Durante dias uma pequena povoação observou atentamente à espera que o
corpo de uma baleia-azul que deu à costa explodisse. Mas a carcaça é
valiosa pelo contributo que pode dar à ciência para se conhecer melhor
uma espécie em risco de extinção.
Há mais de uma semana que a pequena
aldeia costeira numa ilha do Canadá se tornou num pequeno centro
turístico devido ao motivo mais inusitado: uma baleia-azul deu à costa
morta e inchou, muito. Durante alguns dias, a questão mais repetida era
se a baleia explodiria ou não. Entretanto, a carcaça já desinchou e o
Museu Real do Ontário vai buscar o cetáceo morto e outra baleia azul,
que também deu à costa no país. Depois, irão tornar os esqueletos destes
raros cetáceos disponíveis à comunidade científica para os estudar.
Normalmente, as
baleias morrem em mar alto e acabam por se afundar. No fundo do mar, as
suas carcaças tornam-se em alimento e forma-se um ecossistema dinâmico
num habitat (o fundo do mar) que é, normalmente, escasso em nutrientes.
Mas
não é assim tão raro as carcaças mortas dos cetáceos serem arrastadas
para a costa e, sendo tão grandes, ficarem presas nas praias. Foi o que
aconteceu na povoação de Trout River, na ilha de Newfoundland, no oceano
Atlântico, que faz parte da província canadiana de Newfoundland e
Labrador.
O corpo da baleia que surpreendeu a comunidade de Trout River tem 170.000 quilos, de acordo com a National Geographic,
e mede 25 metros de comprimento, diz a BBC News. Devido à actividade
bacteriana dentro da carcaça, associada à putrefacção, houve a produção
de substâncias que fizeram inchar a baleia, como o amoníaco, o sulfureto
de hidrogénio e gases de metano.
O inchaço fez com que se
temesse, ou esperasse, consoante o observador, que a baleia rebentasse.
Nas redes sociais, apareceram vídeos onde se via o rebentamento de
outras carcaças de baleias que deram à costa no passado. No entanto, os
rebentamentos aconteceram ou porque explodiram com a baleia, ou porque tentaram dissecar o seu corpo.
“A pele da baleia e a sua gordura são rijas”, explicou Andrew David, biólogo autor do blogue Southern Fried Science, num artigo de pergunta-resposta da revista National Geographic.
“As massivas pregas na região da garganta que se vêem inchadas em todas
as fotografias estão desenhadas para se encherem de água salgada e
forçarem a água a sair pelas barbas da baleia [de modo a filtrarem a
comida]. Esta estrutura pode aguentar muita pressão.”
Os maiores animais
No entanto, a atenção gerada pelo fenómeno foi tão grande que fez com que pessoas fossem visitar o objecto. Até se criou um site – Has the whale exploded yet? – que reúne informação sobre o assunto. Mas a entrada que inicia o site,
de uma mensagem no Twitter do jornalista Don Bradshaw, mostra uma
fotografia de 2 de Maio em que a carcaça da baleia parece minguada.
“Quem espera que a #explodingwhale [um hashtag para baleia] rebente vai ficar desapontado. Está a ficar sem gás”, escreveu o jornalista.
O
que estará a acontecer é que o metano está a ser naturalmente
libertado. Apesar do mais provável ser que a baleia não expluda,
aconselha-se que as pessoas se afastem da baleia e não subam para cima
dela.
A pequena comunidade de 600 pessoas não sabia o que fazer
com o corpo enorme da baleia. Mas quinta-feira passada, um comunicado do
Museu Real do Ontário anunciava que os seus funcionários iriam buscar
esta carcaça e o corpo de outra baleia-azul que foi dar à costa em Rocky
Harbour, também na ilha de Newfoundland, para ficar com os ossos.
A Balaenoptera musculus,
o nome em latim para a baleia-azul, é o maior animal que se pensa que
alguma vez existiu na Terra. A espécie está ameaçada. Segundo o
comunicado, a população de baleias-azul do Noroeste do Atlântico conta
com menos de 250 indivíduos adultos.
Estas duas carcaças que foram
dar à costa morreram em Abril de 2014 com outras sete, por terem
ficados presas no gelo a sudoeste de Newfoundland. “Esta perda, que
representa até 5% desta espécie em risco de extinção, é extremamente
infeliz”, disse Mark D. Engstrom, director do museu, no comunicado. No
entanto, acrescenta, “esta é uma oportunidade importante para
compreender mais estes animais magníficos e tem um valor incalculável
para a ciência e a educação do Canadá agora e no futuro.”
Fonte: http://www.publico.pt/ciencia/noticia/carcaca-de-baleia-que-estava-por-explodir-no-canada-vai-afinal-para-museu-1634641