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domingo, 24 de dezembro de 2023

Calor de 2023 no Brasil supera anos de El Niño muito mais forte

O Brasil vive um ano de temperaturas recordes e o impacto dessa crise nas cidades, lavouras e na saúde humana é em grande parte atribuído ao El Niño, caracterizado pelo aquecimento do oceano Pacífico equatorial. Análise de dados feita pela Folha indica que o atual evento é forte e que as temperaturas nunca apresentaram tamanha anomalia no Brasil, mas que o mundo viveu cinco El Niños mais severos nos últimos 70 anos.
 

Nos ciclos de El Niño mais fortes, a temperatura média no país cresceu 0,14°C, considerando o intervalo de junho a setembro, meses de inverno. No mesmo período de 2023, quando a água do Pacífico registrou uma alta de 1,2°C, a temperatura no Brasil subiu 0,8°C, ou seja, 5,7 vezes mais do que a presenciada em anos passados.
 

A conclusão evidencia o papel do aquecimento global, ligado à queima de combustíveis fósseis e a ações como o desmatamento, sobre as temperaturas. A ação antrópica sobre o clima, segundo especialistas, está alterando o comportamento e os efeitos do El Niño.
 

A Folha de S.Paulo fez a análise a partir de dados da Noaa (Agência Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos), que mede a temperatura da água do Pacífico, e de registros nas estações meteorológicas do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) de junho a setembro. Para chegar à variação de temperatura, foram comparados meses com e sem o fenômeno (leia mais sobre a metodologia ao fim da reportagem).
 

A força do El Niño depende da conjunção de diversas anomalias nos padrões de calor, vento e pressão. Um dos principais parâmetros considerados é a temperatura de uma região específica do Pacífico, medida pelo ONI (sigla em inglês para Oceanic Niño Index). Esse índice indica se a água está 0,5°C abaixo ou acima da média -tecnicamente, há El Niño quando a média móvel de três meses fica 0,5°C acima do normal cinco vezes seguidas.
 

Termômetro marca 40°C em São Paulo no mês de novembro Miguel Schincariol - 13.nov.2023/AFP Termômetro marca 40ºC em Vários meteorologistas já indicaram que o calor deste ano é a soma entre El Niño e aquecimento global. A novidade é o quanto a mudança climática aprofunda o El Niño.
 

"Vários estudos científicos mostram que as primeiras camadas do oceano estão aquecendo, absorvendo esse calor extra na atmosfera", afirma Tércio Ambrizzi, doutor em ciências atmosféricas e meteorologia e professor da USP.
 

Uma análise recente da WWA (World Weather Attribution), grupo de cientistas que estuda eventos climáticos, chegou a conclusões semelhantes sobre o calor extremo que atingiu o Brasil no fim do inverno, elevando a temperatura média em mais de 3°C em algumas cidades.
 

O estudo aponta que, sem o aquecimento global, o calor recorde vivido no inverno seria de 1,4°C a 4,3°C menor, e que a ação humana aumentou em cem vezes a chance de calor extremo no país.
 

O El Niño, claro, interfere nos padrões térmicos, mas, sem a mudança climática, o calor de agosto e setembro não seria tão intenso, conforme os pesquisadores.
 

O inverno deste ano foi o mais quente da história em dez capitais brasileiras, como mostrou outra análise da Folha. Municípios do Sudeste, Centro-Oeste e parte do Nordeste viveram uma onda de calor em novembro, quando termômetros bateram em 40°C e a sensação térmica saltou para a casa dos 50°C em locais como o Rio de Janeiro.
 

Os efeitos deste El Niño turbinado pelo aquecimento foram enchentes e chuva ininterrupta no Sul, queimadas no Centro-Oeste, calor extremo no Sudeste e seca no Norte e no Nordeste.
 

O aquecimento terrestre vem alterando o ciclo hidrológico do planeta, então, em períodos de El Niño, lugares secos têm ainda mais seca e lugares chuvosos, ainda mais chuva.
 

"O sinal antrópico neste cenário é o mais forte de todos", diz o físico Alexandre Araújo Costa, doutor em ciências atmosféricas pela Universidade Estadual do Colorado (EUA) e professor da Universidade Estadual do Ceará.
 

"Os últimos três anos foram de La Niña [resfriamento do Pacífico] e começamos 2023 com ela, então o correto seria isso puxar um pouco as temperaturas globais para baixo, mas o evento só mascarou o aquecimento global."
 

Segundo ele, o oceano repassa o calor extra do aquecimento por vias curtas, como um furacão, por exemplo, ou mais longas, como o El Niño.
 

"Só que o aquecimento global está jogando o El Niño para outro patamar. Ele provavelmente não é mais o mesmo. Evidências científicas mostram que o El Niño canônico, de fraco a moderado, está em extinção", afirma.
 

FENÔMENO DEVE PIORAR
 

Embora o evento climático deste ano seja forte, ainda não se trata de um super El Niño. De setembro a novembro, o ONI foi de 1,8°C -ou seja, a água do Pacífico esteve 1,8°C acima da média.
 

Numa escala de força, o El Niño fraco vai até 0,9°C; o médio, a partir de 1,4°C; e o forte, de 1,5°C a 2°C. O super El Niño acontece quando o índice chega a 2,5°C ou mais.
 

