Mostrando postagens com marcador psicologia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador psicologia. Mostrar todas as postagens

sábado, 16 de setembro de 2023

9 em cada 10 cidades têm menos de um psicólogo por mil habitantes no SUS

Nove em cada dez municípios brasileiros têm menos de um psicólogo e psicanalista no SUS a cada mil habitantes. A falta de profissionais restringe o acesso ao atendimento psicológico e ocorre apesar do aumento de transtornos, o que pode agravar o sofrimento mental da população.
 

O Brasil tem cerca de 439 mil psicólogos, segundo o CFP (Conselho Federal de Psicologia), o que resulta na média de 2 profissionais a cada 1.000 habitantes. Na rede pública, Iaras (SP) e Olaria (MG) são as únicas cidades a alcançar essa taxa.
 

São 5.050 cidades com cifra abaixo de 1. Os dados apontam que não há registros oficiais da presença de psicólogos na rede pública em pelo menos 400 cidades.
 

Em nível nacional, a média de psicólogos na rede pública a cada mil habitantes cai para 0,18. Na Inglaterra, cujo sistema público de saúde inspirou o SUS, a taxa é de 0,52, segundo dados de 2023 do Serviço Nacional de Saúde.
 

As informações são do Instituto República.org, dedicado a aprimorar a gestão de pessoas no serviço público brasileiro, com base em dados de janeiro de 2021 do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde.
 

A distribuição de Caps (Centros de Atenção Psicossocial) também é baixa nos estados. Dezesseis têm média de centros abaixo da nacional, e sete têm menos de um Caps a cada 100 mil habitantes, segundo dados de 2022 do Ministério da Saúde.
 

A pasta afirma que aumentou em 27% o orçamento da rede de assistência à saúde mental no SUS em comparação ao ano passado, chegando a R$ 200 milhões. No próximo ano, o investimento será de R$ 414 milhões.
 

Só os mais ricos tinham acesso a psicólogos quando a profissão foi regulamentada no Brasil, em 1962. Segundo Pedro Paulo Bicalho, presidente do conselho de psicólogos, isso ocorria porque o atendimento em consultório privado era o único modelo de atuação.
 

"Era uma psicologia elitista, de escutar os problemas de quem podia pagar", afirma.
 

A introdução da área às políticas públicas ocorreu ao longo dos anos 1980, com os avanços do movimento antimanicomial. Em 2001, a reforma psiquiátrica mudou a forma de tratar pessoas com transtornos mentais, dando início ao fechamento de hospícios e, mais tarde, levando à criação dos Caps.
 

A Raps (Rede de Atenção Psicossocial) foi instituída em 2011, englobando os Caps, as UBS (Unidades Básicas de Saúde) e outros pontos de atenção à saúde mental.
 

Mas o reduzido número de psicólogos persiste por diversos fatores, incluindo remuneração e estrutura profissional, segundo Mariana Rae, coordenadora de projetos do Instituto Cactus, organização dedicada à saúde mental.
 

Muitas vezes, faltam condições de trabalho, como plano salarial, de carreira e mecanismos para o psicólogo se desenvolver. Esses mecanismos incluem suporte emocional, uma vez que o processo terapêutico é longo e exige uma dedicação extensiva.
 

"Não é uma coisa pontual, em que uma sessão resolve o problema da pessoa, e isso também diminui a disponibilidade para atender mais gente", diz Rae.
 

Hoje, quem deseja uma consulta com psicólogo deve ir a uma UBS relatar seu caso ao clínico geral, responsável pelo encaminhamento.
 

O número de pessoas que conseguem ser atendidas na psicologia é restrito, devido à alta demanda e ao quadro reduzido de profissionais. Assim, quem tem acesso está, em geral, em um estágio mais avançado do problema.
 

"A gente espera a pessoa adoecer muito gravemente para começar a oferecer esse serviço, quando precisávamos dar o cuidado enquanto ela ainda tem autonomia e consegue sair de casa", diz o presidente do CFP.
 

