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quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Parabéns Inhambupe Bahia pelos os seus 124 anos de Emancipação Política e 450 anos de fundação

DESMEMBRAMENTOS E ANEXAÇÕES TERRITÓRIAIS

O território de Inhambupe, a partir de 1896, sofreu vários desmembramentos e anexações, até chegar à forma atual. Não foi possível reconstituir todas as mudanças ocorridas, mas é certo que a área do município vem, desde então, sendo modificada e tendo seus limites reduzidos. Ouve-se dizer que até o município de Alagoinhas fizera parte do território de Inhambupe, embora nenhuma informação oficial a respeito tenha sido encontrada.
Não foi possível apurar qual era, precisamente, a extensão territorial de Inhambupe no período de 1896 a 1911. Entretanto, a partir daí, as informações são mais precisas.
Sabe-se, por exemplo, que na divisão administrativa de 1911, o município compunhase da sede e mais os seguintes distritos: Aporá, Catumbi, Mulungu, Caueira, Recreio, Tanquinho, Jibóia, Encantado, Serra, Lagoa Barreiro, Jacu, Curralinho, Caititu, Junco e Bebedouro.
Pelo Decreto nº 1479, de 08 de julho de 1931, parte do município de Itapecuru, à margem direita do rio de mesmo nome, foi anexada ao território de Inhambupe, que na divisão de 1933, passou a ser constituído dos distritos de Inhambupe, Itapororocas, Aporá e Sátiro Dias.
Tempos depois, na divisão territorial de 1937, de acordo com o quadro anexo ao Decreto Lei Estadual nº 10.272, de 30 de março de 1938, foi anexado ao município de Inhambupe mais um distrito, o da Serra do Aporá. Somando-se esse aos existentes em 1931, o município passou a ser constituído de cinco distritos.
O Distrito de Itapororocas foi anexado ao distrito-sede, pelo Decreto Estadual nº 11.089, de 30 de novembro de 1928 e, com isso, o município Inhambupense ganhou nova conformação distrital, qual seja: Inhambupe, Aporá, Itamira (ex-Serra do Aporá) e Sátiro Dias.
Também pelo decreto nº 11089, de dezembro de 1938, os limites territoriais de Inhambupe foram redefinidos com os municípios de Serrinha, Soure, Itapecuru, Esplanada, Entre Rios, Alagoinhas e Irará. Também foram redefinidas as divisas dos distritos de Inhambupe e Sátiro Dias, Inhambupe e Itamira e de Itamira e Aporá.
Seis anos depois, pelo Decreto nº 12.978, de julho de 1944, os limites do território Inhambupense foram novamente alterados, desta vez com os municípios de Serrinha, Nova Soure (ex-Soure), Itapecuru, Esplanada, Entre Rios, Alagoinhas e Irará. Houve, pelo mesmo ato, a redefinição das divisas dos distritos de Inhambupe e Sátiro Dias, Inhambupe e Itamira e de Itamira e Aporá.
Este decreto mudou os pontos referenciais de divisas dos citados municípios em relação ao Decreto nº 11089, de dezembro de 1938.
Em 1958 ocorreram novas mudanças, conforme a Lei nº 1033, de 14 de agosto, que criou o município de Olindina, desmembrado do território de Itapecuru.
Em 14 de agosto de 1958, pela Lei nº 1021, criou-se o município de Aporá, desmembrado do território de Inhambupe; e, pela Lei nº 1032, de 14 de agosto de 1958, outra parte do território Inhambupense foi desmembrada para constituir o município de Sátiro Dias.
Ocorreram também algumas alterações nos territórios de municípios vizinhos, como são os casos da Lei nº 1473, de 6 de setembro de 1961, pela qual se criou o município de Aramari, desmembrado do território de Alagoinhas, implicando alterações nas divisas do município de Inhambupe.
Situação semelhante se deu com a Lei nº 1712, de 13 de julho de 1962, que desmembrou parte do território de Irará para criar o município de Água Fria. Por essa lei os pontos referenciais do território de Inhambupe foram alterados em relação aos definidos no Decreto nº 11089, de dezembro de 1938.
Depois disso, as informações encontradas indicam que o território de Inhambupe passou a ser constituído dos Distritos de Baixa Grande e Volta de Cima e de vários povoados, dentre eles: Colônia Nova de Cima, Lagoa Branca, Colônia Velha, Formoso, Aldeia Hum, Saquinho do Gravatá, Lagoa, Lagoa Seca e outros, conforme indicado no Mapa Geográfico do município.
Atualmente o território de Inhambupe faz divisas com os seguintes municípios: Olindina, ao Norte; Crisópolis, ao Norte/Nordeste; Aporá, a Leste; Entre Rios, Sudeste/Sul; Alagoinhas e Aramari, ao Sul; Água Fria, a Sudoeste/Oeste; e Sátiro dias, a Oeste. Aventa-se, atualmente, a possibilidade de parte do território de Inhambupe ser desmembrada e anexada ao município de Água Fria.

Fonte: Plano Diretor de Inhambupe de 2006

terça-feira, 7 de julho de 2020

Rui quer Anísio Teixeira como patrono da educação baiana



O governador Rui Costa encaminhou à Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) um projeto para transformar Anísio Teixeira o patrono da educação baiana. O educador baiano considerado o inventor da escola pública no Brasil nasceu em Caetité em 12 de julho de 1900. O projeto enviado por Rui de reconhecimento de Anísio Teixeira faz parte de uma série de comemorações pela passagem dos 120 anos do educador. 

