segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Número de brasileiros com dívidas bancárias bate recorde

As dívidas bancárias são responsáveis por muita dor de cabeça. Elas comprometem o salário da família e geram diversas dificuldades no que diz respeito a manter os gastos dentro do orçamento, que é reduzido por causa do débito. E, com a crise econômica gerada pela pandemia, fugir do endividamento se tornou um pouco mais difícil, isso é o que evidencia a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

De acordo com dados coletados pela entidade por meios da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), 70,9% dos brasileiros estavam endividados com bancos, cartão de crédito ou crediário, em 2021. Na comparação com 2020, o crescimento foi de 4,4 pontos percentuais, o maior aumento registrado nos últimos 11 anos, quando começou a série histórica.

O comerciário Evandro dos Santos, 60, é uma das pessoas que entraram no grupo de devedores. 

Em 2018, a falta de movimento no comércio obrigou-o a fazer um empréstimo para quitar as contas, mas com o tempo ficou difícil pagar as parcelas, sobretudo, em 2020, quando a crise sanitária chegou e o profissional teve que parar de trabalhar. 

“Isso fez os juros aumentarem demais, quando fui ver as parcelas chegavam a mais de R$ 500 e seguiram por um total de 48 meses”, conta Evandro. O comerciário também destaca que ter a saúde financeira afetada por uma dívida bancária não é um bom negócio, mas é “uma coisa que foge do nosso controle, ainda mais em um momento de precisão, porque ficamos à mercê dessas instituições”, completa.

O estudante de comunicação Luan Ribeiro concorda com o comerciário. Em função de um empréstimo em grupo, que foi feito devido à necessidade da mãe dele de  fazer um investimento, Luan passou a ser parte do montante de pessoas que têm débitos bancários.

“Fiz um empréstimo em grupo e o meu  Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), por ter o maior escore, ficou como líder do contrato. A partir disso, o valor emprestado foi para minha conta e eu fiquei responsável por fazer a repartição para o grupo. Dessa ação eu adquiri a dívida, visto que muitas pessoas não puderam arcar com o pagamento das parcelas”, explica Luan. 

 Situação de urgência

Tanto a situação de Evandro como a de Luan não são isoladas quando o assunto é a motivação para buscar em instituições financeiras recursos para suprir uma necessidade, muitas vezes de extrema urgência. Mas, o economista, membro do Conselho Federal de Economia (Corecon-BA), Edval Landulfo, explica que há outros fatores que influenciam os brasileiros a recorrer aos bancos e se endividarem. 

“Tem um grande número de pessoas que possuem algum tipo de produto dos bancos, e claro que essa facilidade se junta ao mau entendimento do uso do débito, crédito, boletos e de demais recursos disponibilizados por essas instituições. E isso, por sua vez, agrava a saúde financeira e pode resultar em endividamento”, esclarece Edval.

O economista diz também que o governo perdeu mão da inflação, o que contribui para que muitos produtos fiquem mais caros, principalmente por deixar  a cotação internacional do petróleo afetar as cadeias produtivas do Brasil e elevar os preços, que oneram ainda mais a renda do brasileiro. Para as pessoas não contraírem dívidas bancárias ele faz recomendações

“É ideal que cada família ou pessoa faça o orçamento doméstico, pois é necessário entender para onde vai o dinheiro. Fazer isso não é anotar uma despesa e, sim, projeções para os meses seguintes. É importante que comece agora em janeiro e projete de seis meses a um ano como vai gastar nesse período. Assim, o indivíduo consegue direcionar o orçamento para fazer com que o dinheiro tenha uma sobra maior”, pontua.

Opção de renegociar

Para quem já está endividado, renegociar com o banco é uma das principais alternativas. Isso é o que explica Amaury Oliva, diretor executivo de cidadania financeira e relações com o consumidor da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). De acordo com ele, tem um eixo muito forte das entidades financeiras nesse setor. 

“A gente coordena durante o ano uma série de mutirões de renegociação de dívidas. Entre essas ações, há mutirões nacionais realizados em conjunto com o Banco Central (BC), Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon)  e Procons de todo o País”, destaca Amaury.

Em novembro, a Febraban realizou com as demais entidades o Mutirão Nacional de Negociação de Dívidas e Orientação Financeira. O resultado foi positivo. A renegociação conseguiu que mais de 1,7 milhão de contratos fossem repactuados. No período de pandemia, a repactuação alcançou volume histórico de 18,7 milhões, do total de R$ 1,1 trilhão de saldo devedor renegociado. 

Para sair da inadimplência, renegociar o débito foi o que fez Evandro. Tudo aconteceu por acaso.  Em uma visita ao banco em prol de sanar uma dúvida sobre a conta, ele recebeu a proposta de  negociar a quitação por uma autorização de amortização e liquidação da operação, em que ele pagaria  parcelas ao contrário, começando da última. Além disso, o valor a ser pago seria de acordo com o orçamento do comerciário. 

“Foi assim que consegui liquidar dois anos e quatro meses da dívida (2022, 2023 e quatro meses de 2024) com um pouco mais de R$ 3 mil, sendo que, caso pagasse o empréstimo mês a mês, cada parcela seria de mais de R$ 500. Fiz essa negociação no início de 2021 e quitei as parcelas que ficaram fora do acordo no último dezembro”, relata Evandro.

Mas nem todo mundo tem a sorte de conseguir uma boa proposta do banco. É o caso de Luan. Nas tentativas de negociação, os juros apresentados eram altos demais, o que impossibilitava que ele levasse adiante a proposta. “O melhor desconto acontece no pagamento à vista, mas,  para mim, o valor continua alto. Dessa forma, ainda não consigo quitar o débito”, lamenta o estudante.

Nesse sentido, outro caminho seria a busca de orientação financeira. Um ponto que, segundo Amaury, é importante para a pessoa entender o índice de saúde financeira e possa buscar as melhores soluções para sair do endividamento.  Em meio a essa perspectiva, a instituição que representa os bancos lançou, no ano passado, a ferramenta Índice de Saúde Financeira do Brasileiro (I-SFB/Febraban).

 “Essa ferramenta não existia no Brasil, nós a elaboramos com 70 especialistas da academia e dos bancos associados. É um questionário muito simples, a pessoa pode responder e ter o diagnóstico da saúde financeira”, afirma o diretor executivo.

Além da consultoria financeira, Edval diz que é importante tomar cuidado com o envolvimento emocional em relação às dívidas, pois assim atitudes intempestivas que prejudicariam ainda mais a situação podem ser evitadas. “Uma desestrutura mental  e emocional vai contribuir negativamente para que as tomadas de decisões sejam, muitas vezes, equivocadas. Com o envolvimento emocional, muitas coisas não são percebidas, como as taxas de juros que são cobradas”. 

Então, de acordo com o economista, tudo tem que ser analisado com cautela, antes de pegar empréstimos ou fazer qualquer ação no banco, uma vez que essa instituição vende o dinheiro, e não serviço. Por isso, se a pessoa está endividada, ele diz que “é mais fácil recorrer a parentes para pedir o valor da dívida emprestado,  mas já explicando o prazo de pagamento e como o compromisso vai ser honrado. Isso é muito melhor do que se comprometer ainda mais buscando recursos em bancos”. 

* Sob a supervisão da editora Cassandra Barteló

Fonte: https://atarde.com.br/economia/numero-de-brasileiros-com-dividas-bancarias-bate-recorde-1186397

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