Malga di Paula, viúva do humorista Chico Anysio, fez
um longo desabafo nas redes sociais sobre o que chama de "punhalada que
nunca deixou de sangrar", às reprises da "Escolinha do Professor
Raimundo", no Vídeo Show, da Globo.
A viúva destacou que Chico nunca superou o
fato de o programa ter acabado, em 2001. Malga sente muita saudade do
humorista e que sempre era a primeira a ler seus textos de novos
projetos.
Ainda no desabafo, Malga di Paula alfinetou a
Globo ao dizer que não considera a reprise uma homenagem a Chico Anysio:
"Ela está no ar, porque é boa, porque dá audiência e porque vende".
"Hoje foi um daqueles dias que acordei
mais sensível, com muita saudades do Chico. Sim, porque a ausência dele é
muito forte pra não ser percebida, logo ali, do outro lado da parede da
minha casa. Naquele escritório que agora está vazio, onde ele passava
longas horas produzindo, escrevendo incríveis projetos que somente eu
tive o privilégio de conhecer, pois, quando acabados, ele me chamava
para ler e na maioria das vezes deletava logo em seguida, sim, pois era
assim que o Chico se sentia... ´Deletado´. Eu almoço tarde e, quando vou
almoçar, minha empregada está sempre com a TV ligada. Não tarda muito e
começa a Escolinha do Professor Raimundo. Eu não consigo almoçar na
copa, pois, não consigo assistir à Escolinha.
Me lembro de quando ele começou a falar
que em 6 meses o programa completaria 50 anos no ar e ele pretendia
fazer uma edição especial em comemoração à data. Faltando apenas 3
meses, ele foi comunicado que a Escolinha sairia do ar, sem maiores
explicações. Por mais que ele tentasse saber, nunca ninguém lhe deu
satisfação do motivo real do final do programa. Aquilo foi uma punhalada
que nunca parou de sangrar no peito do Chico até o último dia de sua
vida.
Me lembro dele tentando ligar para
´alguém´, pra ter alguma satisfação, pra ter respostas que nunca
chegaram. Ele avisou a todos que pôde, que grande parte do elenco
morreria de desgosto, pois, não teriam outra oportunidade de trabalho.
Ele estava certo, muitos deles morreram no ano seguinte. Aquelas pessoas
que agora são consideradas ´gênios do humor´, foram ceifadas no auge da
sua maturidade profissional quando tinham o melhor para compartilhar
com o público.
Me lembro também das muitas vezes que o
Chico se arrumou e saiu de casa com calhamaços de papel, com projetos
incríveis para entregar na TV Globo, na esperança de que algum deles
fosse ao menos lido. Algo me diz que, ao virar as costas, estes projetos
eram simplesmentes jogados no lixo, pois, quando ele ligava para saber
se tinham gostado ´ninguém´ sabia onde os papéis estavam.
Não venham me dizer que a Escolinha está
no Vídeo Show como uma homenagem. Ela está no ar, porque é boa, porque
dá audiência e porque vende. Chico Anysio teria dado muito mais lucro
vivo, mas enquanto isso, graças à ´maldade de alguém´, ele estava em
casa, morrendo aos poucos. Chico foi vítima de duas grandes causas. Uma
foi o cigarro que matou o seu corpo e a outra foi o ´descaso´ com seu
trabalho, que matou sua alegria de viver.
Então, como assistir à Escolinha agora,
com todas estas lembranças que me vêm à cabeça? Prefiro imaginar o Chico
estrelando todos aqueles programas que ele escreveu e que foram
deletados, mas nunca serão apagados da minha memória. Sei início meio e
fim de programas assinados pelo MESTRE, que qualquer TV do mundo daria
muito para tê-los.
Dia desses sonhei que, onde ele está, havia
uma televisão e que ele estava feliz apresentando aqueles programas que
ele lia pra mim, então... nada de assistir a reprises, prefiro continuar
sonhando, sonhando, sonhando".
Em tempo
Chico
Anysio morreu no dia 23 de março de 2012, aos 80 anos, no Hospital
Samaritano do Rio de Janeiro, por falência múltipla de órgãos.
Seu último pedido foi ser cremado e que parte
suas cinzas fossem espalhadas sobre sua cidade natal, Maranguape, e o
restante sobre os estúdios da Central Globo de Produção, o Projac.
Fonte: http://www.camacarinoticias.com.br/leitura.php?id=284741