Na mensagem ao Legislativo estadual,  Rui escreveu que o Projeto de Lei é uma homenagem para Teixeira, "que deixou de legado contribuições de grande relevância". 

"Podemos citar a formulação de conceitos fundamentais sobre o que designava de Educação Democrática, através da concepção da nova escola pública, da defesa da educação como indutora de desenvolvimento social, cultural e humano, bem como por meio da universalização da educação nos níveis iniciais e da ampla oportunidade de acesso à educação superior, aliada ao uso intensivo das tecnologias educacionais mais atualizadas”, justificou o governador. 

A proposta passará pelas comissões do Legislativo estadual antes de ser levada ao plenário e votada pelos deputados estaduais. 

PATRONO
Anísio Spínola Teixeira foi bacharel em direito, gestor público, intelectual, educador e se tornou personagem importante na história da educação no Brasil quando, nas décadas de 1920 e 1930, difundiu o movimento denominado ‘Escola Nova’, cujo foco foi a renovação pedagógica da escola.


No período entre 1947 e 1950, Anísio Teixeira foi secretário de Educação e de Saúde da Bahia quando participou da construção do Centro Popular de Educação Carneiro Ribeiro, popularmente conhecido como Escola Parque, localizada na Caixa D’água, em Salvador, fundada em 1950. A escola fez parte do projeto que consolidou a Educação Integral na pedagogia brasileira.

Fonte: https://www.bahianoticias.com.br/noticia/250482-rui-quer-anisio-teixeira-como-patrono-da-educacao-baiana.html

quinta-feira, 2 de julho de 2020

3 curiosidades sobre a Guerra de Independência na Bahia

Quadro de Antônio Parreiras, “O primeiro passo para a independência da Bahia”. (Imagem: Wikimedia Commons)

A proclamação da República foi mais difícil e violenta do que muitos imaginam, teve uma heroína mulher e não aconteceu em São Paulo

Uma ideia bem corrente entre os brasileiros é que a independência do Brasil foi tranquila: dom Pedro I gritou “Independência ou morte!” às margens do rio Ipiranga, em São Paulo, ao que os portugueses deram de ombros e voltaram para Lisboa. Fácil assim, não é? Não, nada disso. A independência do Brasil só foi relativamente pacífica no Sudeste. Várias guerras eclodiram e perduraram até depois do grito do imperador – e disso os baianos entendem muito bem. Em 2 de julho de 1823, os brasileiros cantavam vitória sobre os portugueses em Salvador, depois de uma guerra que durou mais de um ano na Bahia. A data é tão importante que virou feriado regional.


Saiba três curiosidades sobre o conflito que ajudou a selar a liberdade brasileira perante a Coroa portuguesa:


Durou quase um ano a mais do que a proclamação “oficial”

… e começou bem antes. A origem da guerra vem de 1820, quando, durante a Revolução do Porto, os cidadãos portugueses começaram a exigir o retorno do rei dom João VI. Ele atendeu ao clamor e retornou a Portugal, deixando o filho Pedro como príncipe regente. Disso você já sabe. Mas, para reforçar o controle sobre a colônia – também uma exigência dos portugueses -, foram enviados novos comandantes militares, todos lusitanos, para diversas províncias, entre elas a Bahia, a que foi destinado o brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo.


A elite brasileira, dona de terras, não gostou de se ver novamente sob o domínio português. À chegada do novo comandante, seguiu-se uma batalha que durou três dias, com cerca de 300 mortos – inclusive, a abadessa idosa Joana Angélica, que morreu defendendo o seu convento. Após os três dias, as tropas de Madeira de Melo dominaram por definitivo a cidade, e os focos de resistência começaram a surgir no recôncavo baiano. Isso tudo começou no dia 18 de fevereiro de 1822. A vitória definitiva dos brasileiros só aconteceria quase um ano e meio depois, 10 meses após o grito de independência de dom Pedro I.


Durante a guerra, a Bahia teve duas capitais

Com Salvador tomada, não restou muito aos brasileiros a não ser o refúgio nas cidades vizinhas. Várias famílias, fugidas ou expulsas, entre eles senhores de engenho poderosos, começaram a articular o revide e a apoiar as pretensões do príncipe regente de garantir a autonomia brasileira. Para os portugueses, o cenário era favorável, tirando um detalhe: Salvador era incapaz de se manter sozinha. A capital, segunda maior cidade da colônia, era um grande centro militar e escoava muitos produtos para fora, mas dependia dos alimentos produzidos no interior para o abastecimento.

Disso vem um dos trunfos da vitória: a maior parte dos produtos fornecidos vinham do recôncavo baiano, cuja cidade mais importante, Cachoeira, era uma espécie de quartel-general que concentrava as forças rebeldes brasileiras. Por isso, costuma-se dizer que, naquele período, a Bahia teve duas capitais.

As tropas brasileiras eram compostas de homens livres, escravos e negros libertos, todos voluntários, já que, àquela época, o exército brasileiro era muito desorganizado. Além disso, o próprio dom Pedro contratou estrangeiros para auxiliar os rebeldes brasileiros – entre eles, o almirante Thomas Cochrane, que liderou as forças marítimas e foi figura decisiva na vitória baiana.


