O paulista João Camilo comparou Salvador a um visgo, que "gruda e não larga mais".
Contrapondo os baianos que têm deixado o Estado para viver em terras
paulistas, novos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), divulgados à reportagem de A TARDE, revelam que a
maior população de não-baianos, que mora na Bahia, é natural do Estado
de São Paulo. Conforme os números obtidos pelo Censo 2010, quase 200 mil
paulistas arrumaram as malas e hoje moram em solo baiano.
Além dos paulistas, o Censo revela que cerca de 134,3 mil pernambucanos
e 109,4 mil mineiros firmaram moradia na Bahia. Ao todo, a região conta
com cerca de 816 mil não-baianos, o que equivale a 5,8% das mais de 14
milhões de pessoas que moram no Estado.
Do total de migrantes que estão na Bahia, 46,4% são naturais de outros
Estados da região Nordeste; 4,9% da região Centro-Oeste; 4,3% da região
Sul; e 1,6% da região Norte. Além disso, 1,6% dos moradores do Estado
são imigrantes (pessoas que vieram de outro países).
Opondo o preconceito relacionado à oposição Sudeste e Nordeste, o IBGE
atesta que a maior população de não-nordestinos, que mora na Bahia, é
formada por sudestinos. Conforme o Censo 2010, cerca de 45,6% dos
não-baianos que moram no Estado nasceram nessa região brasileira. Esta
porcentagem equivale a quase 400 mil pessoas.
Do total de moradores da Bahia, cerca de 39,3 mil não tiveram a naturalidade especificada pelo Censo.
De volta pra casa - Conforme o técnico do IBGE, Mardem
Campos, as motivações de migração de quem sai da Bahia para São Paulo e
de quem faz o caminho inverso são opostas.
Segundo o especialista, na maioria dos casos, os baianos saem de suas
cidades em busca de melhores oportunidades de emprego. No caso oposto,
os paulistas que seguem para as cidades baianas estão, na maioria dos
casos, voltando para as terras de suas famílias. "É uma espécie de rede
social. As famílias vão para São Paulo em busca de trabalho, têm filhos
no Estado e após alguns anos voltam para as suas cidades", relatou
Mardem.
Além do movimento migratório de retorno do sudeste para o nordeste, o
sociólogo e professor da Ufba, Ordep Serra, diz que o imaginário de
alegria associado ao Estado pode influenciar esta migração. "Do ponto de
vista do imaginário, a Bahia é um terra especial. Um lugar de alegria e
de prazer. Já São Paulo, também sob esse imaginário, é local associado
ao estresse e ao trabalho exaustivo. Talvez esses mitos colaborem de
algumas forma com esse movimento migratório", relata.
Além dos aspectos relacionados ao imaginário popular, o sociólogo
aborda que a falta de profissionais especializados em determinadas áreas
de trabalho também são atrativos de migração. " Há, por exemplo, um
grande déficit de engenheiros no Estado. Por esse motivo, profissionais
de outras regiões, incluindo São Paulo, acabam sendo contratados na
Bahia", relatou.
Paixão pela Bahia- Enquanto 1,7 milhão de baianos está
morando em São Paulo, conforme apontou o IBGE no último dia 17 de
outubro, o aposentado e escritor João Camilo, 75, morador do bairro da
Pituba, fez o caminho o inverso.
Há 34 anos, o paulista - Técnico em Comércio Exterior - deixou a cidade
de Campinas e veio para a Bahia, após uma proposta de emprego que
considerou irrecusável, no Polo Petroquímico de Camaçari.
"Larguei um emprego estável, onde eu estava há 17 anos. Meus colegas de
trabalho perguntaram: Você está louco? Você vai mesmo para o Nordeste?
Você sabe que em cada esquina de lá há um assessor de Lampião?", lembrou
alguns preconceitos que os colegas tinham da região.
Junto com João Camilo vieram esposa e quatro filhos. "Pedi à empresa
que me contratou e ela cumpriu: matriculou meus filhos nas melhores
escolas da cidade. Hoje, tenho um engenheiro civil, uma enfermeira de
ponta, um educador físico e um técnico em informática. Todos formados na
Bahia", orgulha-se.
Sobre o Estado que escolheu para viver, o escritor destaca a
cordialidade das pessoas, independente de classe social, e alegria de
viver frente às adversidades. "Nunca pensei em voltar para São Paulo.
Como diz Helô Sampaio (jornalista baiana), Salvador é como um visgo.
Gruda e não larga mais", declarou.
Citando novamente a jornalista, João Camilo completou: "O criador
divino quando bolou a Bahia guardou a chave no cofre celestial".
Fonte: http://atarde.uol.com.br/bahia/materias/1466003
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