quinta-feira, 29 de abril de 2010

A infância sobre a mesa



Wagner Hilário *
• De Inhambupe
Ana Dantas de Sousa Garcia, nome de casada, também tem 60 anos. É alguns meses mais nova que a amiga. São do mesmo ano, 1945. Ela de dezembro, a amiga de agosto. Ela sagitariana, a amiga leonina.
- Não lembro datas, diz Ana, mas calcula que aos seis anos mudou-se de Inhambupe, noroeste da Bahia, cidade onde nasceu, para Janaúba, norte de Minas Gerais.
- Um nada, pura roça, hoje é que se pode chamar de cidade. Hoje tem universidade, até Fisk – escola de inglês –, e um pouco mais de 60 mil habitantes. Na época tinha só três anos de história. Inhambupe era maior, com seus mais de dois séculos de fundação. Contudo, atualmente, embora seja um dos principais pólos produtores de laranja da Bahia, possui por volta de 26 mil moradores.
De qualquer forma, para Ana foi difícil sair de uma cidade onde morava na Fazenda Gavião, do avô paterno, casa feita de tijolos e espaçosa, cercada de bois e terras, para outra em que teria de edificar com pau-a-pique os poucos cômodos em que viveria com os seis irmãos, o pai e a madrasta. Até hoje não sabe por que se mudaram. Problema entre os irmãos do pai, o pai e a herança deixada pelo avô, acredita.
A terra de Janaúba era seca, como a de Ianhambupe. O pai, José, e a família viveriam da plantação de feijão e da pecuária, assim como ocorria na Bahia, nos últimos tempos. Porém em Minas a proporção das criações e do cultivo seria bem inferior, quase reduzida à subsistência. Começariam tudo do zero.
* Jornalista, repórter da revista “SuperHiper” e pós-graduando em Jornalismo Literário pela ABJL (Academia Brasileira de Jornalismo Literário) em São Paulo (SP), 2006.

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