Sua heroína foi a militar Maria Quitéria

Após diversas batalhas, muitas delas envolvendo canhões e artilharia pesada, os brasileiros começaram a ganhar terreno, em 1823. Em uma delas, vencida pelos rebeldes, surgiu uma das lendas que envolvem a independência baiana: o corneteiro Luís Lopes, que deveria comunicar uma ordem de recuo, se confundiu e acabou emitindo o aviso de “avançar, degolar”. O engano teria apavorado os militares portugueses, que recuaram, imaginando que os inimigos esperavam reforços.

Em junho de 1823, com o apoio do almirante Cochrane, que rondava a cidade por mar, as frentes portuguesas ficaram totalmente acuadas, sendo atacadas por vários lados ao mesmo tempo. Na madrugada do dia 2 de julho, o brigadeiro Madeira de Melo fugiu de volta para Lisboa. Dentre o exército vitorioso, uma pessoa em especial se destacou até mesmo perante o novo imperador. A soldado Maria Quitéria abandonou o noivo, fugiu de casa e fingiu-se de homem para se alistar no quartel de Cachoeira. Por sua perícia no manejo das armas, foi notória em combate, derrotando e aprisionando vários soldados portugueses.  Ela tornou-se o símbolo da resistência baiana e foi condecorada com a Ordem Imperial do Cruzeiro, oferecida em pessoa por dom Pedro I.

Fonte: https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/3-curiosidades-sobre-a-guerra-de-independencia-na-bahia/

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Bahia vende ingressos simbólicos pela retransmissão da final do Brasileiro de 88

No próximo domingo (17) o torcedor do Tricolor vai poder assistir o Bahia sendo campeão do Brasileiro de 1988. Após realizar campanha com a venda de ingressos simbólicos para a retransmissão da semifinal, o Bahia vai repetir a ação com a reprise pela TV Bahia da final do Campeonato Brasileiro contra o Internacional.  
O jogo no Beira-Rio, que garantiu a segunda estrela ao Bahia, será reproduzido às 16h com narração original de Galvão Bueno. Para incentivar a torcida, o clube resolveu adotar novamente a venda de réplicas do ingresso original por R$ 5, oferecendo cupons de desconto aos compradores e convertendo a arrecadação em ajuda financeira do programa de Dignidade aos Ídolos, que auxilia ex-jogadores do Esquadrão.

Os torcedores podem adquirir os ingressos virtuais no aplicativo oficial Bahia acessando a seção "Cupons".

Vencendo o Internacional no jogo de ida por 2 a 1 na Arena Fonte Nova, o último jogo do campeonato terminou em um empate sem gols que consagrou o Bahia novamente como campeão Brasileiro.

Fonte: https://www.bahianoticias.com.br/esportes/bahia/23837-bahia-vende-ingressos-simbolicos-pela-retransmissao-da-final-do-brasileiro-de-88.html

sábado, 9 de maio de 2020

Máscaras e mingau: como o mundo tentou conter a pandemia da gripe espanhola em 1918


Algumas recomendações eram semelhantes às que temos para combater a covid-19, enquanto outras eram fruto de pura especulação.


É perigoso traçar muitos paralelos entre o coronavírus e a pandemia de gripe espanhola de 1918, que matou pelo menos 50 milhões de pessoas em todo o mundo.
A covid-19 é uma doença totalmente nova, que afeta desproporcionalmente as pessoas mais velhas. A gripe que varreu o mundo em 1918 tendia a atingir aqueles com idades entre 20 e 30 anos, com fortes sistemas imunológicos.
Mas as ações tomadas por governos e indivíduos para impedir a propagação da infecção têm similaridades.
A agência de saúde pública da Inglaterra (Public Health England) estudou o surto de gripe espanhola para elaborar seu plano inicial de contingência para o novo coronavírus. A lição principal é que a segunda onda da doença, no outono de 1918, foi muito mais mortífera que a primeira.
Mulheres do Departamento de Guerra faziam caminhadas de 15 minutos para respirar ar fresco todas as manhãs e noites

Mulheres do Departamento de Guerra faziam caminhadas de 15 minutos para respirar ar fresco todas as manhãs e noites
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Evitar aglomerações
O país ainda estava em guerra quando o vírus fez sua primeira vítima registrada, em maio de 1918. O governo do Reino Unido, como muitos outros, parece ter decidido que o esforço de guerra viria antes da prevenção de mortes por gripe.
A doença se espalhou rapidamente nas tropas e nas fábricas de munições, além de ônibus e trens, de acordo com um relatório de 1919 de Arthur Newsholme para a Royal Society of Medicine.
Mas um "memorando para uso público" que ele escreveu em julho de 1918, que aconselhava as pessoas a ficar em casa se estivessem doentes e a evitar grandes reuniões, foi ignorado pelo governo.
Newsholme argumentou que muitas vidas poderiam ter sido salvas se essas regras fossem seguidas, mas acrescentou: "Existem circunstâncias nacionais em que o principal dever é 'continuar', mesmo quando há risco à saúde e à vida".
As mulheres usam máscaras de pano de estilo cirúrgico para proteger contra a gripe.
As mulheres usam máscaras de pano de estilo cirúrgico para proteger contra a gripe.
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Em 1918, não havia tratamentos para a gripe e nem antibióticos para tratar complicações como pneumonia. Os hospitais ficaram rapidamente sobrecarregados.
Não havia um bloqueio imposto centralmente para conter a propagação da infecção, embora muitos teatros, casas noturnas, cinemas e igrejas estivessem fechados, em alguns casos por meses.
Os pubs, que já estavam sujeitos a restrições de horário de guerra no funcionamento, geralmente ficavam abertos. As competições de futebol Football League e FA Cup foram canceladas devido à guerra, mas não houve esforço para cancelar outras partidas ou limitar as multidões, com equipes masculinas jogando em competições regionais e o futebol feminino, que atraiu grandes multidões, continuou durante toda a pandemia.