Vários modelos estatísticos de autoridades climatológicas internacionais indicam que o fenômeno se intensifica deste mês até fevereiro. Duas dessas projeções indicam a possibilidade de super El Niño em janeiro e fevereiro.
 

"Um ponto a prestar atenção é que no ciclo [de El Niño] de 1997 e 1998, o ano mais quente foi 1998. Em 2015 e 2016, 2016 foi pior; 2024 pode ser mais quente, se não for, deve ficar no mesmo patamar", afirma Costa.
 

A receita, segundo ele, não tem segredo: banir os combustíveis fósseis de forma gradual a partir de tratados globais obrigatórios. "Daí vem o presidente da COP28 [Sultan al-Jaber] e diz que não tem ciência comprovando a necessidade de reduzir combustível fóssil. O que essa turma acha que vai acontecer? Milagre?", diz, sobre a conferência do clima da ONU realizada em Dubai até meados de dezembro.
 

O texto final da conferência propôs que os países comecem a reduzir o consumo global de combustíveis fósseis.
 

METODOLOGIA
 

A Folha de S.Paulo obteve os dados de anomalia de temperatura do Pacífico (ONI) no site da Noaa (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA) e a temperatura das estações brasileiras no site do Inmet.
 

Foram considerados como sendo de El Niño somente os meses que apareceram em todos os conjuntos de três meses de médias móveis. Estações com dados incompletos por mais de cinco dias foram excluídas da análise.
 

Para chegar à anomalia da temperatura do ar no Brasil, a reportagem calculou a média da temperatura para cada mês, de junho a setembro, em cada estação em meses sem El Niño ou La Niña. Depois, avaliou o quanto a temperatura de cada mês com presença de El Niño se desviava dessa média.
 

Por fim, determinou a média dos desvios de temperatura de todas as estações para cada mês.


Fonte: https://www.bahianoticias.com.br/folha/noticia/257925-calor-de-2023-no-brasil-supera-anos-de-el-nino-muito-mais-forte

terça-feira, 14 de novembro de 2023

Calor faz demanda por energia atingir o maior patamar da história no Brasil

A nova onda de calor que atinge, sobretudo as regiões Sudeste e Centro-Oeste, fez com que o Brasil atingisse na tarde desta segunda-feira (13) um novo recorde nacional de energia elétrica.
 

De acordo com o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), foi alcançado um recorde na demanda instantânea de carga do SIN (Sistema Interligado Nacional), às 14h17, quando se atingiu o patamar de 100.955 MW (megawatts).
 

Foi a primeira vez na história do SIN em que a carga superou a marca de 100.000 MW. A marca anterior era de 97.659 MW, medida em 26 de setembro deste ano.
 

Quando o patamar foi registrado, o atendimento à carga era feito por 61.649 MW de geração hidráulica (61,1%), 10.628 MW de geração térmica (10,5%), 9.284 MW de geração eólica (9,2%), 8.505 MW de geração solar centralizada (8,4%) e 10.898 MW de geração solar proveniente de micro e mini geração distribuída - MMGD (10,8%).
 

Nesta segunda-feira, o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) emitiu um novo aviso prolongando até sexta-feira (17) o alerta vermelho.
 

As temperaturas devem estar pelo menos 5ºC acima da média por um período maior que cinco dias.
 

A cidade de São Paulo voltou a ter o dia mais quente do ano. De acordo com o Inmet, houve o registro de 37,4°C às 15h na estação meteorológica do mirante de Santana, na zona norte da capital paulista.
 

Conforme reportagem da Folha mostrou, as ondas de calor que têm sido mais frequentemente registradas no país não provocam apenas desconforto para as pessoas.
 

Elas têm impactos em diversas atividades da economia, que começam a colocar em prática medidas de contingência já existentes e planejam novas adaptações para um cenário de aquecimento prolongado.
 

Entre os principais impactos, especialistas destacam do aumento dos custos com energia, pelo maior uso do ar-condicionado, a uma perda de eficiência do setor agrícola e da aviação.
 

Na sexta-feira (10), o ONS elevou a projeção de novembro para um crescimento de 11,0% frente a igual mês de 2022, a 79.780 megawatts médios (MWm), contra 10,6% estimados na semana anterior.
 

Ele também revisou para cima sua estimativa para as chuvas que deverão chegar às usinas hidrelétricas da região Sul em novembro, ao mesmo tempo em que reduziu a previsão para as afluências no Norte.
 

Segundo boletim, as chuvas que deverão chegar aos reservatórios de usinas do Sul foram estimadas em 437% da média histórica em outubro, ante 384% previstos na semana anterior.
 

Para as demais regiões, a previsão é de afluências abaixo da média histórica, com 52% no Norte (ante 68%), 43% no Nordeste (ante 32%) e 88% no Sudeste/Centro-Oeste (ante 113% anteriormente).
 

O nível dos reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste, o principal para armazenamento das hidrelétricas, deve chegar a 66,3% ao final de novembro, um pouco abaixo dos 69,9% previstos na semana anterior.


Fonte: https://www.bahianoticias.com.br/folha/noticia/252162-calor-faz-demanda-por-energia-atingir-o-maior-patamar-da-historia-no-brasil