Lamaçal no Campus Fidei, em Guaratiba, zona oeste do Rio de Janeiro, na quarta-feira (24)
(Daniela Dacorso/Agência O Globo)
Vigília está suspensa:
programação vai terminar na noite de sábado e será retomada na manhã de
domingo. Estrutura da praia será usada para a celebração final da
Jornada Mundial da Juventude. Lama e dificuldade de acesso tornam
inviável a peregrinação até a Zona Oeste
A mudança forçada no roteiro coroa o que pode ser interpretado
como um misto de megalomania e descompromisso com o que prega o papa
Francisco: quem, afinal, será responsabilizado por gastar, em duas áreas
distintas, dinheiro para montar palco, altar e todo o sistema para
eventos semelhantes, com reunião de 2 milhões de pessoas? Seria como
realizar dois réveillons de Copacabana na mesma semana, para se usar uma
comparação feita pela própria prefeitura referindo-se às dimensões do
evento
(Atualizada às 18h15)
A prefeitura do Rio abortou os eventos da Jornada Mundial da Juventude
que seriam realizados em Guaratiba. Por causa da chuva, a vigília e a
missa de encerramento serão em Copacabana, onde também há palco e
estrutura para receber cerca de 2 milhões de pessoas. Desde o início da
semana, o terreno recém-preparado, com muito barro e terra fofa,
transforma-se progressivamente em um conjunto de pequenos lagos.
As duas fazendas escolhidas para sediar a vigília e a missa de
encerramento celebrada pelo papa Francisco, que totalizam 3,5 milhões de
metros quadrados de área, mostraram-se uma opção complicada desde o
início da jornada. Chuvas no início do ano atrasaram as obras, e, como
mostrou o site de VEJA, as alterações no terreno alagaram casas de
moradores do entorno do terreno.
O Comitê Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude (COL)
informou, agora à noite, que, além da transferência da missa final do
evento para Copacabana – em vez de Guaratiba – está cancelada a vigília,
originalmente programada para a noite de sábado para domingo. “Devido
às condições climáticas, os eventos programados para o Campus Fidei, em
Guaratiba, serão realizados na praia de Copacabana. Com isso, a
peregrinação de 13 km não poderá ser realizada. Diferentemente do que
aconteceria em Campus Fidei, onde os participantes passariam toda a
noite em vigília, em Copacabana a programação será encerrada após a
Vigília de Oração com o Papa Francisco (prevista para começar no sábado,
27, às 19h30) e retornará no domingo, 28, às 10h, com a presença do
pontífice”, diz a nota divulgada pelo COL.
“Foi uma decisão difícil, mas responsável, pensando sempre na segurança
do nosso peregrino. Copacabana sempre foi o nosso plano B, que agora
teremos que colocar em prática. Quem está no Rio de Janeiro sente o que a
JMJ trouxe. Que a JMJ continue alegre e feliz”, disse Dom Paulo Cezar
Costa, vice-presidente do COL, na coletiva de imprensa realizada na
noite desta quinta-feira.
Ainda não se sabe o prejuízo que a JMJ, cujo orçamento é deficitário,
terá com o cancelamento. Palcos, tendas, banheiros, postos de saúde e
estruturas do Exército foram transportados nas últimas semanas para
permitir a realização da vigília, em uma área onde praticamente só havia
mato.
A mudança forçada no roteiro coroa o que pode ser interpretado como um
misto de megalomania e descompromisso com o que prega o papa Francisco:
quem, afinal, será responsabilizado por gastar, em duas áreas distintas,
dinheiro para montar palco, altar e todo o sistema para eventos
semelhantes, com reunião de 2 milhões de pessoas? Seria como realizar
dois réveillons de Copacabana na mesma semana, para se usar uma
comparação feita pela própria prefeitura referindo-se às dimensões do
evento.
O prefeito Eduardo Paes confirmou a mudança pouco antes das 16h, em uma
entrevista coletiva, e pediu a compreensão dos moradores do bairro da
Zona Sul da cidade - que terá de conviver com a concentração de
peregrinos por quatro dias, e não mais dois apenas.
Na empresa contratada pela prefeitura para organizar a JMJ, a Dream
Factory, que também organiza o Rock in Rio, ainda havia otimismo com o
clima até quarta-feira. O diretor da empresa, Duda Magalhães, afirmou,
em entrevista ao jornal O Globo, que não estava preocupado,
porque os participantes do evento sabiam o que teriam de enfrentar. "O
evento é uma missa campal. Passar frio, calor, estar numa área de terra
ou alagada, são condições de um evento como este. Quem é peregrino sabe
que vai passar por essa experiência", disse.
O que o diretor da empresa não levou em conta foi o quanto a
experiência poderia ser ruim. Afinal, não se trata de passar por um
atoleiro, mas de permanecer em uma área alagada e com chuva por mais de
12 horas, entre o sábado e o domingo, depois de caminhar 13 quilômetros
na ida, outros 13 na volta - o que transformaria a peregrinação em
calvário.
Treinamento abortado - Um grupo de jornalistas foi
informado pelo Exército sobre o cancelamento das atividades em
Guaratiba. Eles iriam acompanhar os treinamentos do Centro de
Coordenação de Defesa de Área (CCDA/RJ) para atuar especificamente
naquela área. Ainda na entrada do campo, um major informou a mudança de
local da missa de encerramento e, consequentemente, a suspensão dos
trabalhos - que fariam, por exemplo, a simulação da chegada do papa ao
local. Apesar do grande lamaçal no terreno, já havia pequenos grupos de
peregrinos preparando seu acampamento, no intuito de garantir um local
mais próximo ao palco onde papa Francisco não subirá mais.
Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/vigilia-do-papa-e-missa-de-encerramento-serao-em-copacabana-nao-mais-em-guaratiba