Fake news já em ação

Ruas em algumas vilas e cidades foram borrifadas com desinfetante e algumas pessoas usavam máscaras, enquanto seguiam suas rotinas.
Operadora de telefonia com gaze protetora no rosto
Operadora de telefonia com gaze protetora no rosto
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

As mensagens de saúde pública eram confusas - e, como hoje, as notícias falsas e as teorias da conspiração eram abundantes, embora o nível geral de ignorância sobre como levar uma vida saudável não tenha ajudado.
Em algumas fábricas, as regras para não fumar eram relaxadas, na crença de que os cigarros ajudariam a prevenir a infecção.
Durante um debate parlamentar sobre a pandemia, o deputado conservador Claude Lowther perguntou: "É verdade que uma forma de prevenção contra a gripe é ingerir cacau três vezes ao dia?".
Campanhas publicitárias e folhetos alertaram contra a propagação de doenças através de tosses e espirros.
Em novembro de 1918, o News of the World, jornal britânico em formato tabloide, aconselhava seus leitores a "lavar o nariz com água e sabão todas as noites e manhãs; forçar-se a espirrar de noite e de manhã, depois respirar profundamente."
Recomendava, ainda, voltar caminhando do trabalho para casa e comer bastante mingau.
Nenhum país ficou intocado pela pandemia de 1918, embora a escala de seu impacto e os esforços do governo para proteger suas populações tenham variado muito.
No Brasil, não há uma contabilização exata das vítimas, mas a estimativa é que cerca de 35 mil pessoas morreram no país devido à gripe espanhola. Os relatos são de que o Rio de Janeiro, então capital do país, parou completamente.

Quarentenas nos EUA

Nos Estados Unidos, alguns Estados impuseram quarentenas a seus cidadãos, com resultados variados, enquanto outros tentaram tornar obrigatório o uso de máscaras faciais. Cinemas, teatros e outros locais de entretenimento foram fechados em todo o país.
Barbeiros tomaram precauções para conter a infecção, com uso de máscara
Barbeiros tomaram precauções para conter a infecção, com uso de máscara
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Nova York estava mais preparada do que a maioria das cidades dos EUA, já tendo passado por uma campanha de 20 anos contra a tuberculose. Como resultado, teve uma menor taxa de mortalidade.
No entanto, o comissário de Saúde da cidade ficou sob pressão das empresas para manter tudo aberto, principalmente os cinemas e outros locais de entretenimento.
Um funcionário de limpeza pública na cidade de Nova York usa uma máscara para ajudar a controlar a propagação da epidemia de gripe, em outubro de 1918 (Foto de PhotoQuest/Getty Images)
Um funcionário de limpeza pública na cidade de Nova York usa uma máscara para ajudar a controlar a propagação da epidemia de gripe, em outubro de 1918 (Foto de PhotoQuest/Getty Images)
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Estar ao ar livre era visto como algo benéfico contra a propagação de infecções, levando a algumas soluções engenhosas para manter a sociedade em movimento.
Tribunal realiza reunião ao ar livre em um parque devido à epidemia em San Francisco, 1918. (Foto de Hulton Archive / Getty Images)
Tribunal realiza reunião ao ar livre em um parque devido à epidemia em San Francisco, 1918. (Foto de Hulton Archive / Getty Images)
Foto: Getty Images / BBC News Brasil
Mas foi impossível impedir reuniões em massa em muitas cidades dos EUA, principalmente em locais de culto.
A congregação orando nos degraus da Catedral de Santa Maria da Assunção, onde se reuniram para ouvir missas e orar durante a epidemia de gripe, em San Francisco, Califórnia
A congregação orando nos degraus da Catedral de Santa Maria da Assunção, onde se reuniram para ouvir missas e orar durante a epidemia de gripe, em San Francisco, Califórnia
Foto: Getty Images / BBC News Brasil
Ao fim da pandemia, o número de mortos na Grã-Bretanha era de 228 mil, e acredita-se que um quarto da população tenha sido infectada.
Os esforços para deter o vírus continuaram por algum tempo, e a população ficou mais consciente do que nunca da natureza potencialmente mortal da gripe sazonal.
Um homem em ônibus da London General Omnibus Co, em março de 1920. (Foto de H.F. Davis / Agência de Notícias Topical / Hulton Archive / Getty Images)
Um homem em ônibus da London General Omnibus Co, em março de 1920. (Foto de H.F. Davis / Agência de Notícias Topical / Hulton Archive / Getty Images)

Fonte: https://www.terra.com.br/noticias/mundo/mascaras-e-mingau-como-o-mundo-tentou-conter-a-pandemia-da-gripe-espanhola-em-1918,7245810e1c0f4a8a7fe7359161e0480aibjid0cj.html

terça-feira, 5 de maio de 2020

AS MAIORES EPIDEMIAS DA HISTÓRIA



AIDS tem sido um dos grandes flagelos dos últimos tempos e, levando-se em conta a quantidade de infectados e mortos, pode-se considerar uma pandemia. Outras quatro pandemias acometeram parcelas expressivas de seres humanos: a Malária, a Peste Negra, a Varíola e a Gripe Espanhola. A seguir uma breve síntese histórica sobre a todas elas.