Mesmo quando o paciente é encaminhado, a fila para ser atendido costuma ser longa. No Rio, por exemplo, o tempo médio de espera para consulta com psicólogo é de três meses e meio, segundo dados deste ano do Sistema de Regulação da cidade.
 

Larissa Weber é psicóloga em uma clínica do Caps em Guaíba (RS), na região metropolitana de Porto Alegre. Na unidade, a equipe discute sobre a possibilidade de atender quem não foi encaminhado por um médico da UBS e está em estágio menos grave.
 

Ela diz que o centro oferece atendimento de acordo com o caso, considerando fatores como a rede de apoio e as condições socioeconômicas do paciente.
 

"Há uma lacuna de pessoas que se beneficiariam de um atendimento psicológico, mas não conseguem ter acesso. O paciente até pergunta: 'Então tenho que piorar para ser atendido?'", afirma.
 

Segundo Larissa, a cidade passou a ter psicólogos em alguns ambulatórios para casos mais brandos, o que pode ampliar o acesso. "Depende do município ter esse entendimento de colocar o psicólogo como prioridade", diz.
 

Os Caps cuidam mais dos casos graves, quando a doença afeta a autonomia. Isso inclui, por exemplo, o paciente que não consegue levantar da cama por ter uma depressão severa. Quem sofre com abuso de álcool ou drogas também é atendido.
 

No centro, o paciente tem acesso a consultas individuais, participa de grupos terapêuticos e é acompanhado por outros profissionais de saúde, incluindo psiquiatras.
 

Apesar dos benefícios, os Caps ainda são mal distribuídos pelo país, segundo Caroline Ballan, pesquisadora de políticas públicas de saúde mental no Instituto de Estudos Avançados da USP.
 

A regra é que, em cidades com 20 mil habitantes, deve haver pelo menos um centro de atendimento. Mas, na prática, muitos municípios carecem dessas estruturas.
 

O quadro se reflete na distribuição dos centros por estado. A média de Caps por 100 mil habitantes em São Paulo (0,99), no Distrito Federal (0,42) e no Rio de Janeiro (0,88) é menor do que a nacional (1,33), segundo dados de 2022 do Ministério da Saúde.
 

"Estamos muito longe do número ideal, então não temos cobertura. Isso mostra a precariedade do atendimento quando chega na ponta", afirma Ballan.
 

CAPACITAÇÃO DE PROFISSIONAIS PODE SER SOLUÇÃO
 

Em geral, profissionais da UBS são os primeiros a atender pacientes com transtornos. Por isso, os especialistas defendem que uma capacitação sobre saúde mental pode melhorar o acolhimento.
 

Segundo Mariana Rae, do Instituto Cactus, os agentes comunitários, por exemplo, podem exercer o papel de escuta e facilitar o encaminhamento para os profissionais especializados.
 

Ela cita o caso do Banco da Amizade, um projeto do Zimbábue que reúne pessoas de comunidades locais para atender pacientes com algum sofrimento mental. Rae diz que a taxa de sucesso é alta, com melhora do quadro de psicopatologias.
 

"Mas não é uma forma de dizer que a gente não necessita de um especialista. Pelo contrário: ao fazer isso, dedicamos esse profissional para aqueles casos que realmente precisam."
 

Em nota, o Ministério da Saúde afirma que o atendimento em saúde mental tem caráter multidisciplinar. Segundo a pasta, a atenção primária realizou 10,9 milhões de atendimentos em saúde mental no primeiro semestre, e 28 Caps foram habilitados. O ministério diz que, embora financie programas, estados e municípios estabelecem suas prioridades.
 


