segunda-feira, 12 de março de 2018

Estudo pioneiro explica o que acontece com o cérebro no exato momento em que morremos

Pesquisadores de duas universidades decidiram estudar o que ocorre dentro do cérebro no momento da morte
O que passa emnossa cabeça no momento da morte?
Não se sabe exatamente e, embora os cientistas tenham alguma resposta, a resposta continua sendo um grande mistério. Além de difícil solução, tentar respondê-la pode criar implicações éticas.
No entanto, uma equipe de cientistas da Universidade Charitée, em Berlim, e também da Universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos, encontraram uma maneira de realizar um pioneiro estudo sobre a neurobiologia da morte. A pesquisa foi liderada pelo cientista Jens Dreier.
O título da pesquisa foi "Depolarização da difusão terminal e silêncio elétrico na morte do córtex cerebral humano". Para realizá-la, os cientistas precisaram do consentimento dos parentes de vários pacientes terminais. O estudo exigia um monitoramento neural considerado invasivo.
Os pacientes tinham sofrido terríveis acidentes de trânsito, acidentes vasculares cerebrais ou paradas cardíacas. Ou seja, nesses casos, não havia mais como salvá-los, segundo os pesquisadores.
Ao trabalhar com essas pessoas, os cientistas descobriram que os cérebros dos animais e dos seres humanos morrem de uma maneira parecida. Eles agora dizem mas que também existe um exíguo momento em que o funcionamento do cérebro pode ser restaurado, ao menos de forma hipotética.
O objetivo do estudo não era apenas observar os últimos momentos de um cérebro, mas também compreender como seria possível salvar vidas no futuro.
Pesquisa apontou que neurônios 'armazenam' energia com a esperança de que o corpo volte a funcionar

Cérebros de animais

Grande parte do que até então se sabia sobre a morte cerebral era produto de experimentos com animais, realizados no século passado.
Até então, o que se conhecia era o seguinte:
  • O cérebro é privado de oxigênio quando o sistema cardiovascular do corpo para de funcionar.
  • Ocorre uma condição conhecida como isquemia cerebral, na qual a falta de componentes químicos leva a uma 'inatividade elétrica completa' no cérebro.
  • Acredita-se que o chamado 'silenciamento cerebral' ocorre para que os neurônios conservem sua energia, mas isso acontece em vão, pois a morte total chega antes de uma reabilitação.
  • Todos os íons importantes escapam das células cerebrais, já que os suprimentos de adenosina trifosfato, composto que armazena e transporta energia em todo o corpo, estão esgotados.
  • A recuperação do tecido torna-se impossível.





"A lesão total e irreversível dessas células se desenvolve em menos de dez minutos quando a circulação cessa completamente", explica um dos cientistas no estudo.

Pesquisadores monitoraram a atividade cerebral de dez pacientes terminais.

Cérebro humano

A equipe de pesquisadores queria ter mais detalhes sobre o que acontece com o cérebro dos humanos, algo que ainda estava cheio de enigmas.
Para isso, à medida que o paciente terminal piorava, os cientistas monitoraram sua atividade neurológica usando dezenas de eletrodos.
Em primeiro lugar, em oito dos dez pacientes, os pesquisadores detectaram o movimento de células cerebrais que tentavam impedir o inevitável, ou seja, a morte que já se avizinhava.
De maneira geral, os neurônios funcionam com íons carregados, o que cria desequilíbrios elétricos entre eles e seu ambiente - isso permite que pequenos choques, ou sinais, sejam criados. Para os autores do estudo, a manutenção desse sistema fica mais difícil quando a morte está chegando.
Para se alimentar, essas células "bebem" oxigênio e energia química da corrente sanguínea. Quando o corpo morre e o fluxo de sangue que chega ao cérebro para, os neurônios - privados de oxigênio - tentam uma de suas últimas saídas: acumular os recursos que sobraram, dizem os pesquisadores.
Enviar sinais de um lado para o outro, como normalmente ocorre, acaba se tornando um desperdício nos últimos momentos da vida. Portanto, os neurônios se "calam" e, ao invés de enviar sinais, usam suas reservas de energia para manter cargas elétricas internas, esperando o retorno de um fluxo de sangue que nunca virá.
Mesmo sem circulação sanguínea, o cérebro continua tentando se recuperar.
Esse fenômeno foi chamado de "depressão não dispersa", pois ele ocorre simultaneamente em todo o cérebro.
Depois, o que se segue é a fase da "despolarização da difusão", conhecida como "tsunami cerebral". Ocorre uma grande liberação de energia térmica, porque o equilíbrio eletroquímico que mantinha as células vivas entram em colapso - esse "tsunami" leva à intoxicação e destruição das células.
Todas essas reações foram observadas pelos cientistas nos pacientes terminais. E à medida que os níveis de oxigênio caíam, a atividade elétrica também silenciava em todo o cérebro.
É então que a morte chega.
No entanto, o estudo revelou que, no futuro, todo esse processo pode não ser tão inevitável como é agora.
"A despolarização expansiva marca o início das mudanças celulares tóxicas que eventualmente levam à morte, mas não é o ponto chave da morte por si só, pois essa despolarização é reversível até certo ponto, com a restauração do suprimento de energia", disse o principal autor do estudo, Jens Dreier, do Centro de Pesquisas de Acidentes Cardiovasculares da Universidade Charité, de Berlim.
Os dados obtidos pelo estudo, publicados pela revista científica Annals of Neurology, apontam que a ressurreição celular continua sendo possível. Porém, novas pesquisas devem ser feitas até que isso seja possível.
Como Dreier assinala, "a morte é um fenômeno complexo" para o qual "não há respostas fáceis."
Fonte: http://www.bbc.com/portuguese/internacional-43366608

