 O escritor Rubem Alves O escritor Rubem Alves
 
 
 
 Morreu na manhã deste sábado (19), às 11h50, o escritor Rubem Alves, aos 80 anos. A informação foi confirmada ao UOL pela assessoria de imprensa do Hospital Centro Médico de Campinas, onde Rubem estava internado desde o último dia 10 de julho.
 
 Segundo o hospital, Rubem veio a óbito por falência múltipla dos 
órgãos. Ele estava na UTI por apresentar insuficiência respiratória 
devido a uma pneumonia. O escritor, psicanalista, teólogo e educador era
 considerado um dos maiores pensadores contemporâneos da educação no 
Brasil.
 
 O velório de Rubem será realizado no Plenário da Câmara 
Municipal de Campinas a partir das 19h deste sábado. O corpo do escritor
 será cremado no Crematório Metropolitando Primaveras, em Guarulhos 
(Grande São Paulo).
 
 Rubem era casado com Lidia Nopper Alves e deixa três filhos.
 
 Biografia
 
 A trajetória de Rubem Alves foi em muito forjada e influenciada pela 
religião. Na juventude no Rio de Janeiro, encontrou no divino um abrigo 
para as maldosas brincadeiras das quais era alvo de seus colegas de 
escola, que o viam como um caipira de Minas Gerais – é que ele nasceu no
 dia 15 de setembro de 1933 em Boa Esperança, quando a cidade ainda se 
chamava Dores da Boa Esperança. Terminado o ginásio, foi estudar 
teologia no Seminário Presbiteriano do Sul. Depois de formado, voltou 
para seu Estado natal para atuar como pastor em meio a pessoas simples e
 pobres.
 
 Nesse momento, já forjava o pensamento que seria um dos
 pilares da Teologia da Libertação, movimento que propunha que a 
religião fosse interpretada e praticada sob a perspectiva dos mais 
pobres, questionando, por exemplo, a noção de pecado e baseando-se, 
principalmente, em princípios de amor e na liberdade. Acreditava que a 
religião deveria ser mais um meio para melhorar o mundo dos vivos do que
 para garantir algo às pessoas depois de mortas. Contudo, suas ideias 
não foram bem recebidas pela Igreja. Como o teólogo e escritor Leonardo 
Boff, seu colega e amigo, sofreria retaliações pelos pensamentos que 
expôs e pela postura que adotou.
 
 Depois de uma temporada de 
estudos em Nova York, voltou ao Brasil logo após o golpe militar de 1964
 e foi denunciado como subversivo pela Igreja Presbiteriana. Para 
escapar daqueles que o perseguiam, retornou aos Estados Unidos junto de 
sua família. Lá, à convite da United Presbyterian Church – EUA (a Igreja
 Presbiteriana estadunidense) e do presidente do seminário teológico de 
Princeton, escreveu sua tese de doutorado, intitulada "Towards a 
Theology of Liberation", na qual colocava no papel as ideias que 
tomariam corpo como movimento.
 Depois de uma temporada de 
estudos em Nova York, voltou ao Brasil logo após o golpe militar de 1964
 e foi denunciado como subversivo pela Igreja Presbiteriana. Para 
escapar daqueles que o perseguiam, retornou aos Estados Unidos junto de 
sua família. Lá, à convite da United Presbyterian Church – EUA (a Igreja
 Presbiteriana estadunidense) e do presidente do seminário teológico de 
Princeton, escreveu sua tese de doutorado, intitulada "Towards a 
Theology of Liberation", na qual colocava no papel as ideias que 
tomariam corpo como movimento. 
 
 
 Reprodução 
Capa de "A Escola que Sempre Sonhei que Pudesse Existir", de Rubem Alves  
 
 Retornou ao Brasil já Ph.D, quando rompeu com a Igreja Presbiteriana e 
ficou desempregado. Voltaria a trabalhar lecionando no ensino superior, 
na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Rio Claro, e, a partir de
 1974, seria professor da Unicamp até a sua aposentadoria.
 
 
Casou-se em 1959 com Lídia Nopper e juntos tiveram três filhos, Sérgio, 
Marcos e Raquel. Graças à garota, começou a escrever histórias para 
crianças. Dedicou-se à literatura e à poesia, entendia que ambas eram 
alimento para o corpo e agrado para a alma. Escrevendo realizou seu 
frustrado sonho de ser pianista. Via nas palavras o dom que lhe faltava 
para as notas musicais. Inspirado por Albert Camus, Nietzsche, Jorge 
Luis Borges, Roland Barthes, Fernando Pessoa e Manoel de Barros, dentre 
muitos outros, tornou-se um dos escritores brasileiros mais prolíficos e
 queridos.
 
