terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Estudo mostra desigualdade em casos de Covid em trabalhadores da saúde

Uma pesquisa realizada no Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira, da Fundação Oswaldo Cruz (IFF/Fiocruz), mostrou que fatores ligados à desigualdade social influenciaram a contaminação dos trabalhadores da unidade pelo SARS-CoV-2 entre junho e julho de 2020.
 

O vírus infectou mais os trabalhadores não brancos, os de menor escolaridade e renda e os que não trabalham diretamente na assistência em saúde, como recepcionistas, guardas e agentes de limpeza. A pesquisa analisou testes sorológicos realizados em 1.154 trabalhadores, e os resultados foram publicados na revista científica Lancet Regional Health - Americas. As informações são da Agência Brasil.
 

O artigo relata que 30% dos trabalhadores do hospital tiveram anticorpos contra o vírus detectados em seus exames, percentual muito superior à taxa de contaminação da população em geral, que foi de 3% a 5%.
 

O percentual médio de 30%, porém, esconde disparidades, que aparecem quando os dados são cruzados com informações como cor da pele, escolaridade, renda, área de atuação e forma de locomoção.
 

A pesquisa mostrou que 23,1% dos trabalhadores que se identificam como brancos tiveram resultado positivo no inquérito sorológico, enquanto entre os não brancos o percentual foi de 37,1%.
 

Os profissionais que atuam na assistência, como técnicos de enfermagem, enfermeiros e médicos tiveram um percentual de positividade de 25%, enquanto para os cargos administrativos, recepcionistas, seguranças e agentes de limpeza essa proporção chega a 40,4%. A maior taxa de contaminação foi dos profissionais da limpeza, com 47,5%.
 

A Fiocruz aponta ainda que a forma de deslocamento da residência para o trabalho influenciou nos percentuais de contaminação, já que os trabalhadores que usaram transporte coletivo (trem, metrô e ônibus) tiveram resultados positivos com mais frequência do que aqueles que foram trabalhar caminhando, de carro, motocicleta ou táxi.
 

Em entrevista à Agência Fiocruz de Notícias, a primeira autora do artigo, a aluna de doutorado e fisioterapeuta do IFF/Fiocruz, Roberta Fernandes Correia, afirmou que a "desigualdade é o vírus mais letal do mundo".
 

Para Correia, o IFF/Fiocruz sofre os reflexos da economia de seu país, o que afeta na contaminação pelo Sars-CoV-2 entre seus trabalhadores, embora seja uma instituição pública de vanguarda na atenção à saúde da população. "Os achados deste trabalho não divergem da desigual contaminação da população brasileira e países afins, em especial os da América Latina. É provável que a solidariedade seja o antídoto e precise urgentemente ser incorporada às políticas sociais, econômicas, de saúde, educação, ambientais e de afeto".
 

A orientadora da pesquisa, a professora e pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) e do IFF/Fiocruz Elizabeth Artmann, ressalta que o estudo reforça o papel de determinantes sociais nas taxas de contaminação em trabalhadores da saúde. "Em um país com tanta desigualdade como o nosso, estes resultados são muito relevantes e mostram a importância de pesquisas que possam ancorar a tomada de decisões, neste caso, a priorização dos grupos mais vulneráveis".

Fonte: https://www.bahianoticias.com.br/folha/noticia/153988-estudo-mostra-desigualdade-em-casos-de-covid-em-trabalhadores-da-saude.html
 

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