Dilma e Lula: camelôs já vendiam camisetas com a inscrição "Lula 2018" (Ricardo Stuckert/Facebook Lula/Reprodução)
Tanto o ex-presidente quanto Dilma Rousseff e o governador da Paraíba falaram das eleições em seus discursos
São Paulo – A cerimônia popular de inauguração das obras de
transposição das águas do Rio São Francisco realizada em Monteiro (PB),
na tarde deste domingo, 19, transformou-se em um comício pela
candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência em 2018.
A ex-presidente Dilma Rousseff, o governador da Paraíba, Ricardo
Coutinho (PSB), e o próprio Lula fizeram referências às eleições de 2018
em seus discursos.
Além dos discursos, a praça lotada de pessoas aos gritos de “Lula,
Lula, olê, olê, olá” e “Fora, Temer”, a caravana de políticos e
autoridades que contou com 15 senadores, dezenas de deputados, os
presidentes do PT e do PCdoB, entre outros, e até os camelôs que já
vendiam camisetas com a inscrição “Lula 2018” também remetiam a cenas
típicas de campanha eleitoral.
Dilma, a primeira a falar, alertou para a possibilidade de Lula ser
impedido de participar das eleições. O ex-presidente é réu em 5
processos referentes à Lava Jatoe seus desdobramentos e, se for
condenado em primeira e segunda instâncias, pode ser enquadrado na Lei
da Ficha Limpa.
“Não vamos permitir um segundo golpe. O objetivo deles é impedir que
candidatos populares sejam colocados à disposição do povo. O lula é esse
candidato”, afirmou Dilma.
“No tapetão, não”, completou a ex-presidente dizendo que os
brasileiros têm um encontro marcado com a democracia em outubro de 2018.
No discurso feito a uma multidão na cidade de Monteiro, Dilma afirmou
que o projeto da construção foi de Lula para contrapor ao discurso do
presidente Michel Temer de “paternidade” da obra.
“Eu tenho a honra de ter dado prosseguimento ao projeto que Lula
deixou pronto. E este País assistiu a mais uma mentira depois do meu
impeachment. Vejam vocês a cara de pau em dizerem que uma obra de
transposição desse tamanho podia ser feita em seis meses. Esses que
deram o golpe baseado numa mentira. Essa obra não é só um canal, é
trazer a água lá de baixo por seis estações que correspondem a 92
andares. Alguém já viu um prédio de 92 andares ser construído em seis
meses? Ninguém porque é mentira”, disse Dilma respondendo ao ministro da
Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco.
Na sexta-feira, Moreira Franco usou o Twitter para rebater a
entrevista de Dilma ao jornal Valor Econômico. A ex-presidente afirmou
que impediu o ministro de “roubar” em seu mandato.
Na rede social, o ministro escreveu: “Em 6 anos, Dilma não conseguiu
entregar as obras de transposição do Rio São Francisco. Nós entregamos
em 6 meses”.
Temer esteve na semana passada na inauguração da obra e, na ocasião,
afirmou que não queria ter a paternidade da transposição do Rio São
Francisco. “Não quero a paternidade desta obra, ninguém pode tê-la. A
paternidade é do povo brasileiro e do povo nordestino”, disse, em uma
indireta ao ex-presidente Lula, em cujo governo foi iniciada a
construção do canal.
Embora seja do PSB, partido que apoiou o impeachment de Dilma, o
governador Ricardo Coutinho – que sempre se posicionou pessoalmente
contra o afastamento da petista – citou trecho da música Divino
Maravilhoso, composta por Caetano Veloso em 1969, para falar sobre a
possibilidade de Lula ser impedido de disputar a eleição de 2018.
“É preciso estarmos atentos e fortes. É preciso dar condições para o
povo expressar o que realmente ele quer. E eu sei o que o povo quer”,
disse o governador, se voltando para Lula.
Em seu discurso o próprio ex-presidente se referiu à possibilidade de
ser candidato em 2018. “Vocês sabem o que eles (adversários) estão
tentando fazer com a esquerda neste País, fizeram com a Dilma e querem
fazer comigo. Se eles quiserem brigar comigo, que venham brigar nas
ruas”, desafiou o petista.
Animado com a presença de milhares de pessoas na praça de Monteiro,
Lula disse que se for candidato vai entrar na disputa para ganhar. “Eles
peçam a Deus para eu não ser candidato. Porque se eu for é para ganhar e
trazer de volta a alegria deste País. Eu sei colocar o povo para sonhar
com emprego e salário”, afirmou.
A exemplo do que havia feito quarta-feira diante de dezenas de
milhares de pessoas que participaram de um ato contra a reforma da
Previdência na Avenida Paulista, em São Paulo, Lula usou a cerimônia
deste domingo, no agreste nordestino, para encaixar trechos de seu
discurso de pré-candidato.
Ele lembrou dos pontos positivos de seus oito anos de governo, do bom
desempenho da economia, e fustigou as políticas impopulares de ajuste
fiscal adotadas pelo governo Michel Temer.
Lula voltou a dizer que a melhor forma para combater o déficit da
Previdência é aumentar a base de contribuintes através da criação e
formalização de empregos e do aumento de salários.
O ex-presidente, que desde o final do ano tem trabalhado ao lado de
economistas petistas em um programa para contrapor o governo atual,
explorou o fato de já ter governado para criticar a gestão Temer.
“Se eles, diplomados, não sabem fazer isso, peçam um conselho porque eu sei como é que faz”, provocou Lula.
O ex-presidente fez questão de destacar a presença do ex-prefeito de
São Paulo Fernando Haddad no evento e o papel de Ciro Gomes (PDT),
possível candidato à Presidência, na execução da transposição.
Dias depois de Temer ter dito, na cerimônia oficial de inauguração,
que não queria a “paternidade” do projeto, Lula, ao lado de Dilma,
capitalizou para si a obra.
“Dilma e eu, Ricardo e outros governadores temos o orgulho de dizer
que somos pai, mãe, irmão, tio, primo e sobrinho da transposição das
águas do Rio São Francisco.”
Fonte: http://exame.abril.com.br/brasil/viagem-de-lula-e-dilma-ao-sao-francisco-se-transforma-em-comicio/