sábado, 28 de setembro de 2019

Desemprego só retorna a nível pré-crise em 2024, afirmam economistas



O trabalho informal cresce de maneira persistente, quebrando recorde atrás de recorde. Se por um lado isso indica que há um respiro para quem precisa ganhar a vida, por outro, a lenta retomada do emprego formal, com carteira assinada, sinaliza que uma recuperação robusta no mercado de trabalho tende a demorar.

Mantido o ritmo atual de criação de vagas, a taxa de desemprego deve cair aos níveis pré-crise em 2024, segundo especialistas ouvidos pela reportagem.

Na percepção deles, o aumento contínuo da informalidade em velocidade muito superior à criação de vagas formais indica que ainda há desconfiança dos empresários sobre a retomada econômica, o que trava investimentos e a consequente geração de empregos.

"Investidores e empresas ainda não estão confiantes em relação à retomada. Então, ninguém quer dar um passo forte e contratar de maneira formal", diz Juliana Inhasz, economista do Insper.

"Se não há perspectiva de crescimento duradouro, já que as reformas demoram para sair e os sinais estão trocados da economia, o mercado acaba apostando em uma contratação 'com menos compromisso'", afirma.

Conforme os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgados na sexta-feira (27), a informalidade bateu recorde no trimestre encerrado em agosto, com 38,8 milhões de brasileiros nessa condição.

O número considera empregados do setor privado e trabalhadores domésticos sem carteira assinada, trabalhadores por conta própria e empregadores sem CNPJ e trabalhadores familiares auxiliares.

Esse contingente representa 41,4% da população que está trabalhando, a maior taxa desde que o IBGE passou a calcular esse indicador, em 2016. Já a taxa de desemprego segue em queda, mas em ritmo tímido. No trimestre fechado em agosto, o percentual foi de 11,8%, contra 12,3% nos três meses até maio. Há um ano era de 12,1%, e em agosto de 2017, de 12,6%.

"Tivemos um recuo de um ponto percentual do desemprego nos últimos dois anos. Isso é muito pouco. É bom ver a queda, claro, mas estamos longe de alcançar os patamares pré-crise", afirma Laísa Rachter do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

Para Cosmo Donato, economista da LCA Consultores, a conjuntura do país tem forçado pessoas que não trabalhavam (seja porque estudavam, tinha alguma renda guardada ou por não precisar) a procurar emprego, engrossando o total de desocupados no país.

Na sua avaliação, esse cenário deve persistir ainda por muito tempo e isso vai fazer com que a queda do desemprego ocorra de forma lenta e gradual. "Projetamos que essa taxa só vai cair na média anual abaixo de 10% em 2024", diz.

O desemprego no Brasil era de 6,7% no trimestre terminado em fevereiro de 2014. Três anos depois, em 2017, ela chegou a 13,2%, segundo dados do IBGE.

Donato diz, porém, que só observar recortes de ocupados e desocupados não basta para entender o cenário do mercado de trabalho. Ele afirma que o tempo de procura também é relevante.

Nessa linha, a última Carta de Conjuntura do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), publicada há duas semanas, mostra que a persistência da crise e a lenta retomada alimentaram o desemprego de longo prazo no país.

Por meio de dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua do IBGE, os pesquisadores do Ipea mostram que, no segundo trimestre deste ano, 26,2% dos trabalhadores desempregados estavam nessa condição há pelo menos dois anos.

No mesmo período de 2018, esse número era de 24,4%.

Mas não é apenas a falta de emprego que indica que o mercado está demorando para reagir. Tanto os trabalhos formais quanto os informais emitem sinais sobre a dificuldade de retomada.

Adriana Beringuy, analista da coordenação de trabalho e rendimento do IBGE, diz que isso é nítido na média dos salários. "Mesmo com mais pessoas trabalhando, esse crescimento não foi suficiente para aumentar a massa de rendimentos da economia, porque as pessoas estão se inserindo com salários mais baixos".

No caso das vagas celetistas, os empregos que abrem são justamente aqueles que pagam de um a dois salários mínimos e exigem menos qualificação.

De acordo com dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), em agosto foram abertas 42,4 mil postos formais com salários de até um salário mínimo. Outras 99,8 mil vagas aberta naquele mês ofereceram salário de até dois salários mínimos. Ao mesmo tempo, o saldo de vagas com rendimentos superiores ficaram negativos.

A faixa etária que mais vem sendo contemplada com postos formais é aquela que engloba jovens que acabam de entrar no mercado e tem entre 17 e 25 anos.

Juliana Inhasz, do Insper, lembra que o grande número de pessoas em busca de uma vaga também pressiona os salários para baixo.

O rendimento médio não tem tido grandes alterações. Saiu de R$ 2.297 no trimestre até maio e foi para R$ 2.298 nos três meses até agosto, segundo dados do IBGE. Em agosto de 2018, era de R$ 2.302.