 

CONHEÇA LOCAIS COM MENORES TAXAS DE PSICÓLOGOS E DE CAPS
 


 

Cidades com menores cifras de psicólogos por mil habitantes se concentram no Norte e no Nordeste; mais da metade está no Pará
 


 

Portel (PA): 0,014
 

Acará (PA): 0,015
 

Muaná (PA): 0,016
 

Monte Alegre (PA): 0,016
 

Tutóia (MA): 0,018
 

São Bento do Una (PE): 0,020
 

Brejo da Madre de Deus (PE): 0,020
 

São Mateus do Sul (PR): 0,022
 

Pacajá (PA): 0,022
 

Nossa Senhora da Glória (PA): 0,024
 


 

Caps têm menor concentração em estados do Norte, Sudeste e Centro-Oeste do país; Nordeste lidera a lista com maior número de centros
 

Distrito Federal: 0,42
 

Amapá: 0,57
 

Amazonas: 0,59
 

Espírito Santo: 0,8
 

Acre: 0,88
 

Rio de Janeiro: 0,97
 

São Paulo: 0,99
 

Pará: 1,07
 

Goiás: 1,12
 

Mato Grosso do Sul: 1,13


Fonte: https://www.bahianoticias.com.br/folha/noticia/243850-9-em-cada-10-cidades-tem-menos-de-um-psicologo-por-mil-habitantes-no-sus

sexta-feira, 30 de junho de 2023

Estudo aponta que 26,8% dos brasileiros têm diagnóstico de ansiedade

Dados do Covitel 2023 (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia) divulgados nesta quinta-feira (29) indicam que 26,8% dos brasileiros receberam diagnóstico médico de ansiedade. 

 

A maior parcela deste quantitativo, 31,6%, é jovem, com idade entre 18 e 24 anos. As prevalências são maiores no Centro-Oeste (32,2%) e entre as mulheres (34,2%).

 

O levantamento aponta ainda que 12,7% relatam já terem recebido diagnóstico médico para depressão. As maiores prevalências estão na região Sul (18,3% de pessoas com depressão), entre as mulheres (18,1% delas já tiveram diagnóstico), e na faixa etária de 55 a 64 anos (17%), seguida pelos jovens de 18 a 24 anos (14,1%).

 

Conforme publicou a CNN Brasil, foram ouvidas 9.000 pessoas, de todas as regiões do Brasil. A coleta de dados foi feita entre os dias 2 de janeiro e 18 de abril por telefone. 


Fonte: https://www.bahianoticias.com.br/saude/noticia/30645-estudo-aponta-que-268-dos-brasileiros-tem-diagnostico-de-ansiedade

domingo, 19 de junho de 2022

Lapsos de memória podem não significar doença mental, diz psiquiatra

Quem nunca passou pela situação de ao entrar em outro ambiente esquecer o que ia fazer ali? Esse lapso de memória é chamado de “efeito porta”, termo criado pelo professor de psicologia e ciências cognitivas da Universidade de Sheffield, na Grã-Bretanha, Tom Stafford. Ele considera que a memória falha, literalmente, ao se cruzar uma porta.

 

De acordo com a psiquiatra Danielle H. Admoni, a memória recente está ligada à atenção. “Se a gente está focado em muitas coisas, a nossa atenção diminui e, consequentemente, a nossa memória recente também”, explica a professora da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp).

 

Segundo Danielle, o simples fato de a pessoa sair de um ambiente e pensar em outros assuntos vai fazendo com que ela tenha vários focos de atenção. Com isso, acaba esquecendo o foco de atenção primária. Para ter esses lapsos de memória, não é necessário que a pessoa esteja em um estado cognitivo vulnerável, com a mente muito sobrecarregada, mas que haja uma interposição de focos de atenção.

 

Situações de estresse ou quando a pessoa está com muitos problemas na cabeça para resolver, entretanto, aumentam as chances do “efeito porta”. “A gente está com a cabeça em mil outras coisas, tirando a nossa energia, e aquilo diminui a atenção para o que a gente está fazendo, com mil problemas, e não consegue focar no que está fazendo ali, naquele momento”.

