domingo, 18 de julho de 2010

Vacina polivalente é a primeira a proteger contra vários tipos de gripe


REINALDO JOSÉ LOPES

DE SÃO PAULO

Cientistas nos EUA criaram uma maneira de acabar com a dificuldade quase medieval que envolve o emprego das vacinas contra a gripe. Trata-se de uma vacinação capaz de proteger o organismo de uma ampla variedade de vírus da doença.

A estratégia, que depende de uma dobradinha de imunizações, capaz de estimular diferentes partes do sistema de defesa do organismo, foi detalhada na edição digital da revista especializada "Science". Testes de sucesso foram feitos em camundongos, furões e macacos.

Se a ideia funcionar em humanos, "saímos do jogo de gato e rato. Hoje produzimos vacinas contra vírus que já circulam e fazemos monitoramento para saber se a vacina ainda funciona - com a certeza de que uma hora ela não vai funcionar", diz o biólogo Atila Iamarino, da USP.

Até hoje, a dificuldade de obter uma vacina "genérica" contra muitos tipos de gripe atende pelo nome de hemaglutinina. Essa proteína permite que o vírus grude nas células humanas e as invada.

O problema é que há pelo menos 16 tipos de hemaglutinina. Assim, quando o sistema de defesa do organismo "aprende" a se defender de uma, ainda não sabe lidar com as demais.

O mesmo vale para as vacinas, cujo papel é ensinar o corpo a se defender. Cada uma delas vem de vírus cultivados em ovos de galinha e depois inativados, um processo lento, lembra Luis Carlos de Souza Ferreira, do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas da USP.

Mas há um elemento da hemaglutinina que muda bem menos de vírus para vírus: o "miolo" da proteína, que fica afundado dentro do invasor e não interage diretamente com as células.

O líder do novo estudo, Gary Nabel, dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, diz que esse pode ser o calcanhar-de-aquiles da gripe.

VÁRIOS VÍRUS

No estudo, eles primeiro injetaram o DNA com a "receita" da proteína nas cobaias. Isso fez com que as células delas produzissem hemaglutinina e criassem anticorpos mais "genéricos", capazes de agir contra uma ampla gama de vírus.

"Na vacina normal, o miolo da proteína pode ficar escondido por outras proteínas do vírus inteiro. Mas, com a nossa abordagem, conseguimos apresentar a proteína inteira ao sistema de defesa do corpo", disse ele à Folha.

Num segundo passo, eles usaram vacinas tradicionais, ou uma nova injeção do "código" da proteína, para reforçar a resposta do organismo. Deu certo: as cobaias conseguiram enfrentar vários tipos de vírus H1N1, H2N2 e H5N1, que representam boa variedade das formas de gripe.

"É a primeira demonstração experimental de que é possível gerar uma vacina contra gripe capaz de conferir proteção a vários tipos de vírus", diz Ferreira.

A grande barreira agora, diz ele, é fazer a injeção de DNA funcionar em humanos, coisa que ainda não deu certo para outras doenças.

Fonte: Folha

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