Brasília – Receber um salário de R$ 26,7 mil é um luxo para poucos no
país. Mas para os deputados federais que ganham essa bolada todos os
meses, os rendimentos privilegiados não são o único atrativo do cargo. A
lista de benefícios é tão extensa que um parlamentar pode viver sem
sequer colocar a mão no próprio bolso. Além do gordo contracheque, eles
têm direito a atendimento médico ilimitado, passagens aéreas, carro
alugado, combustível, conta de telefone paga pelo estado e
auxílio-moradia. Numa comparação dos benefícios garantidos aos deputados
com os direitos assegurados aos cidadãos comuns é fácil constatar que a
situação de quem tem mandato no Congresso destoa – e muito – da
realidade dos brasileiros que eles representam.
Na semana que
passou, esse abismo entre a ilha em que vivem os parlamentares e a
realidade do trabalhador comum ficou mais evidente quando a Câmara
restringiu as sessões deliberativas às terças, quartas e quintas-feiras.
Assim, ficou oficializada uma prática já bastante popular entre os
representantes do povo: a de desaparecer do Congresso na segunda e na
sexta-feira.
Em relação aos vencimentos salariais, nem mesmo na
capital federal, onde a renda já é bastante alta em comparação com o
resto do país, existem tantas famílias que chegam ao nível de
remuneração dos parlamentares. São 7.783 famílias vivendo com renda
domiciliar entre 40 e 50 salários mínimos, o que corresponde a 1% dos
lares brasilienses. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, 90% dos
trabalhadores ganham menos de R$ 2,5 mil, ou seja, recebem menos de um
décimo do que ganham os parlamentares.
Como 505 dos 513 deputados
vêm de outras unidades da Federação, a Câmara garante R$ 3 mil mensais
para que os beneficiários paguem o aluguel de um imóvel ou a conta de um
hotel. A Casa legislativa dispõe ainda de 432 apartamentos funcionais
e, para mantê-los, gastou R$ 30 milhões desde 2008. Essa benesse está
bem longe da realidade da maioria dos brasileiros. Em raros casos o
trabalhador recebe uma mãozinha do empregado como os deputados.
A
assistência médica ilimitada é outro benefício utópico para a maioria
dos cidadãos. Os deputados podem pedir reembolso de despesas médicas e
hospitalares realizadas em qualquer local do país. A Câmara paga
cirurgias, exames e tratamentos realizados na clínica ou hospital de
preferência do parlamentar. Segundo a Câmara, esse serviço de reembolso é
mais vantajoso para os cofres públicos. Isso porque o custo de pagar um
plano de saúde para deputados seria alto, já que a maioria tem mais de
50 anos.
O presidente da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge),
Arlindo de Almeida, explica que poucas empresas oferecem planos de saúde
com sistema de reembolso que cubram todo e qualquer tipo de
procedimento ou consulta. Ele estima que um benefício como esse custaria
pelo menos R$ 5 mil para um cidadão comum. "É um plano de saúde muito
caro. Se a pessoa quiser incluir cirurgias, transplantes, todos os
exames, o valor é altíssimo. Poucas empresas oferecem essa possibilidade
de o paciente ser atendido em qualquer lugar e depois pedir reembolso
das despesas", comenta Arlindo.
Tanque cheio Mas é na cota
parlamentar que estão as maiores vantagens do cargo. Os deputados têm
direito a reembolso dos recursos gastos com uma série de produtos ou
serviços e o limite mensal varia de R$ 23 mil a R$ 34,2 mil, dependendo
do estado do parlamentar. Com esse dinheiro, é possível comprar
passagens aéreas; pagar telefone e serviços postais; manter escritório
de apoio à atividade parlamentar; acertar conta de restaurantes e de
hotéis; alugar ou fretar aeronaves, embarcações ou carros; encher o
tanque de combustível; contratar segurança particular ou serviços de
consultoria.
Apesar de todas as regalias e de terem aprovado a
rotina de três dias de expediente, os parlamentares até hoje adiam uma
decisão a respeito do fim do 14° e 15° salários. Eles recebem em
fevereiro e em dezembro de todos os anos uma "ajuda de custo"
equivalente à remuneração de R$ 26,7 mil. Em um ano, esses salários
extras representam um incremento médio de R$ 4,4 mil no rendimento
mensal.
Fonte: http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2012/10/21/interna_politica,324642/lista-de-beneficios-e-alto-salario-deixam-deputados-federais-longe-da-realidade-da-populacao.shtml
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