobre o salário mínimo?
No
relatório apresentado à comissão especial que analisou a PEC na Câmara,
o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) afirmou em seu parecer que a
proposta prevê que o salário mínimo, referência para mais de 48 milhões
de pessoas, deixará de ter aumento real, aquele acima da inflação se o
governo ultrapassar o limite de despesas, ou seja, gastar mais do que o
fixado na lei.
Como ficam os concursos públicos?
O
diretor da Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da
Câmara, Ricardo Volpe, disse que, pela PEC, Judiciário e Legislativo têm
“gordura para queimar” e estão em situação confortável, inclusive para
promoverem novas contratações por concurso público. A exceção seriam os
“mais gastadores”, como a Justiça do Trabalho. Já o Executivo ficaria
dependendo de outras medidas de ajuste fiscal para se manter com a atual
estrutura.
Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2016-12/saiba-o-que-muda-com-aprovacao-final-da-pec-do-teto-dos-gastos-publicos