 

Estudos feitos na Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos, e na Bond University, na Austrália, comprovaram que quando passamos por uma porta, podemos ter lapsos de memória em relação a objetos, a coisas materiais. Um exemplo típico é aquele em que a pessoa está na cozinha lavando louça e pensa em ir ao quarto pegar um fone para ouvir música. Ao chegar no quarto, contudo, ela esquece por completo o que ia pegar naquele ambiente. Desiste e volta para a cozinha, onde continua a lavar a louça, sem ouvir a música que desejava.

 

“O simples ato de entrar ou sair por uma porta representa uma espécie de limite de evento na mente. Quando você muda de ambiente, muda também o foco de atenção, compartimenta a memória e a lembrança se torna mais difícil”, explica  o psiquiatria pela Unifesp, Adiel Rios, pesquisador no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

 

MANTENDO O FOCO

Segundo a psiquiatra e professora da Unifesp, há maneiras indiretas de se manter a atenção naquilo que era primário. “Um bom jeito é anotar, seja em uma agenda virtual ou de papel, colocar um alarme, por lembretes de cores diferentes para os compromissos. Porque, ao bater o olho, a gente lembra que tem que pagar a conta xis, levar o filho a tal hora na escola. A nossa cabeça já não dá mais conta de guardar tanta informação. Então, a gente tem que ter um recurso externo para isso, para justamente lembrar. Na hora que você olha aquilo, você lembra de alguma coisa que esqueceu, porque teve outros focos de atenção”.

 

De maneira geral, para manter a saúde mental em dia, é preciso procurar diminuir o estresse e ter tempo para coisas prazerosas. “Quando a gente está só pensando em trabalho, problemas que não consegue resolver, isso vai tirando a nossa energia. A gente tem que ter focos de distração também, como hobbies”, enfatizou Danielle.

 

A melhora da atenção e da memória também está fortemente ligada à atividade física e a uma boa noite de sono. “Ter um estilo de vida saudável, tentar não se sobrecarregar e recorrer a recursos externos. Tudo isso acaba ajudando a gente a não esquecer as coisas no dia a dia”.

 

Ainda segundo Danielle, a forma de ver o mundo e de responder aos conflitos tem grande influência na saúde mental. Quanto mais foco a pessoa dá a um determinado problema, mais o corpo responde com sintomas de estresse. Portanto, uma maneira de amenizar os problemas é desenvolver formas saudáveis de lidar com as próprias emoções. “Nesse sentido, a psicoterapia surge como uma aliada para o autoconhecimento, o autocontrole e a inteligência emocional”, destacou.

 

TÉCNICAS

Para trabalhar tanto a atenção como a memória recente, especialistas indicam várias técnicas para evitar os lapsos de memória. Fazer uma lista do que deseja lembrar ou ainda agrupar informações importantes em uma sequência temporal, com começo, meio e fim. É importante evitar que outro pensamento ocupe sua mente enquanto você estiver realizando uma tarefa. Jogos como xadrez, quebra-cabeça e atividades como palavras-cruzadas proporcionam uma melhora perceptível à memória.

 

Outra técnica interessante é assistir a um episódio de uma série ou um filme e anotar em seguida o maior número de detalhes que lembrar ou ouvir uma história e contar a alguém da forma mais fiel possível.

 

Ler também é uma atividade importante, já que a leitura proporciona exercitar a imaginação, o raciocínio e a memorização. Também é possível resumir em texto o que foi lido ou estudado.

 

“A meditação também desempenha um papel importante no equilíbrio pessoal e contribui para o relaxamento e o descanso em um nível mais profundo, podendo ser praticada em casa, inclusive numa pausa do trabalho”, afirmou Adiel Rios.

 

DOENÇA MENTAL

Para a professora da Unifesp, os lapsos de memória, ou “efeito porta”, não significam que a pessoa tenha uma doença mental. “Mas é algo para ficar de olho, porque é incômodo quando você não consegue lembrar as coisas. Isso traz ansiedade e angústia”, completa.