MALÁRIA

Há mais de 4 mil anos atrás apareceram os primeiros registros desta doença feitos pelos gregos. Uma doença transmitida por mosquitos também apareceu em textos médicos no sul e no leste do continente asiático. Os cientistas associam esta doença às águas paradas onde os mosquitos proliferavam. Na corrente sanguínea, eles crescem dentro dos glóbulos vermelhos, destruindo-os. 

A malária , também denominada de paludismo é uma doença infecciosa causada por protozoários do gênero "Plasmodium" e a transmissão se dá pelo mosquito "Anopheles fêmea".

Não se sabe ao certo a quantidade de mortes causadas pela malária, contudo os relatórios de órgãos multilaterais de saúde, como a Organização Mundial da Saúde ONU, sustentam que  a malária é a principal parasitose tropical. Somente no continente africano uma criança morre vítima da malária a cada 30 segundos ou cerca de 500 mil ao longo de um ano. 


Como não há vacina para a malária, existe a necessidade de um diagnóstico rápido para que o paciente, que frequentemente habita regiões remotas, receba tratamento contínuo. Quando o tratamento é feito rapidamente, e de forma correta, a malária tem cura.



PESTE NEGRA

Por volta de 1348, cerca de um terço da população europeia foi dizimado em decorrência da "peste negra". Estudos indicam que a pandemia acometeu algumas comunidades na Índia e na China. Como as condições de higiene na época eram as mais precárias, ratos eram atraídos e, com eles, suas pulgas, que transmitiam a doença pela picada. Os sintomas principais eram o inchaço das glândulas linfáticas, febre, respiração ofegante, muco com sangue e muita tosse.



A doença avança pelo sistema linfático podendo atingir, também as vias aéreas atacando diretamente o sistema respiratório. Essa segunda versão da doença, conhecida como peste pneumônica, tem um efeito ainda mais devastador e encurta a vida do doente em um ou dois dias. Em outros casos, a peste negra também pode atingir o sistema sanguíneo.

As embarcações vindas do Oriente que ancoravam nos portos europeus, entre os anos de 1346 e 1352, traziam milhares de ratos em seus porões. Rapidamente os ratos se espalhavam pelas cidades europeias que, a época, apresentavam condições precárias de higiene. O esgoto corria a céu aberto e o lixo acumulava-se nas ruas. Estes ratos e suas crias estavam contaminados com a bactéria Pasteurella Pestis encontrada nas pulgas. As pulgas destes animais transmitiam a bactéria aos homens através da picada. Morriam, inclemente, ratos e homens. 


VARÍOLA

Os conquistadores oriundos da Europa Ocidental, desembarcaram na América no final do século XV e início do século XVI, e mal sabiam que estavam num espaço muito maior do que a Europa e habitado por 100 milhões de nativos. Com a colonização ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII, este número de nativos foi reduzido para 10 milhões. Quando os colonizadores chegaram aqui, trouxeram com eles uma série de doenças, entre elas, a varíola cuja imunidade os povos coloniais não tinham. A varíola constituiu-se no principal meio de dizimação dos povos nativos nas áreas colonizadas pelos espanhóis, franceses e portugueses.



A varíola é uma doença infecto-contagiosa, isto é transmitida pelo contato com pessoas doentes ou objetos que entraram em contato com a saliva ou secreções destes indivíduos. No corpo, o patógeno se dissemina pela corrente sanguínea e se instala, principalmente, na região cutânea, provocando febre alta, mal estar, dores no corpo e problemas gástricos. Logo depois destas manifestações surgem, em todo o corpo, numerosas protuberâncias cheias de pus, que dificilmente cessam sem deixar cicatrizes.

A vacina foi criada no final do século XVIII por Edward Jenner. Em 1967, a Organização Mundial da Saúde deflagrou um programa de vacinação em massa, extinguindo  a doença, que atualmente só existe em laboratório. O último caso havia sido registrado em 1977 na Somália. Somente em 1980, a OMS anunciou a erradicação completa da doença no mundo. 

Apesar de controlada, algumas amostras do vírus permanecem, oficialmente, abrigadas no Centro de Controle e Prevenção de Doenças em Atlanta (Estados Unidos) e no Centro Estatal de Pesquisas de Virologia e Biotecnologia em Koltsovo (Rússia). Existe um grande temor quanto a possibilidade de utilização destes vírus (Orthopoxvirus variolae) como armas biológicas pelos governos russo e estadunidense. Por mais que a doença tenha sido erradicada, é ainda possível encontrar muitos jovens e crianças que não tiveram acesso à vacinação. O uso desta "arma" poderia causar um efeito destruidor inimaginável. A Organização Mundial de Saúde (OMS) pleiteia que os últimos vírus sejam destruídos até 2014. Não creio que russos e os americanos atenderão a este pleito.