Donato, da LCA, recomenda cautela com a ideia de que a informalidade é um fenômeno do mundo moderno que ganha espaço no Brasil. Em parte, diz ele, é verdade que há novas modalidades de atuação profissional, mas o fenômeno ocorre de maneira forçada e ainda pouco estruturado no país.

"A crise lá atrás pode até ter antecipado um movimento estrutural de mudanças no mercado de trabalho, mas por ser seguida de uma retomada lenta está gerando uma debilidade na oferta de emprego de mais qualidade."

Vagas informais também costumam oferecer ganhos menores e sua expansão contribui para reduzir o valor dos ganhos dos trabalhadores.

"As pessoas querem voltar para o mercado de trabalho e deixam de exigir uma remuneração maior do que poderiam", afirma Inhasz.


Fonte: https://www.bahianoticias.com.br/folha/noticia/53974-desemprego-so-retorna-a-nivel-pre-crise-em-2024-afirmam-economistas.html

Antes de ser a 'índia de Bolsonaro', Ysani curtia feminismo, LGBT e Jean Wyllys



Antes de epítetos como "a índia de Bolsonaro", Ysani Kalapalo, a autoproclamada "indígena do século 21", não era tão de direita assim. Ao menos não pela régua que costuma dar as medidas ideológicas no Brasil: falava bem de feminismo, LGBT e sexualidade "moderna" nas aldeias e mal da catequização dos povos. Até o psolista Jean Wyllys, que dizia admirar "desde a época do 'Big Brother'", tinha sua estima.

Do povo kalapalo, no Alto Xingu (MT), a youtuber começou a elevar os decibéis direitistas de seu discurso na campanha presidencial de Jair Bolsonaro (PSL), a quem apoiou com entusiasmo.

Na terça (24), num movimento que despertou a fúria de lideranças indígenas de seu Xingu natal, foi levada pelo presidente à Assembleia Geral da ONU e citada em seu discurso como aquela capaz de "externar toda a realidade vivida pelos povos indígenas do Brasil".

Tratamento simetricamente oposto teve o cacique Raoni. Chegou ao fim o "monopólio" do líder caiapó de 89 anos, referência mundial da causa, disse Bolsonaro. Ysani, que estima ter 28 anos (sua cultura não conta idade), espelha o presidente ao afirmar que "um único cacique não fala por nós".

Foi o que disse em entrevista no Congresso, na quarta (25), enrolada numa bandeira do Brasil e ladeada por deputados do PSL. No mesmo dia, Raoni defendeu na Câmara que Bolsonaro deveria "sair para o bem de todos".

Em março, o afeto pelo cacique octogenário era maior. "Já estive algumas vezes com Raoni, ele é um senhorzinho muito interessante para bater um papinho", tuitou Ysani, tendo o cuidado de fazer a ressalva: "Gosto dele, só que ele muitas vezes já foi usado pelas ONGs e partidos de extrema esquerda".

A kalapalo respondia a uma foto que a ministra Damares Alves (Família, Mulher e Direitos Humanos) postou, ela com Raoni. Damares escreveu que os dois discutiram medidas para a proteção de tribos e acrescentou: "#ninguémficaráparatrás".

Um tópico também debatido em 2018 por Ysani e Bolsonaro. Ela tem um canal de YouTube com 283 mil inscritos, e nele publicou uma conversa com o então pré-candidato à Presidência.

Em clima cúmplice, questionou se era verdade que ele, caso eleito, expulsaria índios de suas terras e mexeria em demarcações já estabelecidas. Ele nega e atribui a "fake news" ao PT, que espalharia "o terror, como os terroristas que sempre foram".

Propõe que indígenas brasileiros "poderiam viver de exploração" do território deles assim como aqueles dos EUA usufruem de royalties de cassinos instalados nos seus. Hoje, já presidente, Bolsonaro se diz disposto a rever terras já garantidas às tribos.

Ao passar pelo Congresso na volta de Nova York, Ysani disse que as ONGs "estão desesperadas" e "romantizam índio". "Hoje não cola mais ficarmos parados como 500 anos atrás. Hoje o índio quer ter o mesmo direito que qualquer cidadão brasileiro tem."

Um reflexo da fala presidencial para líderes mundiais: "Infelizmente, algumas pessoas, de dentro e de fora do Brasil, apoiadas em ONGs, teimam em tratar e manter nossos índios como verdadeiros homens das cavernas".

Na Câmara, Ysani enveredou-se por um discurso que parecia saído de um manual progressista, mas é agora reapropriado pela direita: "Querem botar índio no cabresto, o negro no cabresto, o homossexual".

A esquerda e ela já se tiveram em alta conta. Em maio de 2013, Ysani participou do 10º Seminário LGBT do Congresso Nacional, a convite do mesmo parlamentar do PSOL que, três anos depois, cuspiria no colega Bolsonaro na votação do impeachment de Dilma Rousseff (PT) na Câmara —em 2019, o segundo viraria presidente, e o primeiro abdicaria do cargo, dizendo-se alvo de ameaças num Brasil agora sob guarda de um homem "que sempre utilizou de homofobia contra mim".

