Imagem: www.jnavozdopovo.com
Inimaginável: William Bonner, o âncora mais conhecido e editor-chefe do
mais importante telejornal brasileiro, obrigado a fazer o papel de
coadjuvante no segundo dia da Copa das Confederações porque as ruas de
dez capitais do país – inclusive Brasília – foram tomadas por
gigantescas manifestações populares. Muitas contra o desperdício de
dinheiro para construir estádios suntuosos para os megaeventos até 2016.
Tudo previsto, armado, roteirizado: Bonner conduziria o jornal a partir
das capitais onde a seleção brasileira deveria jogar (na segunda-feira,
17/6, estava em Fortaleza), enquanto a companheira de bancada Patricia
Poeta faria a interlocução. Na primeira edição em dia útil, ela acabou
conduzindo noticiário e ele contentou-se com breves comentários.
Inédito, assustador.
As autoridades foram ainda mais surpreendidas do que a Rede Globo pela
dimensão e duração do protesto. Não levaram a sério as vaias à
presidente Dilma Rousseff no sábado (15), durante a abertura desta
copinha de nome complicado – das Confederações – e pouco empolgante. A
culpa foi atribuída à oposição e aos derrotistas.
Todos contavam com a paixão nacional. Todos foram vergonhosamente
driblados por ela. O aumento das tarifas de transporte público previsto
para o início do ano foi chutado para a frente a fim de não impactar no
cálculo da inflação. Acabou impactando na história política do Brasil.
Às avessas
Nos três primeiros protestos em São Paulo, autoridades estaduais e
municipais, em uníssono, classificaram os excessos como vandalismo. No
quarto evento (quinta-feira, 13/6), a polícia sentiu-se na obrigação de
enfrentar os vândalos. A culpa foi atribuída à imprensa.
Na segunda-feira (17), Noite dos Perplexos, a manifestação em São Paulo
foi pacífica (até a hora em que este comentário está sendo fechado,
0h55 de 18/6). A do Rio foi maior e com um surto de violência inesperado
diante da Assembleia Legislativa. A tristemente célebre Gaiola de Ouro
(Câmara Municipal) passou incólume.
Os vinte centavos de aumento estavam esquecidos, a estatização dos
transportes, idem: os cartazes falavam em transporte decente, melhores
escolas, mais hospitais e fim da corrupção.
Na Praça dos Três Poderes em Brasília os manifestantes passaram ao
largo das sedes do Executivo e do Judiciário. Coincidência ou não,
concentraram-se diante e em cima do Congresso Nacional, cujo
desprestígio bate todos os recordes.
Ao vivo, com transmissão simultânea e todos os requintes tecnológicos, a
poucos dias do início do inverno, uma primavera às avessas: uma
ventania imprevista rasgou o calendário e levou todos os scripts.
Fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/no_pais_do_futebol_a_goleada_dos_protestos
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