terça-feira, 15 de novembro de 2011

Joãozinho da Gomeia


Caros amigos, estou repassando essa crônica para que possamos avaliar nossos atos. A alguns dias cerca de um mês ou mais, saiu uma matéria no Jornal O GLOBO dizendo que a sepultura de Seu Joãosinho da Goméa. Estava sendo escondida por plantas colocada no local para este fim e que as roupas doadas ao Instituto Histórico da Câmara Municipal de Duque de Caxias, tinha desaparecido.

O repórter não se preocupou com o conteúdo da matéria sensacionalista e outro jornalista do Município repetiu a informação sem averiguar os fatos, Até o presente dia a funcionaria responsável pelo acervo não conseguiu o direito de resposta. Afirmo com certeza que as roupas ainda do Rei do Candomblé, ainda existente no Instituto. Quem quiser ver basta ir ate lá e marca, pois as peças não ficam expostas devido a espaço físico suficiente.

A maior preocupação que tenho e que estas matérias depois servem de fonte primaria para estudos universitários e infelizmente a noticia não e real, fico a pensar qual a diferença da fofoca para imprensa alienada repetidora de ideias e sem avaliação de fatos. Pessoas poderiam ter perdido empregos e ate mesmo a justiça poderia ter sido envolvida no meio, para ambas as partes.

A notinha do jornal causou uma de duvidas e seguidores do candomblé, por saberem que tenho vídeos de seu João no Youtube e pesquiso a goméia a alguns anos. Entraram em contato comigo que tentei esclarecer, com isso perceberam o descaso das autoridades com o nome de Seu João Alves Torres Filho que tantos olhares atraiu para Duque de Caxias.

Esta crônica foi enviada por uma adepta do candomblé que diferente dos repórteres, foi buscar prova de parte da denuncia. Com isto ela junto de outros amigos, idealizou uma homenagem a Seu João da Goméa. Que será realizado do dia 02 de Novembro as 10hs da manhã no cemitério do corte 8, seguindo com uma procissão ate o antigo Terreiro. A idéia e relembrar o acordo firmado com a prefeitura para construção do “Centro Cultural Afro Brasileiro Joãosinho da Goméa”. Ao povo do santo, não confundam a ideia de preservar o nome de seu João da Goméa com as intrigas ou brigas pelo poder do titulo de herança. Seu João foi uma personalidade que representou a luta homossexual, a resistência negra e realizou muita ajuda social na região próximo ao seu terreiro.

Pela pessoa que foi, deve ser respeitada a sua história. O antigo terreno hoje pertence a prefeitura, seu nome e tumulo pertence as paginas da história. O centro cultural afro brasileiro condo contruido pode tornar-se uma referencia a cultura negra na região da Baixada fluminense.

Axé a todos.

----- Mensagem encaminhada ----
De: Claudia Regina Ignacio da Silva <codinhadf@yahoo.com.br>
Para: progenerico@yahoo.com.br
Enviadas: Sexta-feira, 15 de Outubro de 2010 6:55:55
Assunto: Cronica Ngangalesi

