segunda-feira, 1 de abril de 2013

Esperando Mandela…partir

A última aparição pública, final da Copa em 2010

Nelson Mandela está no hospital, de novo. Ele tem pneumonia e 94 anos. Boletim do governo sul-africano divulgado no domingo comunica que as condições do venerável líder melhoram. Quanto a mim, não sei se Mandela irá morrer em questão de horas, dias ou se irá passar dos 100 anos. Sabemos do inevitável espetáculo macabro inspirado pela longa vida e a estatura de alguém como ele. Aqui os clichês são obrigatórios: herói da luta antiapartheid, pai da reconciliação sul-africana e a figura mais próxima que o mundo tem de santo vivo.
E conhecemos o ritual: editores dão uma polida e atualização nos obituários, suplementos e documentários. A mesma coisa com os planos M, de cobertura do funeral, para o qual virá todo mundo, de dignatários a Oprah Winfrey. Existe a ansiedade sobre como será a África do Sul sem ele, embora Mandela tenha deixado a presidência em 1999.
A espera e os preparativos do gênero valem também para o octogenário Fidel Castro, outra figura grande da história, embora sem a grandeza de Mandela. E, de fato, a indústria Mandela é imensa e antiga. Imagine, em 1997, o jornalista sul-africano Lester Venter  publicou o livro”Quando Mandela Partir”.
Haverá a ocasião oportuna aqui para o balanço mais detalhado (ok, o obituário) de Mandela, mas é sempre bom antecipar um alerta. Mandela está na galeria de figuras grandiosas da história, como Mahmata Gandhi e Martin Luther King, mas eles tiveram morte repentina (assassinatos), enquanto o venerável sul-africano vai partindo lentamente (Fidel dá umas aceleradas).
Herdeiros políticos e genéticos de Mandela tiram a lasquinha enquanto é possível. A última aparição pública de Mandela foi em julho de 2010, na partida final da Copa do Mundo. No ano anterior, ele fora usado de forma vergonhosa em um comício eleitoral do governista Congresso Nacional Africano, do qual será até o fim, e além, um fiel militante. Mandela, de alguem forma, estará presente nas eleições de 2014, exatos 20 anos depois de sua vitória triunfal como o primeiro presidente negro da África do Sul.
Tanta manipulação não surpreende. Mesmo máquinas governistas menos autocráticas e corruptas do que o Congresso Nacional Africano fariam o mesmo se tivessem alguém como Mandela à disposição. De qualquer modo, uma pena, assim como este excesso de deslumbramento. Eu mencionei acima figuras trágicas assassinadas como Gandhi e Luther King. Podemos também mencionar Abraham Lincoln, o presidente republicano que transcendeu partidos e é reverenciado por todo mundo (ok, quase todo mundo, afinal os eleitores de Hollywood não deram o Oscar de melho filme).
Mandela merece muita estátua e estatueta, mas nada de embalsamar ou canonizar o homem. Ele é super, mas não superhomem. Como já disse, haverá o momento oportuno (muito em breve ou talvez depois do obituário de Fidel), para um balanço de Mandela, mas, por ora, fico com a frase de George Orwell, quando escreveu a resenha de uma biografia de Gandhi em 1949: “Santos sempre devem ser julgados culpados até serem provados inocentes”.

Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/nova-york/africa-do-sul/esperando-mandela-partir/

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