domingo, 11 de março de 2018

Estas são as 50 cidades mais violentas do mundo (e 17 estão no Brasil)

Enterro de vítimas assassinadas no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus, no ano passado; capital amazonense é uma das citadas em relatório de violência urbana | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O Brasil é o país com o maior número de cidades entre as 50 áreas urbanas mais violentas do mundo, segundo ranking divulgado nesta semana pela organização de sociedade civil mexicana Segurança, Justiça e Paz, que faz o levantamento anualmente com base em taxas de homicídios por 100 mil habitantes (veja lista completa abaixo).
São 17 cidades brasileiras com mais de 300 mil habitantes listadas no ranking, que é encabeçado pela mexicana Los Cabos (com 111,33 homicídios por 100 mil habitantes em 2017) e pela capital venezuelana, Caracas (111,19).
Natal (RN) aparece em quarto lugar, com 102,56 homicídios por 100 mil habitantes - para se ter uma ideia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera uma taxa acima de 10 homicídios por 100 mil habitantes como característica de violência epidêmica.
Outras cidades brasileiras que aparecem no ranking são Fortaleza (CE), Belém (PA), Vitória da Conquista (BA), Maceió (AL), Aracaju (SE), Feira de Santana (BA), Recife (PE), Salvador (BA), João Pessoa (PB), Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Macapá (AP), Campos de Goycatazes (RJ), Campina Grande (PB), Teresina (PI) e Vitória (ES).
Fortaleza, em especial, é destacada no relatório por sua taxa de homicídios ter subido 85% entre 2016 e 2017 - de 44,98 para 83,48.
O crescimento da violência em cidades menores - e, sobretudo, do Norte e Nordeste brasileiros - alarma especialistas há mais de uma década. Como o Brasil não investiga seus homicídios (mais de 90% deles ficam impunes), é difícil identificar com total certeza as relações de causa e consequência no que diz respeito à violência urbana.
Mas estudiosos do tema apontam fenômenos como guerra de facções criminosas, avanço do tráfico de drogas e crescimento urbano sem a oferta de serviços de segurança eficazes como alguns dos motivos mais prováveis para a explosão da taxa de homicídios em cidades outrora pacatas.
Em grandes capitais, onde pode haver maior número absoluto de homicídios, a taxa é menor, já que resulta do cálculo do total de assassinatos dividido pelo tamanho da população. São Paulo, por exemplo, teve taxa de 8,02 homicídios por 100 mil habitantes em 2017; o Rio, que vive uma crise de segurança pública, viu sua taxa crescer de 29,4 em 2016 para 32 homicídios por 100 mil habitantes no ano passado.

América Latina

Los Cabos, encabeça o raking,  é um popular destino turístico com taxa de homícios crescente

O ranking mostra ainda que a América Latina é o continente com o maior número de cidades violentas do mundo: das 50 listadas no ranking, apenas oito não são latino-americanas.
Doze das cidades estão no México, país que vive anos de enfrentamentos entre cartéis de drogas e forças de segurança.
Los Cabos, uma das cidades mais turísticas do país, entrou pela primeira vez na lista já assumindo o topo do ranking. Segundo o relatório da Segurança, Justiça e Paz, Los Cabos passou de 61 homicídios em 2016 para 365 em 2017. Reportagem de 2017 do jornal The New York Times diz que a cidade virou um "paraíso para turistas e um inferno para moradores", em grande parte por conta de brigas de gangues que disputam entre si o controle de rotas viárias e pontos de venda de drogas.
Acapulco, também no México, aparece em terceiro lugar do ranking por apresentar um cenário semelhante.
Segundo a Segurança, Justiça e Paz, o país não tem "uma ação para a erradicação sistemática das milícias privadas e dos grupos criminosos e permitiu que a impunidade chegasse aos piores níveis já registrados".
Jovem armado em Caracas; cidade venezuelana é a capital em posição mais alta no ranking de violência
Há também cinco cidades venezuelanas com as maiores taxas de homicídio do mundo, no momento em que o país enfrenta uma grave crise política e aguda escassez de alimentos, medicamentos e bens básicos.
A organização mexicana destaca, porém, a dificuldade em obterem-se dados estatísticos oficiais confiáveis na Venezuela: "Quatro milhões de venezuelanos deixaram o país, mais da metade deles nos últimos três anos", diz o relatório. "Como resultado, as estimativas oficiais de população não são reais, nem as taxas de homicídio baseadas nelas - mas sim mais altas."