GRIPE ESPANHOLA

A "Grande Guerra", encerrada no início do inverno de 1918já tinha contabilizado milhões de mortos entre combatentes e civis. Embora aliviada pelo fim da carnificina nos "fronts" de batalhas, os europeus se viram diante de uma pandemia com elevado índice de letalidade avassalando a região desde os primeiros meses daquele ano, era a "gripe espanhola". Em questão de meses (o pico se estendeu até o inverno de 1919), esta pandemia teria custado as vidas de 50 milhões de pessoas espalhadas no mundo, algo em torno de 15 % dos infectados pelo Vírus Influenza. O organismo das pessoas no mundo inteiro estava despreparado para a doença, que provavelmente ganhou força graças ao transporte de tropas e as linhas de abastecimento no fim da Primeira Guerra Mundial, espalhando o vírus para vários continentes e países.
A gripe espanhola apareceu em duas ondas diferentes em 1918. Na primeira onda, em fevereiro, mesmo que muito contagiosa, era uma doença branda não causando mais que três dias de febre e mal-estar. Já na segunda, em agosto, tornou-se mortal. Esta primeira onda de gripe atingiu especialmente os Estados Unidos e a Europa, a segunda devastou o mundo inteiro: muitos casos foram registrados na Índia, no leste asiático e na América Latina.

O número de infectados e por conseguinte o número de mortos teriam sido menores se os governos das principais nações não estivessem em guerra, mais recursos financeiros poderiam ter sido usados, melhores condições de isolamento dos infectados teriam sido engendradas, enfim teria havido um empenho mais producente dos governos no enfrentamento desta pandemia. A guerra, grosso modo, constituiu-se desta maneira numa espécie de catapulta para a "gripe espanhola. 

No Brasil, a epidemia chegou ao final de setembro de 1918: marinheiros que prestaram serviço militar em Dakar, na África, desembarcaram doentes no porto de Recife. Em pouco mais de duas semanas, surgiram casos de gripe em outras cidades do Nordeste, em São Paulo e no Rio de Janeiro.


AIDS 

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), apareceu no início da década de 1980, já são 25 milhões o número de vítimas da AIDS em todo o mundo. De acordo com estatísticas recentes, outras 33 milhões de pessoas são soropositivas. A AIDS é transmitida pelo vírus HIV, que se transmite pelo sangue, sêmen, líquidos vaginais e outros.

 
Acredita-se que o HIV tenha sido transmitido para os humanos pelos macacos. O compartilhamento de seringas para uso de drogas, prostituição, guerras, pobreza, sexo sem camisinha e outros fatores contribuíram e contribuem para a propagação da AIDS. A cura ainda não é possível, embora os estudos, os testes e os medicamentos atuais estejam caminhando muito rapidamente nesta direção.

Fonte: http://www.escritaglobal.com.br/2014/04/as-maiores-epidemias-da-historia.html

sábado, 11 de abril de 2020

Pandemias do passado, velhas quarentenas e novos ensinamentos



Enfermeiras da Cruz Vermelha transportam vítima da gripe de 1918 em Sant 
As doenças existem desde que o mundo é mundo, mas as epidemias, como a que vivemos atualmente, ou algo parecido, ocorrem em populações que passam certo tempo sob circunstâncias anormais, por exemplo, sob o desgaste de uma guerra, quando os campos deixam de ser cultivados e a fome se espalha. Mas e agora, por que as andanças do coronavírus em uma cidade do Oriente ocasionou tamanha letalidade mundo afora? Quando foram inventadas as quarentenas? Os Governos se aproveitam das pandemias? Quais são os bodes expiatórios? O medo é manipulado? Ana María Carrillo Farga é historiadora da Medicina, especialista em pandemias e professora do departamento de Saúde Pública da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM). Conversar com ela é como participar de um jogo de perguntas e respostas sobre a história da ciência.

Os dias no deserto

Quem acha que vivemos algo excepcional atualmente deveria saber que as quarentenas existem desde a época dos Estados venezianos do século XIV. Na época se desconhecia o período de incubação das doenças (e muitas outras coisas de caráter científico e sanitário), de modo que se estabeleceu um isolamento arbitrário de 40 dias, um número bíblico, de fato, os que Jesus Cristo passou na sua travessia espiritual pelo deserto. A peste era o demônio da época. As quarentenas não só isolavam ao doente do saudável como também impediam o desembarque de navios que chegassem ao porto, e mesmo assim a população se contagiava misteriosamente… Só no final do século XIX, com o desenvolvimento da bacteriologia (os vírus ainda eram pequenos demais para serem detectados com a tecnologia disponível), o campo do conhecimento saltou da Bíblia para a ciência.

