sexta-feira, 2 de abril de 2021

Acervo de Walter da Silveira, fundador do cineclubismo na Bahia, estará na internet

Entusiasta da sétima arte, Walter da Silveira foi muitas coisas: crítico, advogado, professor, cineclubista e agitador cultural. Durante sua vida, o baiano criou um rico acervo pessoal, com imagens, registros audiovisuais e trocou muitas cartas com amigos de sua época. Uma parte desse apanhado de materiais, alguns deles raros, agora vai estar disponível virtualmente em um memorial elaborado por um grupo de profissionais em parceria com a Associação Bahiana de Imprensa (ABI).

 

Foram catalogadas, digitalizadas e restauradas 355 imagens, entre fotos de filmes e do arquivo pessoal, além de 98 correspondências, que serão expostas em um site desenvolvido pela equipe. O trabalho é só um recorte prévio de um extenso repertório de materiais que Walter guardou e que estão, desde 2015, sob a guarda da ABI após doação de sua família. 

 

"A proposta da Associação Bahiana de Imprensa é que o resto do acervo seja incluído gradativamente. O que agora se lança são as bases fundamentais para o acesso a todo o acervo", comenta Adilson Mendes, pesquisador responsável pela iniciativa. Os documentos disponibilizados têm forte significado para a história do cinema baiano e nacional, dada a relevância destas obras para os modos de fazer e fruir o audiovisual no país. 

 

"Walter viveu o auge mundial da cinefilia. E ele soube transpor para o contexto baiano um fenômeno moderno da cultura que ainda era mal visto pelas elites. A fundação do Clube de Cinema da Bahia tem peso semelhante à fundação da Cinemateca Brasileira ou a criação da Cinemateca do MAM, no Rio. Juntas, essas três instituições revolucionaram a cultura cinematográfica do país e construíram as bases para o moderno cinema brasileiro", destaca Adilson, que é historiador e doutor em Cinema.

 


Chegada da delegação baiana ao Festival de Brasília de 1965 | Foto: Acervo Walter da Silveira / ABI

 

Dentre as correspondências que constam no acervo estão as trocadas com Glauber Rocha, Alex Viany e Paulo Emílio Sales Gomes, entre 1950 e 1966. Elas ajudam a compreender a formação do cinema moderno brasileiro e servem de parâmetro para observar o legado deixado, que influencia, segundo Mendes, "a Jornada da Bahia, no projeto da filmografia baiana, nas escolas de cinema espalhadas pelo estado, no resistente movimento cineclubista baiano". 

 

A ideia de reunir a obra de Walter partiu da professora de Cinema Cyntia Nogueira, atora do livro "Walter da Silveira e o Cinema Brasileiro". Além dela e de Adilson Mendes, assinam a iniciativa a museóloga Renata Ramos, que atua na área de conservação e restauração documental e é responsável pelo Museu de Imprensa da ABI, e a arquivista Gabriela Queiroz, que atuou como chefe de Documentação e Pesquisa da Cinemateca Brasileira. 

 

Segundo Renata, apesar de contarmos com acervos que salvaguardam obras de Glauber Rocha, uma cinemateca ou outros espaços de memória voltados à produção cinematográfica e audovisual, como o Museu Roque Araújo, um museu ou memorial que pudesse reunir todos os acervos é essencial. "Imagine você, reunir Walter, Glauber e outros cineastas baiano em um museu. Seria perfeito para a história do cinema baiano e brasileiro", considera.

 

Para ela, a acessibilidade do acervo de Walter da Silveira, por exemplo, vai possibilitar que pesquisadores e estudantes, tanto da área de cinema quanto de história, entendam o percurso da sétima arte até os dias atuais.

 


Walter com o diretor de "O Pagador de Promessas", Anselmo Duarte, no Festival Internacional de Cannes, em 1962 | Foto: Acervo Walter da Silveira / ABI

 

Cyntia Nogueira destaca que Walter da Silveira foi o responsável pela formação de gerações de críticos cinematográficos e realizadores baianos entre os anos de 1950 e 1970. Com a disponibilização, o grupo espera "estimular novas pesquisas sobre sua ação e pensamento, de forma a reconhecer o seu legado intelectual para a formação de um campo artístico para o cinema" em terras baianas e brasileiras.  

 

"Acreditamos que o acesso irrestrito ao Acervo Walter da Silveira vai contribuir para o reconhecimento definitivo do crítico como um dos principais articuladores de um pensamento cinematográfico entre nós", finaliza Nogueira.

 

Realizado através de financiamento pela Lei Aldir Blanc, o site será lançado no próximo dia 10 de abril, no canal da ABI no YouTube.


Fonte: https://www.bahianoticias.com.br/cultura/noticia/40252-acervo-de-walter-da-silveira-fundador-do-cineclubismo-na-bahia-estara-na-internet.html

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