A kalapalo se disse privilegiada por ter sido chamada "pelo grande deputado Jean Wyllys", cuja luta "acompanho há muito tempo, desde a época do ‘Big Brother’."

Fez um discurso para esquerdista nenhum botar defeito, comparando a luta de povos indígenas à dos homossexuais, atacando a usina de Belo Monte ("Belo Monstro!") e pedindo proteção às terras kaiowás e à Aldeia Maracanã, ocupação no Rio alvejada pela PM naquele ano.

A voltagem feminista eletrizou o ambiente. Ysani evocou lendas de sua tribo nas quais as mulheres "é que eram as deusas" no passado. E "o relacionamento entre elas mesmas era normal" até "um certo homem branco" aparecer, afirmou.

"Ele disse assim: "índios, isso é coisa do diabo. Vocês, homens, têm que dominar essas mulheres. [...] Segundo a Bíblia, —estou apenas repetindo o que eles falaram para o nosso povo— o homem nasceu primeiro, e a mulher nasceu depois. Na nossa cultura, quem nasceu primeiro foi a mulher."

No último ano, seu canal audiovisual aumentou a carga política, com vídeos falando mal do ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, e da esquerda em geral. Antes, mais corriqueiras eram gravações sobre "feminismo indígena", absorventes na mata e até curiosidades da vida íntima, como no título "índio faz sexo anal? ("no vídeo de hoje, vou tirar sua dúvida, safadinho").

No fórum LGBT, a youtuber dizia ter certeza de que um dia os filhos de todos ali ririam de tanto preconceito. "Todo esse pensamento vai ser considerado como o pensamento do Hitler, quando ele estava matando judeus. Vai ser tudo considerado atrasado."

É a "indígena do século 21" que agora é considerada atrasada por boa parte de seus pares. Às vésperas da assembleia da ONU, caciques de 16 povos do Xingu divulgaram uma carta que dizia: "O governo brasileiro ofende as lideranças ao dar destaque a uma indígena que vem atuando constantemente em redes sociais com objetivo único de ofender e desmoralizar as lideranças e o movimento do Brasil".

O desagravo veio do Grupo dos Agricultores Indígenas do Brasil e da tenente Sílvia Waiãpi, secretária nacional da Saúde Indígena. Primeira índia nas Forças Armadas do país, ela disse ao lado de Ysani, em Brasília, que "este governo nos deu voz".

A reportagem conversou com três indígenas do Xingu sobre Ysani, duas delas mulheres (todos pediram anonimato). Delas vieram frases como "temos várias indígenas que são nossas representantes legítimas, mas com certeza ela não está na lista".

O homem afirmou que o cacique principal dos kalapalo não quer vê-la por perto. "O povo não aceita mais ela aparecer na aldeia. Nunca mais vai pisar."

O fato de morar há anos em São Paulo fez com que muita gente tachasse Ysani de "índia fake", como se ela nunca tivesse frequentado as bandas mato-grossenses.

No Natal de 2018, ela postou um vídeo contando sobre seu 25 de dezembro de 2002. Ela e a família, disse, chegaram "sem nada" em São Carlos (SP), e num primeiro momento foram acolhidos por mórmons. Só o pai falava português.

Mudaram-se por causa de uma doença que ela, com "11 pra 12 anos", e a irmã de nove anos tinham e que o pajé não conseguia curar, afirmou. Os pais acreditavam que as duas estavam sob feitiço de inimigos deles.

Passados 17 anos, Ysani acumula desafetos próprios e fotos com Bolsonaro e a primeira-dama Michelle na ONU. Um dos motes que reproduz nas redes sociais: "Mais Ysani, menos Raoni". Por ora, ela não quer mais "papinho" com o "senhorzinho" cacique.


Fonte: https://www.bahianoticias.com.br/folha/noticia/53940-antes-de-ser-a-india-de-bolsonaro-ysani-curtia-feminismo-lgbt-e-jean-wyllys.html

Família e namorada tem insistido para que Lula aceite cumprir pena em casa



A família e a namorada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem insistido e querem que ele aceite a possibilidade de cumprir pena em casa, mas Lula segue resistente, segundo informações da coluna Painel da Folha de S. Paulo. 

Nesta sexta-feira (27) procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato assinaram documento  que pede progressão de regime para que o ex-presidente passe para o semiaberto. Os procuradores alegaram que Lula cumpre o requisito de bom comportamento.

A coluna ainda diz que Lula conversará na segunda (30) sobre o assunto.

A namorada de Lula, Rosangela da Silva, disse, por meio da assessoria do ex-presidente, que "não está pressionando para que ele aceite a domiciliar e apoia a decisão que ele tomar".

Fonte: https://www.bahianoticias.com.br/noticia/239991-familia-e-namorada-tem-insistido-para-que-lula-aceite-cumprir-pena-em-casa.html