A infância da globalização: duas teorias

Marinheiros e exploradores estenderam os limites do mundo e levaram o comércio além dos estreitos horizontes então vislumbrados. As epidemias naquele tempo eram uma ferramenta de conquista ―por exemplo, a varíola no processo de colonização da Mesoamérica. E tiveram um papel determinante na drástica queda da população ocorrida nos séculos XVI e XVII. Mas quando não foram úteis, buscou-se uma forma de combatê-las. No final do século XVIII havia duas posições a respeito, duas escolas: uns acreditavam na teoria do contágio entre pessoas e defendiam o isolamento (chamado com razão de sequestro). Estes eram os conservadores, os que não queriam mexer em nada, só controlar. Os espanhóis eram destes, para proteger o comércio das suas colônias.
No outro grupo estavam os que defendiam a teoria miasmática, os ingleses entre eles. Acreditavam que os corpos em decomposição, o lixo e as águas residuais emanavam eflúvios que adoeciam a população ao serem inalados. Estes se inclinavam pelo saneamento das cidades e pela melhoria das condições trabalhistas e domésticas como medidas mais eficazes para a saúde pública. Ambos tinham parte da razão; os segundos, se não na causa, pelo menos a respeito das consequências de viver em cidades insalubres. Mas algo continuava escapando ao entendimento: se a tripulação de um navio permanece isolada e não há contato entre pessoas nem circunstâncias ambientais, por que a população em terra acabava se contagiando? Faltava um terceiro elemento: os vetores, geralmente insetos, mosquitos, pulgas…
Paciente com febre amarela em isolamento no ano de 1910.
Paciente com febre amarela em isolamento no ano de 1910.TIME LIFE PICTURES / GETTY IMAGES

Uma estratégia internacional

A saúde começou oficialmente a ser um assunto de todos em 1851, na primeira reunião internacional sobre ela realizada em Paris, ainda com uma aparência muito europeia. Em 1881 o evento ocorreu em Washington. “As primeiras convenções sanitárias buscavam proteger os países e regiões da chegada de epidemias, mas tratando de interferir o mínimo possível no livre comércio e no trânsito de pessoas”, diz Ana María Carrillo.
A pauta daqueles encontros tinha outros objetivos secundários, como impulsionar a criação de organismos de saúde nos Governos de cada país ou insistir em que, em caso de pandemia, o conveniente era informar com transparência à comunidade internacional, assim como a pertinência do saneamento de portos e cidades. Preocupavam especialmente naqueles anos o cólera e a peste, que causavam estragos desde meados do século XIX e que foram o estopim destas cúpulas sanitárias. Depois seria a febre amarela.
As duas Guerras Mundiais deixaram seus respectivos avanços neste campo. Depois da Primeira, criou-se a Liga das Nações, com sua respectiva área sanitária, e em 1948 surgiu a Organização Mundial da Saúde (OMS). México, Estados Unidos, Guatemala, Costa Rica e Uruguai já tinham fundado em 1902 a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) que, com o tempo, se tornaria uma filial da OMS. Todos estes organismos procuram respostas coordenadas em tempos de pandemia. Em 1969 foi redigido um primeiro regulamento sanitário internacional que insistia na não interrupção do trânsito de pessoas de forma radical. “É semelhante ao que faz o México hoje em dia. Aquele documento dizia que parar o comércio não detém as epidemias”, afirma Carrillo.

O peso do comércio

O equilíbrio entre a proteção da saúde e a estabilidade econômica, buscado de forma tão desesperada por muitos países atualmente, tem séculos de tradição. Naquelas reuniões internacionais de sanitaristas e higienistas do século XIX tinham muito peso as intervenções políticas e empresariais, a diplomacia comercial. “Os comerciantes sempre tratavam de ocultar as epidemias, e os Governos também preferiam evitar certo pânico, assim que os alarmes chegavam tarde para o controle efetivo da doença, que se espalhava cada vez mais. Foi preciso convencê-los de que a transparência ajudava o controle e, portanto, a economia.”
O comércio já estava globalizado, e a América Latina e o Caribe se incorporavam a esse negócio internacional quando se atravessava a segunda revolução industrial. O México, por sua vez, começa um intercâmbio de mercadorias muito desigual, mas intenso, com os Estados Unidos. Como nos tempos da conquista espanhola, as epidemias também se transformaram nesse período em uma ferramenta, neste caso de controle comercial, para fechar fronteiras e estigmatizar certos países. “O Texas mantinha o México sob quarentena permanente para atrapalhar o comércio, enquanto os Estados Unidos olhavam para o outro lado argumentando que cada um de seus Estados era soberano”, conta a professora da UNAM.
Um grupo de voluntárias da Cruz Vermelha durante a gripe espanhola em 1918.
Um grupo de voluntárias da Cruz Vermelha durante a gripe espanhola em 1918.GETTY IMAGES

