Dois dias após ser afastada definitivamente pelo Senado, por
61 votos a 20, a ex-presidente Dilma Rousseff concedeu nesta
sexta-feira (2) uma entrevista à imprensa internacional na qual
classificou como “estranhíssimo” o fatiamento da votação do processo de
impeachment, que lhe deu habilitação para, mesmo destituída, ocupar
cargos públicos nos próximos oito anos. “Essa dupla votação é
estranhíssima. Vota de uma vez de um jeito e vota de uma vez de outro.
O
segundo voto é daqueles que não consideram que de fato cabia uma
punição. São senadores que estavam indecisos, sofreram pressões, mas que
votaram no sentido que eu não teria a inabilitação dos meus direitos
políticos por oito anos. Eu não acho que atenua ou não atenua o que
fizeram. Acho que são detalhes e decorrências do que fizeram”, disse a
petista. Na primeira entrevista após o afastamento, Dilma não defendeu a
tese de que a decisão de não suspender seus direitos políticos seja
aplicada no caso do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “Não
suspenderam meus direitos, mas fazer o mesmo com Eduardo Cunha? Não”,
afirmou, categórica. Dilma voltou a chamar o processo de impeachment de
“golpe” e a dizer que não cometeu crime de responsabilidade. “Eu acho
gravíssimo o que aconteceu aqui, tem um impeachment sem crime, afasta
uma pessoa inocente do cargo. Lamento profundamente que, ao mesmo tempo,
esse seja um processo que tenha um impulso para se desnudar, que é uma
coisa estarrecedora”. Ao lado do advogado e ex-ministro, José Eduardo
Cardozo, Dilma afirmou que a “democracia foi julgada junto comigo”. “O
fato, gravíssimo, é que me condenaram à pena de morte política, ao me
tirar da Presidência. As pessoas aqui no Brasil têm esse hábito,
‘esqueçam o que escrevi, esqueçam o que falou’. Aqui a incoerência é
muito grande. Acho gravíssimo que o programa que não é o eleito pelas
urnas seja executado nos próximos anos. Tenho certeza que a democracia
foi julgada comigo. Espero que nós todos saibamos reconstruí-la”,
lamentou a ex-presidente.
A petista defendeu, ainda, mudanças na Lei do
Impeachment de 1950, que, segundo ela, “permitem esse tipo de golpe
parlamentar”. “Acho que tem que ser mudada essa lei. Somos uma
democracia jovem, que não pode passar pelo fato de que, de todos os
presidentes eleitos, só quatro cumpriram integralmente seu mandato”,
opinou. A ex-presidente também voltou a acusar Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
de, enquanto presidente da Câmara, tentar “desestabilizar” seu governo.
“Todos os projetos que enviamos para a Câmara, ou foram negados, ou
aceitos parcialmente, as chamadas pautas-bomba. Por parte do presidente
da Câmara, que é não o coadjuvante, mas o grande articulador do meu
impeachment, houve uma grande tentativa de desestabilizar meu mandato.
No ano de 2016, foi pior ainda. A Câmara parou. Deterioram a situação
econômica para que servisse de caldo, de expansão para o vírus do
impeachment”, bradou. Questionada sobre quais planos teria para o
futuro, a ex-presidente disse que ainda não tem nada “muito elaborado”,
mas descartou se afastar da política. “Não vou fazer planos de hoje para
amanhã, mas eu sempre fiz política na minha vida. Não tenho hoje nenhum
projeto muito claro ou já elaborado, mas tenho a disposição de
contribuir, dentro das minhas possibilidades, para que o Brasil seja um
país desenvolvido e, sobretudo, mais democrático”, concluiu.
Fonte: http://www.bahianoticias.com.br/noticia/195557-em-entrevista-dilma-diz-que-fatiamento-de-votacao-do-impeachment-e-estranhissimo.html
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