 

No dia a dia, as pessoas costumam ficar expostas a uma grande quantidade de estímulos, o que leva a realizar várias tarefas simultaneamente. Entretanto, segundo Danielle, o cérebro não está acostumado a receber tantos estímulos e a processar inúmeras informações de uma vez só.

 

“O resultado é o esgotamento mental, podendo saturar o córtex cerebral, gerando uma mente hiper pensante, agitada, impaciente, com bloqueio criativo, baixo nível de tolerância e, claro, prejuízos na memória”.

 

Quando se tem uma situação de sobrecarga recorrente, é preciso pensar em novas estratégias e procurar um profissional de saúde mental. Terapeutas e psicólogos podem ajudar em casos mais brandos. Em casos mais graves, como o de pessoas com idade avançada, isso pode ser um sinal inicial de demência, e é necessário o auxílio de um psiquiatra.

 

Com informações da Agência Brasil.

Fonte: https://www.bahianoticias.com.br/saude/noticia/29229-lapsos-de-memoria-podem-nao-significar-doenca-mental-diz-psiquiatra.html 

sábado, 17 de abril de 2021

'Distorção cognitiva': Psicologia tenta explicar comportamentos autodestrutivos na pandemia

As máscaras são comprovadamente eficazes na proteção contra a infecção pelo Sars-Cov-2, que é um vírus de transmissão respiratória. E mesmo passado mais de um ano desde o inicio da pandemia no Brasil, e também das recomendações para que a população as utilizasse, ainda é comum ver pelas ruas quem não utilize ou use de forma errada o Equipamento de Proteção Individual (EPI).

 

O comportamento dessas pessoas é alvo de estudos científicos, e conceitos da psicologia tentam explicar esse fenômeno.

 

Marcus Vinicius Alves, psicólogo e professor doutor da UniFTC, explica que o comportamento das pessoas está em muitos casos associado ao sistema de crenças delas. Diante disso, alguns indivíduos vão ser muito mais influenciáveis em termos de personalidade, de acordo com a percepção de risco que têm do mundo.

 

“Por exemplo: se sua percepção de risco é inferior, é mais fraca do que sua concepção de liberdade. Para algumas pessoas a liberdade e a tomada de decisão para as coisas é mais importante do que o risco que elas vão ter”, explicitou ao tratar do uso de máscaras na pandemia da Covid-19.

 

O professor ainda ressalta que questões políticas também influenciam esses sujeitos. Nesse ponto, o especialista cita como exemplo o comportamento do presidente Jair Bolsonaro, que tem uma postura de minimizar a gravidade da pandemia da Covid-19, uso de máscaras e prática de distanciamento social, todos os fatos que a ciência já provou serem eficazes durante a crise sanitária. “Tem um grupo de Brasília que vai lançar um trabalho agora mostrando que pessoas que têm ideias políticas mais conservadores, mais relacionadas a por exemplo o que o presidente está falando, acreditam mais no presidente, vão se comportar com o não uso da máscara. Isso está relacionado também com essa ideia da personalidade, da percepção de risco, mas também com influência política”, analisou Marcus Vinicius. 

 

Um dos conceitos que podem ser aplicados para compreender o comportamento em relação ao não uso de máscaras é o de “dissonância cognitiva”, que é um tipo de distorção da realidade.

 

O psicólogo explica que essa teoria também está baseada no sistema de crenças das pessoas, que incluem o que alguém encara como certo e errado em relação ao mundo, comportamento e relações. Segundo Marcus Vinicius, os seres humanos que sofrem com distorção cognitiva têm um sistema de crença muito fixo sobre algumas regras. “Quando o mundo acaba colocando essas crenças à prova e falando 'olha, isso aqui está errado', a tendência dessas pessoas não é mudar o comportamento, é mudar a justificativa”, esclareceu.

 

Ainda conforme o professor, essas pessoas fazem isso de modo automático e muitas vezes não se dão conta do próprio comportamento. “Ela nem acreditam que vão ficar doentes. Outras acreditam que por serem jovens, por terem histórico de atleta, que é uma gripezinha. Muda até a forma das pessoas perceberem o mundo para não atingir essas crenças”, comentou Marcus Vinicius.