A surpresa hondurenha

Mas nem tudo são notícias ruins: em muitas violentas cidades centro-americanas, a taxa de homicídios caiu.
O principal destaque nesse ponto é San Pedro Sula, em Honduras, que caiu do terceiro para o 26º posto do ranking entre 2016 e 2017. Os homicídios caíram 54% em apenas um ano.
"Essa mudança extraordinária não ocorreu por acaso, mas sim por resultado de um esforço do governo em erradicar células criminosas, agir contra delitos (...) cometidos pelas gangues e colocar ordem nas prisões", diz o relatório.
Três cidades brasileiras que figuravam no ranking de 2016 deixaram de aparecer em 2017. São elas: Curitiba (PR), Cuiabá (MT) e São Luís (MA).
Mulher em Honduras; cidade mais violenta do país centro-americano viu homicídios decrescerem
A Segurança, Justiça e Paz diz que elabora o ranking com "o objetivo político cidadão de chamar atenção à violência nas cidades, sobretudo na América Latina, para que governantes se vejam pressionados a cumprir com seu dever de proteger os governados e garantir seu direito à segurança pública".
A organização usa como critério a taxa de homicídios por 100 mil habitantes oficial em cidades de 300 mil habitantes ou mais, além de fontes jornalísticas e informes de ONGs e organismos internacionais.
São excluídas do levantamento cidades de países em conflito bélico aberto, como Síria, Iraque, Afeganistão e Sudão, sob a justificativa de "a maioria das mortes violentas (nessas cidades) não corresponderia à definição universalmente aceita de homicídio, mas sim mortes provocadas por operações de guerra, segundo a classificação da OMS".

As 50 cidades mais violentas

PosiçãoCidadePaísHomicídiosHabitantesTaxa (por cada mil habitantes)
1Los CabosMéxico365328.245111,33
2CaracasVenezuela3.3873.046.104111,19
3AcapulcoMéxico910853.646106,63
4NatalBrasil1.3781.343.573102,56
5TijuanaMéxico1.8971.882.492100,77
6La PazMéxico259305.45584,79
7FortalezaBrasil3.2703.917.27983,48
8VictoriaMéxico301361.07883,32
9GuayanaVenezuela728906.87980,28
10BelémBrasil1.7432.441.76171,38
11Vitória da ConquistaBrasil245348.71870,26
12CuliacánMéxico671957.61370,10
13St. LouisEstados Unidos205311.40465,83
14MaceióBrasil6581.02963,94
15Cape TownÁfrica do Sul2.4934.004.79362,25
16KingstonJamaica7051.180.77159,71
17San SalvadorEl Salvador1.0571.789.58859,06
18AracajuBrasil560951.07358,88
19Feira de SantanaBrasil369627.47758,81
20JuárezMéxico8141.448.85956,16
21BaltimoreEstados Unidos341614.66455,48
22RecifeBrasil2.1803.965.69954,96
23MaturínVenezuela327600.72254,43
24GuatemalaGuatemala1.7053.187.29353,49
25SalvadorBrasil2.0714.015.20551,58
26San Pedro de SulaHonduras392765.86451,18
27ValenciaVenezuela7841.576.07149,74
28CaliColômbia1.2612.542.87649,59
29ChihuahuaMéxico460929.88449,48
30João PessoaBrasil5541.126.61349,17
31ObregónMéxico166339.00048,96
32San JuanPorto Rico169347.05248,70
33BarquisimetoVenezuela6441.335.34848,23
34ManausBrasil1.0242.130.26448,07
35Distrito CentralHonduras5881.224.89748
36TepicMéxico237503.33047,09
37PalmiraColômbia144308.66946,65
38ReynosaMéxico294701.52541,95
39Porto AlegreBrasil1.7484.26808340,96
40MacapáBrasil191474.70640,24
41Nova OrleansEstados Unidos157391.49540,10
42DetroitEstados Unidos267672.79536,69
43MazatlánMéxico192488.28139,32
44DurbanÁfrica do Sul1.3963.661.91138,12
45Campos de GoytacazesBrasil184490.28837,53
46Nelson Mandela BayÁfrica do Sul4741.263.05137,53
47Campina GrandeBrasil153410.33237,29
48TeresinaBrasil315850.19837,05
49VitóriaBrasil7071.960.21336,07
50CúcutaColômbia290833.74334,78

Fonte: http://www.bbc.com/portuguese/brasil-43309946