terça-feira, 14 de abril de 2020

'Grande paralisação' levará economia global a pior recessão desde 29, diz FMI



O avanço vertiginoso da pandemia do coronavírus fez com que o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetasse um cenário econômico sombrio para este ano em todo o mundo.

Segundo relatório divulgado nesta terça-feira (14), a economia global vai sofrer retração de 3% em 2020, a maior desde a crise de 29, e a recuperação deve aparecer somente no ano que vem, ainda de forma parcial e bastante incerta.

No fim de 2019, a projeção do Fundo para o crescimento da economia mundial em 2020 era de 3,4%, ou seja, o tombo de mais de 6% é muito maior do que o registrado na crise financeira de 2008, por exemplo.

"É muito provável que este ano a economia global experimente sua pior recessão desde a Grande Depressão, superando a vista durante a crise financeira de dez anos atrás", diz o documento assinado por Gita Gopinath, economista-chefe do FMI.

"A 'Grande Paralisação' [Great Lockdown], podemos chamá-la, é projetada para encolher dramaticamente o crescimento global", completa o texto que equipara a magnitude da crise deste ano somente com a vivida na depressão que assolou o mundo na década de 1930.

Em seu Panorama da Economia Mundial, o Fundo traça um paralelo entre a pandemia e uma guerra ou crise política, e diz que ainda existe uma "severa incerteza" sobre a duração e a intensidade do choque que esse surto vai provocar.

Com as ponderações à mesa, o FMI afirma que é possível esperar a retomada no crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) mundial na casa dos 5,8% no ano que vem, mas que isso vai depender da implementação de medidas e políticas públicas em cada país.

Os danos econômicos vão atingir de economias ricas a países emergentes e em desenvolvimento, como o Brasil, mas estes serão os mais prejudicados.

Segundo o FMI, a economia brasileira deve ter queda de 5,3% em 2020, com crescimento previsto em 2,9% no ano que vem. Neste domingo (12), o Banco Mundial já havia divulgado projeções para uma baixa brusca do PIB do Brasil, na casa de 5%.

No relatório mais recente do FMI -em outubro de 2019, ainda antes da pandemia--, a previsão era de que a economia brasileira crescesse 2% em 2020. Se comparado a essa última expectativa, o tombo é de 7,3%.

Já a previsão para as economias desenvolvidas deve ser de queda de 6,1%, com recuperação prevista em torno de 4,5% no ano que vem.

Entre as duas maiores economias do mundo, EUA e China, o tamanho da queda será de grandes proporções e também seguem as dúvidas quanto à eficiência na recuperação de cada país.

Nas projeções do fim de 2019, o FMI esperava que os EUA crescessem 2,1% em 2020, enquanto a China chegasse a 5,8%.

Atuais líderes em casos confirmados e mortes por Covid-19, os EUA devem ter retração de 5,9% do PIB e voltarem a crescer no ano que vem na casa dos 4,7%.

Na origem da pandemia, os chineses ainda devem experimentar um crescimento positivo, de 1,2%, após terem alcançado cerca de 6% em 2019. A recuperação deve ser de 9,2% em 2020, segundo o FMI.

Uma das apostas do Fundo para a retomada da economia global após a crise de 2018, a Zona do Euro deve cair 7,5% e voltar com 4,7% em 2021.

A avaliação é que as características dessa crise não são iguais às de nenhuma outra e que, portanto, a reação também não deve ser a habitual, de incentivo a atividades de estímulo econômico, por exemplo.

Dessa vez, diz o Fundo, esse tipo de política é inclusive indesejável em alguns setores por causa das restrições e regras de distanciamento social impostas em diversos países.

Frente ao debate que tem oposto regras de isolamento e retomada econômica, o FMI lança um roteiro objetivo de enfrentamento à crise, com uma fase de contenção e estabilização e outra, de recuperação.

Nas duas etapas, saúde pública e economia têm papeis cruciais a desempenhar e as medidas de distanciamento "são fundamentais para preparar o terreno para a recuperação econômica", diz o órgão.

As projeções do FMI apontam à recuperação parcial no ano que vem considerando que a pandemia arrefeça no segundo semestre de 2020 e que os países consigam normalizar suas economias justamente com o suporte dessas políticas em diversas frentes.

O Fundo alerta, porém, que a recuperação mundial de 5,8% pode acontecer depois de uma queda brusca da atividade econômica, mas os números podem não chegar a tanto e o crescimento do PIB da maior parte dos países ainda vai permanecer abaixo dos níveis pré-pandemia.

Para que os países alcancem melhores resultados, dizem os economistas do FMI, a chave será a colaboração multilateral, e não só compartilhamentos de recursos médicos e conhecimento para o desenvolvimento de tratamentos e vacinas.

"A comunidade internacional também precisará intensificar a assistência financeira a muitos mercados emergentes e economias em desenvolvimento. Para aqueles enfrentando grandes pagamentos de dívidas, moratória e reestruturação podem precisar ser consideradas."

O Fundo afirma que é preciso aumentar as despesas de saúde para fortalecer a capacidade de resposta ao vírus e reduzir o contágio, além de desenvolver políticas econômicas que amorteçam o impacto do declínio das atividades e de uma desaceleração geral, que já é inevitável.

Facilidades de estímulo e liquidez, via bancos centrais, também podem contribuir, num movimento admitido pelo FMI de maior envolvimento do governo e dos bancos centrais na economia neste momento.

Exemplo claro desse tipo de atuação são os EUA. Em campanha à reeleição, o presidente Donald Trump teme que as consequências econômicas da pandemia atinjam seus planos de ser reconduzido à Casa Branca -mais de 16 milhões de americanos pediram acesso ao seguro-desemprego nas últimas três semanas e 73% dizem que a crise já diminuiu sua renda.

O presidente americano já anunciou o maior pacote de emergência fiscal da história dos EUA: US$ 2,2 trilhões que, entre outras medidas, conta com pagamento direto de dinheiro aos cidadão americanos, e estuda outros formas de estímulo no país.

As medidas de distanciamento social e bloqueios mais restritos na maioria dos países do mundo provocaram uma onda inicial de demissões e queda na produção cujo impacto e continuidade já foram observados pelos analistas.

No relatório do FMI, há a indicação de que o comércio entre os países, por exemplo, deve cair 11% este ano. Em 2020, voltaria a crescer 8,4%.

A atividade industrial e o preço das commodities também têm despencado --a primeira deve cair de maneira acentuada, em 10,2%, e voltar a crescer em 2021, em torno de 4,2%.

Apesar das projeções, o FMI prefere não ser taxativo sobre o alcance dos danos econômicos da crise. Ou seja, o quadro pode ser pior.


Fonte: https://www.bahianoticias.com.br/folha/noticia/75279-grande-paralisacao-levara-economia-global-a-pior-recessao-desde-29-diz-fmi.html

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