Brasília, 29 de setembro de 1992. Há exatos
20 anos, o Brasil parava em plena terça-feira para acompanhar a votação
do pedido de impeachment do presidente da República Fernando Collor de
Mello (PRN) na Câmara dos Deputados. O placar foi massacrante: 441
parlamentares favoráveis ao afastamento contra 38 defensores da
manutenção do ‘Caçador de Marajás'. A festa nas ruas anunciava o começo
do processo que destituiria um presidente pela primeira vez na história
da política brasileira.
Dois dias depois da derrota, Collor chamou a
imprensa para acompanhar o momento em que ele era afastado do cargo. Em
29 de dezembro, prevendo que o Senado aprovaria seu impeachment, se
antecipou e encaminhou a carta de renúncia, escrita durante a madrugada,
na Casa da Dinda, residência oficial da Presidência.
A manobra foi para evitar a cassação dos
direitos políticos. Os senadores deram prosseguimento à votação,
aprovaram a saída do presidente, que ficou inelegível por oito anos.
"Ele foi defenestrado do cargo, pois não teve a capacidade articular.
Desagradou políticos, empresários, trabalhadores e credores
internacionais. Adotou postura autoritária numa época que não cabia
mais, pois estávamos saindo de uma ditadura militar", analisou Marcos
Tarcísio Florindo, professor da FESP-SP (Fundação Escola de Sociologia e
Política de São Paulo).
O escândalo que culminou no impeachment
começou em maio de 1992. Pedro Collor, irmão do presidente, delatou
suposto esquema de desvio de dinheiro e tráfico de influência dentro do
governo liderado pelo empresário Paulo César Farias, o PC Farias,
tesoureiro da campanha presidencial.
O Congresso abriu uma CPI (Comissão
Parlamentar de Inquérito) para apurar as irregularidades. Em depoimento
aos parlamentares, PC Farias negou as acusações. Após as oitivas, o
relatório da comissão apontou que o presidente da República se
beneficiou das operações ilegais do empresário.
A compra de um Fiat Elba para Rosane Collor,
então primeira-dama, comprovou a ligação entre o presidente e PC
Farias. O cheque para a aquisição do carro era de um correntista
fantasma e foi assinado por Jorge Bandeira de Melo, sócio do
ex-tesoureiro da campanha.
Com os escândalos, a sociedade civil e os
estudantes começaram onda de manifestações pedindo o afastamento de
Fernando Collor. Os ‘caras-pintadas' tomaram as ruas. "Foi um momento de
amadurecimento político da sociedade brasileira", avaliou José Salvador
Faro, professor da Universidade Metodista de São Paulo. Para conter a
onda de manifestações, o presidente chamou a população para vestir verde
e amarelo para rebater seus acusadores.
O pedido não foi atendido e as pessoas
colocaram roupa preta, o que originou o Domingo Negro. "Quando, no
domingo, as informações começaram a chegar que as pessoas estavam se
vestindo de preto ao invés de verde e amarelo, eu disse: ‘A Presidência
está perdida'", disse Collor em entrevista ao jornalista Geneton Moraes
Neto, em 2005. O ex-presidente admitiu que se arrependeu de convocar a
população. "Foi um erro tático seriíssimo", lembrou Collor. Dias após o
primeiro revés popular do presidente, um protesto reuniu milhares de
pessoas no Vale do Anhangabaú, em São Paulo.
Fonte: http://www.dgabc.com.br/News/5984248/impeachment-de-collor-completa-20-anos-hoje.aspx
Nenhum comentário:
Postar um comentário