quinta-feira, 19 de junho de 2025

Após nova alta, Selic só deve começar a cair em 2026, dizem analistas

Economistas e especialistas que acompanham a política monetária brasileira afirmam que, após a nova alta de 0,25 ponto percentual da Selic (taxa básica de juros), que foi de 14,75% para 15% ao ano nesta quarta-feira (18), os juros devem ser mantidos nesse patamar até o início de 2026.
 

"Até dezembro deste ano [a Selic] vai ficar em 15% e, na primeira reunião do ano que vem, vai começar uma queda", diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Ratings.
 

Segundo ele, nas próximas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária), mesmo com manutenção da taxa no mesmo patamar, as atas devem sinalizar que em algum momento um ciclo de queda de taxas vai começar.
 

Gabriel de Barros, economista-chefe da ARX Investimentos, também diz que espera que o juro fique estável em 15% pelos próximos seis meses.
 

Para ele, houve duas surpresas nesta quarta-feira: o aumento da taxa e o tom do comunicado do Copom, com frases que ele classificou como "hawkish" (um jargão do mercado financeiro para se referir a política rigorosa ou restritiva).
 

Barros chamou a atenção para um trecho do comunicado que diz que "para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado".
 

Na nota do Banco Central, a expressão "bastante prolongado" é usada três vezes.
 

Para André Perfeito, economista-chefe da APCE, isso significa pelo menos de seis a oito meses de manutenção do atual patamar de juros, "para ancorar as expectativas no período relevante, que é de 2026 para frente".
 

Segundo ele, a alta de 0,25 ponto percentual serve mais para sinalizar, porque na prática não faz tanta diferença se os juros são de 14,75% ou 15%.
 

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, afirma que pode ser que a taxa nominal não fique exatamente em 15% o tempo inteiro. Para o economista, agora inflação dos alimentos não está tão alta e os juros altos devem começar a fazer efeito no setor de serviços, mas pode haver uma mudança "a depender do que vier pela frente".
 

"O cenário é uma queda moderada no final do ano por causa desse cenário de inflação um pouco mais comedida, desde que não haja turbulência negativa no ano que vem."
 

Para ele, o BC provavelmente vai evitar mexer nos juros durante o período eleitoral do ano que vem. Por isso, as mudanças devem acontecer antes de as eleições realmente entrarem em pauta.
 

Em nota, a Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) afirmou que "a medida pode restringir ainda mais os investimentos produtivos, ampliar os custos de produção, reduzir a competitividade da indústria brasileira e levar a impactos negativos sobre a geração de empregos e a renda das famílias."
 

O presidente da entidade, Flávio Roscoe, afirma que o Banco Central e o governo têm adotado medidas antagônicas: enquanto a autoridade monetária faz uma política contracionista, o governo expande os gastos públicos.
 

"Não há alinhamento. O Banco Central aumenta as taxas de juros e o governo segue em ciclo de expansão para que o cenário econômico não piore. O dinheiro público é gasto em forças que se anulam. Por isso que não tem o efeito da taxa de juros."
 

Para Roscoe, a política monetária vai continuar restritiva enquanto não houver equilíbrio nas contas públicas.
 

Adriana Dupita, analista de mercados emergentes da Bloomberg, afirma que a decisão e a nota de hoje têm três grandes objetivos: desestimular o mercado a incorporar em seus projetos novas altas de juros e ao mesmo tempo evitar que os agentes financeiros projetem em seus investimentos que vai haver corte de juros no futuro próximo e, finalmente, dar credibilidade aos diretores do Copom.
 

O aumento de 0,25 ponto, segundo ela, é um custo baixo a se pagar para convencer o mercado financeiro de que vai haver cortes na curva de juros.
 

Antes da divulgação da nova Selic, a Bloomberg afirmava que após a decisão anterior, quando a taxa foi levada a 14,75%, o Banco Central foi vago em relação a qual seria o próximo passo, o que fez com que os analistas se dividissem a respeito de qual seria a ação.
 

Antes da reunião dos últimos dois dias, os economistas ouvidos pelo Banco Central esperavam que o Copom encerrasse a sequência de alta da Selic e mantivesse o índice em 14,75%
 

Por um lado, a taxa de inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em maio foi de 0,23%, uma desaceleração em comparação ao mês anterior, quando havia sido 0,43%. Ao mesmo tempo houve uma alta nos preços internacionais de petróleo.
 

Essa é a quarta decisão do Copom desde que Gabriel Galípolo assumiu a presidência do Banco Central.


Fonte: https://www.bahianoticias.com.br/folha/noticia/341968-apos-nova-alta-selic-so-deve-comecar-a-cair-em-2026-dizem-analistas