"Marcha, mulher, marcha / molha os pés mas não faz a
unha / viemos de todo o Brasil / pedir a cabeça do Cunha". Marcha das
Margaridas chegou ao Congresso Nacional aos gritos contra o presidente
da Câmara
A Marcha das Margaridas, que reuniu cerca
de 30 mil pessoas em Brasília na manhã desta quarta-feira (12), segundo
estimativa da Polícia Militar, chegou à Esplanada do Ministérios e ao
Congresso aos gritos de “Fora, Cunha!”. A organização do evento falou em
70 mil manifestantes.
Organizada pela Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Agricultura), a marcha é composta principalmente de mulheres
agricultoras de vários Estados do país. Há também estudantes
universitárias, sindicalistas e grupos feministas. O público vindo de
outros Estados ficou alojado no estádio Mané Garrincha, de onde partiu
no início da manhã.
Por volta das 10h, o ato começou a circundar o Congresso, com a
orientação de “virar as costas” para o Parlamento, sob palavras de ordem
contra a regulamentação e a ampliação das terceirizações -projeto
recentemente aprovado pelos deputados-, críticas à redução da maioridade
penal e às discussões sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff
(PT).
“Marcha, mulher, marcha / molha os pés mas não faz a unha / viemos de
todo o Brasil / pedir a cabeça do Cunha”, cantava uma manifestante do
alto do carro de som. Presidente da Câmara, o deputado Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) declarou guerra ao governo e vem impondo à presidente várias
derrotas na Casa.
Na rua, faixas contra a violência doméstica, de “Não ao racismo” e de “Golpe não”.
‘Pelos filhos, pela terra, pela vida’
Dona Francisca Leitão de Souza, 68 anos, passou meses separando da
aposentadoria o dinheiro da viagem. Gastou 24 horas de ônibus desde sua
cidade, no interior de Tocantins. E chegou feliz. “O gosto de estar aqui
é enorme. A gente se junta e luta pra melhorar a vida no campo”,
explica sobre sua missão, que já dura três dias. Dona Francisca sempre
morou no campo. Teve 12 filhos, perdeu quatro e há dois meses ficou
viúva, depois de cuidar oito anos do marido, vitimado por um AVC. Mas
nem o frio, a dor na coluna e o cansaço tiraram o sorriso do rosto dessa
mulher, que quer ver a presidenta Dilma Rousseff de perto. “Lula e
Dilma são tudo pra mim”, afirma.
Para as cearenses Maria Isaías e Maria Assunção Santos, a batalha
para chegar a Brasília ainda não terminou. Com poucos recursos,
trouxeram roupas de crochê, renda de bilro, pipoca e cocada para vender e
terminar de pagar a viagem. “Nunca perdi uma Marcha das Margaridas.
Adoro estar aqui, participar dessa alegria de encontrar as pessoas,
lutar para conquistar nossos direitos”, conta Maria Isaías, com um
sorriso de satisfação.
Sob ameaça de perder a terra, na qual cultiva mandioca e banana, a
delegação da Aldeia Tatuí Juara, no Mato Grosso, gastou dois dias na
estrada para participar da marcha. Solange Zenaide do Carmo conta que
luta contra os fazendeiros que querem retirar índios da aldeia, onde ela
cria os filhos. “Estou aqui por causa dos meus filhos. Quero defender a
vida deles, a terra, casa deles. Se a gente não defender, o que vai ser
deles?”, questiona. Ao lado, a filha Camila reclama da violência na
região. “Queria trocar meu nome. Porque estão matando muitas meninas
chamadas Camila. Não quero ser a próxima.”
Fonte: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/08/30-mil-protestam-contra-eduardo-cunha-em-brasilia.html