Inspirado na série de livros “Left Behind”, com nada menos que 12
best-sellers escritos por Tim LaHaye e Jerry B. Jenkins, “O Apocalipse”
(em uma tradução de título um tanto equivocada) vai ao centro de uma das
mais polêmicas crenças evangélicas, protestantes e cristãs: o
arrebatamento, quando os verdadeiros crentes são elevados ao céu.
Fica-se então com o conflito, no livro e filme, daqueles que foram
“deixados para trás”.
Nos vários textos bíblicos que dão base a essa crença (Apocalipse,
Mateus, Tessalonicenses etc.), para aqueles que seguem a Bíblia como
fonte de revelação suprema, a história retratada é conflitante.
Principalmente no que se refere às crianças, colocadas aqui como
inocentes que são diretamente arrebatadas, enquanto nas escrituras
apenas as de famílias fiéis são elevadas.
A escolha dos autores tornou o produto mais popular (quem quer ver bebês
sofrendo?), para além da literatura digestiva, mas repleta de suspense.
No filme, o pop ficou por conta da escolha de Nicolas Cage, como um dos
protagonistas, ao lado do ator Chad Michael Murray (que fez sucesso em
séries de TV como “One Three Hill”).
Mas a nova produção, contrariamente à franquia realizada a partir da
mesma fonte em 2000, apenas se inspira no livro. Desta vez, vemos as
agruras da família Steele, quando a filha Chloe (Cassi Thomson) vai
passar uns dias com seus pais.
No aeroporto, onde o pai, Rayford (Cage), trabalha como piloto, conhece o
jovem jornalista investigativo Buck Williams (Murray), com quem inicia
um comportado flerte. O rapaz tem um voo marcado para Londres,
coincidentemente pilotado por Rayford.
Quando vai para casa, Chloe encontra a mãe Irene (Lea Thompson), que
segue de forma mais fundamentalista os textos bíblicos. Como se trata de
uma obra de cunho religioso, a moça é refratária às crenças
(demonstrando uma intolerância crônica) e, assim, quando o arrebatamento
chega, percebe não apenas que a mãe estava certa, como também o erro em
suas escolhas de vida.
Enquanto isso, o pai, que está em pleno voo transatlântico, deve lidar
com passageiros enfurecidos pelo sumiço de alguns amigos e familiares,
em especial das crianças. E pior: precisa desviar de outros aviões que
vagam, no automático, pelo céu, já que seus pilotos também foram
arrebatados.
Com baixo orçamento, algo em torno de 16 milhões de dólares, a crise que
se instaura na Terra, que remete ao caos apocalíptico, mostra-se muito
mal-ajambrada, com cenas que lembram as realizadas em estúdios de
atrações de parques temáticos. Porém, o que mais chama a atenção
negativamente são os diálogos, feitos para o filme (muito longe do que
se mostra nos livros), pouco críveis nas performances de seus limitados
atores.
Da enigmática série de TV “The Leftovers” (de HBO, baseada no livro de
Tom Perrotta), ao estapafúrdio “É o Fim” (com Seth Rogen e James
Franco), as recentes produções sobre o arrebatamento parecem todas
superiores na forma e conteúdo. Algo bastante frustrante, seja para quem
segue as escrituras, seja para os fãs dos 12 volumes de “Left Behind”.
(Por Rodrigo Zavala, do Cineweb)
G1
Fonte: http://www.portalaz.com.br/noticia/geral/310668_estreia_o_apocalipse_traz_visao_conflitante_do_fim_dos_tempos.html