 

“Quando a gente fala por exemplo 'olha, não fuma cigarro' ou 'não dirija bebendo', aí ela vai pensar 'ah, mais eu nunca tive problema com isso', 'Não tem problema, eu sou um bom motorista'. Entende como é mais ou menos essa distorção da realidade que a pessoa tem na cabeça?”, exemplificou.

Fonte: https://www.bahianoticias.com.br/saude/noticia/26404-distorcao-cognitiva-psicologia-tenta-explicar-comportamentos-autodestrutivos-na-pandemia.html 

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Pesquisa vai analisar sonhos de brasileiros durante a pandemia

Pesquisadores de quatro universidades iniciaram um projeto para analisar sonhos de pessoas durante a pandemia do novo coronavírus. O objetivo é analisar, sob a ótica da psicanálise, as alterações diante do cenário excepcional para compreender as consequências psíquicas deste momento.
A equipe responsável pelo estudo, batizado de Sonhos em Tempo de Pandemia, reúne docentes das universidades federais de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul e do Rio Grande do Norte, além da Universidade de São Paulo. Eles optaram por usar a rede social Instagram para contatar voluntários.
Um perfil foi criado - @sonhosconfinados - onde interessados podem acessar um formulário e deixar seus relatos. Não há remuneração pela participação na investigação. Não é preciso dar o nome, sendo permitido o uso de pseundônimos.
Para além dos relatos de sonhos, que podem ser feitos livremente, o questionário pergunta como a pessoa interpreta o sonho e abre espaço para que o participante fale de situações e sensações percebidas, ou se os sonhos mudaram a partir do isolamento.
Também é oferecida a possibilidade ao participante de conversar com algum dos pesquisadores que compõem a equipe, por telefone ou Whatsapp, para um relato que permita apresentar as informações de forma mais aprofundada.
“O sonho é um laboratório em que a mente trabalha, elabora, sem as censuras da vida consciente, a experiência dos sujeitos. Nossos medos, nossas angústias, desejos, frustrações são encenados, como se fossem projetados numa tela de cinema, ou em várias”, afirmou o coordenador da pesquisa na UFMG, professor Gilson Iannini, do Departamento de Psicologia, em entrevista ao site da instituição.
Edição: Maria Claudia
Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-06/pesquisadores-vao-analisar-sonhos-de-pessoas-durante-pandemia

domingo, 24 de maio de 2020

Situação de stress social pode ser gatilho para quem tem esquizofrenia

Neste domingo (24), se celebra o Dia Mundial da Pessoa com Esquizofrenia, doença multifatorial que acomete cerca de 1% da população brasileira e mundial, o que significa dois milhões de pessoas no Brasil e em torno de 80 milhões em todo o globo. 
Segundo o psiquiatra Cristiano Noto, da Escola Paulista de Medicina da Universidade de São Paulo (Unifesp), o isolamento social pode ser um gatilho para quem tem a doença. “Ninguém se torna portador de esquizofrenia por conta da pandemia. Mas, seguramente, uma situação de estresse social pode contribuir [para uma crise]”. 
Segundo Noto, a esquizofrenia tem várias causas. A principal delas é o fator genético, embora fatores ambientais contribuam também para o desenvolvimento da doença, que enfrenta ainda muito preconceito. Frases do tipo “essa política é para esquizofrênicos”, por exemplo, mostram como a doença é enxergada com muito estigma em relação aos pacientes, citou o psiquiatra da Unifesp.