JG - A SAGA
Por muito tempo, relutei por entrar num cemitério.Mesmo com a perca de vários entes amados, nunca fui visitá-los . NUnca rezei diante de suas lápides. DEfinitivamente não gosto de cemitérios. MAs, lá estava eu. Movida por um "não sei o quê", talvez pelo desafio, simplesmente, e acompanhada por um novo amigo de "infancia", adentrei à recepção do cemitério e já fui indagando:
Alguem, poderia me mostrar onde fica a sepultura de Joãozinho da Goméia?
- E a moça morena indagou: Quem?
A senhora sabe a data do sepultamento, o número da sepultura, em que quadra ele está?
É claro que eu não sabia nada disso. E precisava saber? Afinal era de Sr João da Goméia que eu estava falando.
E ela ainda complementou:
_ Senhora, veja qtos livros, como vou poder procurar um por um?
Meu jovem amigo, se espantou ao saber que ali não tinha computador.
E subimos a ruazinha estreita que adentra o cemitério, e entre tantas informações incorretas, um jovem coveiro, (ou seria auxiliar de sepultamento ?), nos indicou a direção da sepultura.
Diante daquele pequeno espaço ( o que nos cabe, desse latifúndio), evitei pensar. Não, não quiz repensar na vida, não me permití concentração, não me permití uma oração, não me permití "religar".Achei!
E num túmulo simples, simplório, simplemente um túmulo como tantos outros, mas, entre outros tantos, imponentes, bem cuidados, decorados, que guardam anonimos amados, alí naquele encontra-se descansando aquele que fundou uma raiz religiosa. Aquele que elevou o nome de uma religião. Que mostrou à alta sociedade, preconceituosa e déspota, de sua época , a beleza e a magia do candomblé. Ali jaz, quem em vida não foi simples. Polemico e atrevido, simplemente deixou um legado de fé e história. Diante da foto estampada na lápide, lê-se apenas " J.Goméia". MAis nada. Uma floreira, sem flores, algumas flores artificiais, que um dia foram bonitas, e dois jarros, de barro, como o barro que cobrirá a todos nós, que com certeza, algum significado religioso contiveram um dia, e hoje apenas, servem de criadouro para mosquitos. NAda mais. Uma lápide apenas. Simples assim.
No túmulo vizinho, deparo com duas palmeirinhas, ( o motivo da minha visita), ladeando carinhosamente, e sombreando a ultima morada de alguem lembrado com carinho pelos seus. Elas emprestam seus fios de sombra, e refrescam o descanso do vizinho ilustre, aos seus pés, como se dando adobale.
Não, definitivamente, aquelas palmeirinhas, não foram plantadas para "esconder" a morada de J. Goméia. Ele está lá, esperando ser lembrado, ao menos por aqueles que cultuem ancestralidades, que cultuem história, que cultuem axé.E eu alí.
Cézar meu amigo e irmão de fé, se empolga, e visita outros túmulos de outros zeladores, não tão famosos,mas tambem importantes, porém nítidamente mais acarinhados pelos seus descendentes, visto, o cuidado com seus túmulos.
Minha missão estava cumprida. Podemos voltar aos nossos lares, postar informações. Adeus J.Goméia! Não me cabe contar sua história. Fizeram-te cadeira cativa em teses de mestrados.Adeus, " Rei do Candomblé".!
MAs..
PAra que uma saga, seja mesmo uma saga, ela precisa ser complicada. e em se tratando de J.goméia, nada pdoe ser simples.
Já ofegante, tamanha força despreendida, para evitar emoção, mostrei ao meu amigo-irmão-repórter-fotógrafo-apoio
Cézar de Oxóssi ( tinha que ser!), a direção de onde era localizado a roça, o barracão, a casa de J.Goméia, e como que levados, enlevados, enredados, entusiasmados, seguimos naquela direção.
Conheço o bairro, conheço o lugar. PArentes, amigos, residiram e ainda residem naquela rua, porem, nunca tive intimidade com a história daquela casa, daquele axé.
Chamo para me auxiliar, uma amiga de longa data, da minha família, e ela sem pestanejar nos leva ao terreno, onde um dia, foi o império do Rei do Candomblé.
Empolgada com minha presença, visto que não nos víamos há muito, minha amiga, conta pequenas histórias , que ainda vem à sua memória, dos belos tempos de função na casa do Sr João. Fala da belas festas, qdo a rua ficava lotada de carros, de gente bonita. Fala com orgulho que sua mãe era filha de santo daquela casa, e teria sido criada, alí dentro, ajudando, brncando, crescendo, mesmo sem ter sido iniciada. Mostra com riqueza de certeza e de detalhes, onde ficava a casa do Caboclo Pedra Preta, a casa de Obaluaê, onde teria sido o roncó, e as outras dependencias, e por fim mostrou-nos onde teria sido a residencia do sacerdote.
E como toda saga tem seu momento de ápice. Era aquele alí o meu momento.
Quando após chamados insistente, sai de dentro do casebre( que um dia foi palácio), um senhorzinho, meio mudo, meio surdo, meio curvado, meio feio, meio cuidado, e logo nas suas primeiras palavras, percebí que Eu é quem estava enganada por inteiro. Eu estava defronte de um ser humano inteiro!
Apenas, 85 anos de idade. 62 anos de iniciado pelas mãos de J. Goméia. E alí ainda estava. Nem tão firme, e nada forte, mas alí permanecia.Preocupado ainda, com a quebra de seu runjeve, anunciando talvez a sua partida. Enquanto pergunto se gostaria de ir à uma festa de candomblé, seus olhos brilham e com gestos claudicantes, demonstra o quanto gostava e sabia dançar.
Eu estava diante de muita história, de muita riqueza, de muito fundamento, que poderia ser passado, e está alí, se perdendo, se esvaindo, escorrendo pelas mãos.O que fazer?
MInha amiga, conta com nostalgia, de como eram brancas e lindamente engomadas as saias de Oyá, e como ela dançava majestalmente quando incorporada naquela pessoa franzina.
E poucas foram as histórias ali, contadas devido o adiantar da hora. MAs muitas foram as impressões deixadas.
PAra quem não entende de ancestralidade, de axé, de legado, não consegue dimensionar o sentimento de quem vê aquele espaço sacralizado, plantado, que tanto serviu à Orixás, Nkice, à fé., simplesmente, não, simplesmente não, grandiosamente abandonado e destruído.
Axé!
Nzambi ua Kuatesá

Um comentário:

  1. Inhambupe ainda não prestou uma homenagem a este seu filho importante. Num trabalho que fiz para o atual Prefeito, antes da sua posse. Ressaltei o descaso de todos com a nossa história, principalmente com os seus filhos ilustres. Lembrei de outros no trabalho. Todos mereciam uma estátua, que deveriam ser feitas por artistas locais, com os mais diversos materiais. Entre eles lembrei da Prefeita Simone Simões, recém falecida. Caso seja do interesse dos internautas Inhambupenses, seria bom fazer uma pesquisa no google. Lá vocês vão encontrar todos, inclusive a Glória Maria dizendo que nasceu em Vila Izabel, no Rio de Janeiro. Esta merece ser esquecida. Sei que ela foi trazida para o Rio de Janeiro por Joãozinho da Golméia. Ele trouxe muita gente, colocando para estudar e tudo mais. Amigo meu de infância, parente dele, foi também e não resistiu a saudade e voltou para Inhambupe. Mora hoje em Salvador com a família. Conheci o Joãozinho quando menino, também o irmão dele, Pedro torres, grande trompetista. Conheci também os pais. A mãe, D. Senhora, era madrinha do meu irmão.
    Simões/Rio de Janeiro

    José Simões

    ResponderExcluir