 Sua obra conta com mais de uma centena de livros 
–divididos entre infantis, de crônicas, educação, religião, teologia e 
até biografia ("Gandhi: a Magia dos Gestos Poéticos") –, dentre os quais
 merecem destaque "Ostra feliz não faz pérola", segundo colocado na 
categoria "Contos e crônicas" do prêmio Jabuti de 2009, "O que é 
religião", livro de introdução ao pensamento religioso, "A alegria de 
ensinar", no qual discute o conhecimento e as formas de transmiti-lo de 
geração a geração, "A Escola que Sempre Sonhei", também sobre educação, e
 os infantis "A Pipa e a Flor", "A Menina e o Pássaro Encantado" e "A 
Volta do Pássaro Encantado". Entendia que deveria abordar temas de 
complexidade filosófica de modo simples e compreensível, para que fossem
 acessíveis ao maior número de pessoas possível.
 
 
 Reprodução 
Capa do livro infantil "A Menina e o Pássaro", de Rubem Alves  
 
 Na década de 1980, tornou-se psicanalista –dizia-se heterodoxo, pois 
acreditava que a beleza habitava as profundezas do inconsciente. Teve 
sua própria clínica até 2004 e de seus pacientes tirou inspiração para 
boa parte de suas crônicas. Em depoimento publicado no site de Rubem 
Alves, Leonardo Boff disse que o amigo "transformou-se em mestre com 
pontos de vista originais sobre os mais diversos assuntos. Ele sabe 
falar poeticamente do prosaico e prosaicamente do poético. Na minha 
opinião, é um dos que melhor maneja a língua portuguesa em nossa geração
 com uma elegância e leveza de estilo que nos causam verdadeiro 
fascínio".
 
 A formação humanista, o apreço pelas artes, o 
questionamento do poder e a carreira acadêmica transformaram Rubem Alves
 em um grande e respeitado educador – talvez o que melhor o defina na 
última parte de sua vida. Pensando sobre a educação, passou a questionar
 o modelo de ensino estabelecido, afirmava que a função do professor 
deveria ser a de provocar os alunos a procurarem respostas para as 
perguntas adotando uma posição mais próxima aos aprendizes, e não mais o
 adulto que simplesmente despeja conteúdos. O ambiente de aprendizado 
também deveria passar por mudanças profundas, aproximando-se mais das 
próprias casas das crianças, onde os cômodos serviriam como espécies de 
laboratórios íntimos que despertariam a atenção dos pequenos para as 
matérias a serem ensinadas. "A escola, querendo ou não, é um ambiente 
artificial. A vida não está acontecendo lá", declarou em entrevista à 
revista Educar para Crescer.
 
 Em seu site, escreveu "Minha 
estrela é a educação. Educar não é ensinar matemática, física, química, 
geografia, português. Essas coisas podem ser aprendidas nos livros e nos
 computadores. Dispensam a presença do educador. Educar é outra coisa. 
De um educador pode-se dizer o que Cecília Meireles disse de sua avó – 
que foi quem a educou: 'O seu corpo era um espelho pensante do 
universo'. O educador é um corpo cheio de mundos.... A primeira tarefa 
da educação é ensinar a ver. O mundo é maravilhoso, está cheio de coisas
 assombrosas. Zaratustra ria vendo borboletas e bolhas de sabão. A 
Adélia ria vendo tanajuras em voo e um pé de mato que dava flor amarela.
 Eu rio vendo conchas, teias de aranha e pipocas estourando... Quem vê 
bem nunca fica entediado com a vida. O educador aponta e sorri – e 
contempla os olhos do discípulo. Quando seus olhos sorriem, ele se sente
 feliz. Estão vendo a mesma coisa. Quando digo que minha paixão é a 
educação estou dizendo que desejo ter a alegria de ver os olhos dos meus
 discípulos, especialmente os olhos das crianças". Por essa colocar em 
prática essa linha de pensamento, receberia o título de professor 
emérito da Unicamp, em 1996, o prêmio "O educador que queremos", 
oferecido pela PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais), em 
2003. 
    
 Fonte:  
http://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2014/07/19/morre-aos-80-anos-o-escritor-rubem-alves.htm