O vírus como estilingue

A política clássica da OMS condena que países sejam estigmatizados por serem identificados como a origem de uma pandemia. Recrimina, assim, denominações como cólera asiática, vírus chinês, gripe mexicana, gripe espanhola… Há duas boas razões para isso. A primeira é que os vírus não são de ninguém, pois “é difícil determinar onde começa uma pandemia e possivelmente onde acaba”. Em segundo lugar, apontar um povo como o causador da desgraça não contribui para sua erradicação, porque “se alguém se sente marcado ou perseguido se esconderá, certo? E isso impede um melhor controle e um freio na transmissão da doença”.
Mas os direitos humanos não costumam estar em primeiro lugar na pauta, e poucos resistiram a utilizar as pandemias em benefício próprio. O México, por exemplo, tem uma triste historia de discriminação com a população chinesa em seu território, que não só contribuiu para a construção de ferrovias e outras obras públicas como também se integrou plenamente e se transformou em uma comunidade próspera dentro do país. Eis aí o pecado. “Sempre foram acusados de transmitir doenças. Inclusive a cor da sua pele acabou sendo associada à febre amarela, quando [o nome da doença] só tinha a ver com a icterícia que causa”. Também se atribuía a eles a peste que o México sofreu em 1092/1903, quando esse grupo étnico se mostrou imune.
Também o nome atribuído à mortífera gripe espanhola escondia certos interesses. “Tratava-se de evitar que o pânico se espalhasse entre as tropas [na Primeira Guerra Mundial], assim era muito mais simples circunscrevê-la à Espanha, ausente na luta”. Sempre houve bodes expiatórios ―os gays no caso do HIV, ou as prostitutas em tempos de sífilis. O H1N1 que circulou pelo México em 2009 foi fatal para o comércio da carne suína no país, que precisou de exibições públicas dos políticos comendo tacos para esconjurar os temores.

Manipular o medo

Esta pandemia que o mundo atravessa atualmente viaja de avião, o que se reflete num primeiro contágio entre pessoas ricas e uma segunda fase de contágio local que cedo ou tarde afetará em maior medida os mais pobres, como todas. “Nem sempre as pandemias têm sua origem nas classes superiores para passar depois às mais desfavorecidas. Houve um tempo em que chegavam de ferrovia ou de navio com o deslocamento da classe operária, os migrantes”. Por suas condições de vida e profissionais, os pobres sempre acabam sofrendo mais contágios e ficam em pior situação quanto à cura. E isso os torna bodes expiatórios como os que vimos anteriormente, porque a origem e a propagação da epidemia acabam sendo atribuídas a ele. Isto também se deve a interesses. Ana María Carrillo cita o exemplo do México. “No final do século XIX ocorreu a chamada peste cinza, transmitida por um piolho, e, embora houvesse infectados de todas as classes, manipulou-se o medo contra os pobres, que certamente foram mais afetados. Conseguiu-se expulsá-los do centro de várias cidades e se estabeleceram colônias [bairros] de ricos, como as hoje famosas e acomodadas colônias Condesa e Roma, na Cidade do México, enquanto as classes baixas foram deslocadas para a periferia.”
As pandemias são muito eficazes também para direcionar ou controlar o comércio. A professora Carrillo vê com receio a “insistência atual em criminalizar os chineses”, que circulou não só nas redes sociais com humor mais ou menos ácido, mas também pela boca de líderes políticos como Donald Trump, em cujos discursos não deixava de citar o “vírus chinês”. A insistência com a China, opina a professora, teria neste caso a ver “com a expansão do comércio nesse país, muito poderoso nos últimos anos. Não me atrevo a apontar a origem da pandemia, mas vejo pressões comerciais na denominação que lhe foi dada. Historicamente, as pandemias foram usadas para frear comércios florescentes. Os Estados Unidos já tinham feito isso com a febre amarela, por exemplo”.
Trabalhadores de saúde chineses da província de Shandong participam de uma cerimônia antes de deixar Wuhan.
Trabalhadores de saúde chineses da província de Shandong participam de uma cerimônia antes de deixar Wuhan.ROMAN PILIPEY / EFE

Ensinamentos para o futuro

Dizia-se no princípio deste artigo que as epidemias surgem quando uma sociedade está passando por um mau momento ―fome, guerras, fragilidade ou tudo junto. Mas o que está acontecendo agora para que a Covid-19 esteja ceifando uma população aparentemente sã e em perfeito desenvolvimento? A professora Carrillo se soma aos que opinam que “o neoliberalismo político” teve muito a ver com a transmissão e expansão do vírus.
“Por um lado, as sociedades estão mais empobrecidas devido às crises econômicas recentes, e isso é um caldo de cultivo para os contágios, como dizíamos. Em segundo lugar, os sistemas sanitários públicos sofreram com estas políticas durante muito tempo, foram privatizados, tiveram recursos cortados.” São fatores que não deixam de ser recordados nos países europeus e que alimentam a disputa política nas últimas semanas. Além disso, leva-se em conta que haverá os mesmos contágios em quase todos os países, e o que estes fazem então é tratar de que seus hospitais, tão carentes de recursos, não fiquem sobrecarregados.
Carrillo Farga cita em terceiro lugar as comorbidades que se destacam como um fator de risco acrescentado na letalidade do vírus. Todas essas doenças que agravam o risco de morrer de Covid-19 estão relacionadas com um mundo onde as classes pobres, sobretudo, foram perdendo a dieta tradicional para se integrar ao mercado das calorias vazias, dos refrigerantes borbulhantes no café da manhã, almoço e jantar. Obesidade, diabetes e hipertensão serão a gota d’água para muitos destes doentes que sucumbiram a necessidades geradas antes que o produto lhes fosse oferecido. “Acho que esta pandemia resultará em uma melhora dos sistemas sanitários públicos. O ensinamento que deixará será que é preciso reforçar os Estados nos recursos e serviços para a saúde pública”.
Fonte: https://brasil.elpais.com/sociedade/2020-04-09/pandemias-do-passado-velhas-quarentenas-e-novos-ensinamentos.html