
Mas não é porque a presidente e o governo estão sendo muito mal
avaliados que devem cair. No Brasil, ao contrário de outros países, como
a Venezuela (sim, a Venezuela) não existe a democrática instituição da
revogação de mandatos. A oposição não conseguiu, por mais que venha se
esforçando, encontrar uma justificativa constitucional e legal para que o
Congresso decrete o impedimento da presidente. E, como vivemos no
presidencialismo, não há outro caminho para se derrubar um governo, a
não ser o golpe de Estado – violento ou “institucional”, nos modelos
paraguaio e hondurenho.
Por isso, agora, a oposição pede a renúncia de Dilma. Até o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, tucano geralmente cauteloso,
aderiu à nova onda, trazida pelas manifestações de domingo. Mas todos
eles sabem que Dilma não vai renunciar e que estão apenas fazendo jogo
de cena para agradar ao público, exercendo o velho direito de travar a
batalha política para desgastar o governo e se colocar como alternativa
de poder.
Tucanos e demais partidos e políticos da centro-direita e da direita
tentam apenas dar alguma consequência às manifestações, para que as
pessoas que foram às ruas não se sintam fraudadas e abandonadas pelos
políticos – dos quais, aliás, a maioria não gosta. Como políticos não
são ingênuos, sabem que as pessoas que saíram às ruas representam o
segmento mais radicalizado das classes médias de estrato mais elevado –
quer dizer, os mais ricos. E que dentre esses estavam direitistas
empedernidos e fascistas declarados. Como a mulher que lamentava não
terem matado “todos” em 1964. Ou os que agrediram e perseguiram petistas
e quem usava roupa vermelha. Entre os manifestantes também estavam
corruptos conhecidos e ainda desconhecidos, fazendo o discurso da
moralidade com a maior cara de pau. E havia os que exaltavam corruptos,
até em carro de som, talvez querendo uma frente ampla com os corruptos
deles, contra os corruptos do outro lado.
Pelo que mostram as pesquisas, muitos insatisfeitos com o governo e
com Dilma não foram às ruas. Por diversos motivos. Uns, para não se
confundirem com os radicalizados, bem ou mal intencionados, e com os
fascistas. Outros porque, embora descontentes, não acham que a saída é a
derrubada do governo recentemente eleito. Não querem substituir o que
existe hoje por Temer, Renan, Cunha, Caiado, Agripino, Aécio ou outro
tucano dando as cartas.
E muitos, os mais pobres, não foram porque as manifestações eram
claramente seletivas, de uma turma que não é a deles. Não se sentiriam
bem no meio daquela classe média com viés de alta e das direitas festiva
e raivosa. E, além de tudo, era longe. A turma da Zona Sul do Rio não
quis fazer a manifestação em Madureira, claro – muito calor, sem praia,
gente pobre.
Mas nada, a não ser alguns atos de violência e algumas declarações
nazistas, desqualifica as manifestações e tira dos insatisfeitos o
direito de realizá-las. É bom que a população se mexa, pois há muita
coisa errada que precisa ser corrigida. Cada ato político, porém, tem
seu peso real e o peso que os protagonistas, de um lado ou de outro,
querem lhe dar. O que vale é o peso real.
O governo não deve minimizar a insatisfação, que é concreta e vai
além dos que saíram às ruas. A oposição não deve maximizar os protestos,
que foram segmentados e não refletem a disposição da maioria dos
brasileiros. Pelo que aconteceu no domingo, o governo não vai ser
derrubado. Nem Dilma vai renunciar.
Fonte: http://www.brasil247.com/pt/blog/heliodoyle/193227/N%C3%A3o-haver%C3%A1-impeachment-nem-ren%C3%BAncia-de-Dilma.htm
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