Tratamento multidisciplinar

Cristiano Noto afirmou que o tratamento para esquizofrenia é também complexo e deve ser multidisciplinar, envolvendo profissionais como médicos, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, enfermeiros. O tratamento se divide em farmacológico, que inclui medicamentos antipsicóticos, e psicossocial, para ajudar o paciente a se adaptar às limitações da doença e vencê-las.
O especialista indicou que como qualquer transtorno mental, a esquizofrenia traz muito sofrimento ao paciente. Por isso, é comum que essas pessoas acabem, em situações extremas, como em tentativa de suicídio. 
Dependendo de como é feito o tratamento, a pessoa com esquizofrenia pode ter uma vida normal e, inclusive, casar e ter filhos. “Se ela está fazendo o tratamento, está bem, está estável, tem total condição de ter uma vida normal. Trabalhar, constituir família. Não tem nenhuma contra-indicação em relação a isso. Muito pelo contrário. A gente sempre estimula que os pacientes tenham uma vida produtiva, uma vida construtiva”, disse Noto.
O psiquiatra admitiu, por outro lado, que alguns pacientes não conseguem atingir isso, seja porque não fazem tratamento de forma adequada, seja porque os casos deles são mais severos. Observou, entretanto, que “em regra, sim, eles podem ter uma vida normal”.

Violência

Outro mito ligado à esquizofrenia diz respeito à violência. Cristiano Noto informou que esquizofrênicos em crise até podem se envolver em casos de violência e agressividade mas, em geral, essas pessoas acabam sendo mais vítimas do que autoras de violência, justamente por se colocarem em situações de vulnerabilidade. Noto salientou que quando a pessoa está medicada, está em uma fase estável, ela pode ter a mesma chance de qualquer outra de ter um caso de agressividade.
A doença costuma mostrar os primeiros sintomas no final da adolescência e começo da vida adulta, manifestando-se nos homens a partir dos 18 anos de idade e, nas mulheres, a partir dos 25 anos. 
O professor da Unifesp recomendou às famílias que tenham parentes com esquizofrenia que busquem ajuda e tratamento e sempre estimulem seus familiares a continuar o tratamento e o processo de melhora que, muitas vezes, pode ser longo. “Se a pessoa tem crises, ela vai conseguindo as conquistas passo a passo. Por isso, é muito importante a família para suportar e ajudar essas pessoas a irem adiante”.
A participação do paciente em atividades de lazer ou mesmo rotineiras deve ser estimulada, de modo a abandonar os sintomas negativos que o impelem a deixar de fazer as coisas. “Quanto mais a gente estimular ela para tudo, para esporte, lazer, estudo, trabalho, quanto mais ela conseguir fazer, melhor, mais vai ajudá-la na doença”.

Transtornos

Segundo o coordenador e professor do curso de pós-graduação em Psiquiatria da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Jorge Jaber, a esquizofrenia acomete dois a cada 100 brasileiros e é caracterizada por grande sofrimento em termos comportamentais, com transtorno na capacidade de ter sentimento, nos pensamentos que são persecutórios, acompanhados de alucinações visuais e auditivas, muitas vezes, que evoluem para perda da capacidade intelectual ao longo da vida.
Segundo Jaber, a doença está cada vez mais ligada ao uso de bebidas alcoólicas, e de substâncias ilícitas, como as drogas vendidas irregularmente no país. Da mesma forma que afirmou Cristiano Noto, o psiquiatra da PUC-RJ disse que a esquizofrenia resulta de transmissão genética, hereditária, e é acompanhada pelo surgimento de outras doenças, como obesidade, diabetes, problemas clínicos gerais. “Porque esses pacientes, em virtude da doença básica, perdem a capacidade de cuidar deles mesmos”.
A notícia boa, segundo Jaber, é que a partir das últimas décadas do século passado surgiram medicamentos melhores que podem atingir evolução no século atual de grande eficácia na manutenção da normalidade desses pacientes. “Então, hoje em dia, é possível tratar uma pessoa com esquizofrenia com evolução excepcional”. Jaber destacou, porém, a necessidade de haver serviços de internação emergencial para períodos em que o paciente tenha alguma piora ou crise. “Em duas ou três semanas, pode voltar à vida completamente normal, sempre que mantiver o tratamento ambulatorial, em consultório”.