quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Saída de cena de Jean Wyllys é momento de luto para a democracia no Brasil



A desistência do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) em permanecer com o mandato na Câmara é um episódio esquecível na democracia recente brasileira. Concordemos ou não com as causas defendidas por Jean, a voz dele representa alguns milhares de eleitores e também não eleitores que se identificam com a agenda defendida pelo parlamentar. E essas vozes ficariam com sub-representação, especialmente se o suplente dele não fosse o vereador David Miranda, que se apresenta como “negro, gay e favelado”.

O baiano Jean Wyllys era uma figura controversa por natureza. Mas isso não o impedia de defender questões que considerava justas. Conhecido do grande público após vencer o Big Brother Brasil, o deputado federal tomaria posse no próximo dia 1º para o terceiro mandato. Entretanto, não suportou a pressão em torno do posicionamento a favor de temas caros a minorias, como a população LGBT+, e contra o presidente da República Jair Bolsonaro. Colegas de Câmara dos Deputados, Jean e Jair não se bicam e fizeram enfrentamentos públicos diversas vezes. Bolsonaro saiu vencedor das urnas e Jean preferiu se recolher ao invés de correr o risco de um ataque que vá além das palavras.

A morte da vereadora Marielle Franco talvez tenha sido o episódio mais nefasto de uma guerrilha vivenciada entre militantes e milicianos no Rio de Janeiro. Jean, tal qual Marcelo Freixo, era uma figura destacável nesse universo por justamente se posicionar contrário ao domínio desse Estado paralelo na capital fluminense. Segundo o próprio parlamentar, após o ataque à vereadora, as ameaças a ele se intensificaram. E depois da confirmação de Bolsonaro no Planalto, a situação piorou.

A decisão de Jean também perpassa pela descoberta de uma ligação, ainda que primária, entre o senador eleito Flávio Bolsonaro e a milícia carioca. O deputado estadual do Rio de Janeiro nomeou no gabinete a mãe e a esposa de um dos chefes do Escritório do Crime, que teria participado, inclusive, da execução de Marielle Franco. Como adversário público do clã Bolsonaro e sabendo dessa suspeita de ligação do primeiro-filho com a milícia, como se sentir seguro no Brasil?

Nas redes sociais, as pessoas que reconhecem o papel de vozes diversas no parlamento, o adeus de Jean é um momento de luto, pois morre um pouco da democracia. Afinal, em que lugar vivemos para que um deputado federal sinta medo de morrer apenas pelo que acredita? Já os fãs do presidente se regozijam com a saída de Jean da cena política. Para eles, o deputado federal cumpre a “promessa” de deixar o país caso Bolsonaro fosse eleito presidente da República. E isso deixa a situação ainda pior: quando se minimiza o que esse caso representa, não é só Jean que corre perigo, mas todos nós.

Fonte: https://www.bahianoticias.com.br/noticia/231649-saida-de-cena-de-jean-wyllys-e-momento-de-luto-para-a-democracia-no-brasil.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário