De acordo com serviços de inteligência americanos, o grupo de
hackers "Os Guardiões da Paz" está ligado à capital norte-coreana,
Pyongyang
O ataque virtual à Sony ─ creditado à Coreia do Norte,
que nega a acusação ─ tem todos os ingredientes de uma megaprodução de
Hollywood, especialmente depois de a multinacional japonesa cancelar a
estreia do filme "A Entrevista", uma paródia do regime comunista.
A decisão foi tomada após redes de cinema
norte-americanos se recusarem a exibir a comédia por medo de ameaças
feitas por um grupo de hackers, chamado Os Guardiões da Paz (GOP, em
inglês). De acordo com serviços de inteligência americanos, o GOP está
ligado à capital norte-coreana, Pyongyang.
Ainda não se sabe, contudo, quem está por trás do
ataque. Neste sábado, a Coreia do Norte, que nega envolvimento no
episódio, ofereceu ajuda aos Estados Unidos para descobrir os
responsáveis por invadir os computadores da Sony e acessar informações
confidenciais, incluindo conversas de altos executivos da companhia.
Confira abaixo o que já foi desvendado sobre o caso.
O que já se sabe
Há uma única
certeza em meio a tantas dúvidas sobre o ataque virtual à Sony: o
sistema interno de computadores da companhia foi alvo de hackers em
novembro.
O grupo responsável pelo ataque se autodenomina The
Guardians of Peace (Os Guardiões da Paz, em tradução livre) e ameaçou
vazar dados secretos da multinacional japonesa "ao mundo" caso suas
demandas não fossem atendidas.
Ironicamente, no entanto, essas demandas nunca foram divulgadas.
Os hackers disponibilizaram em sites de download filmes
da Sony que ainda não haviam estreado. "A Entrevista", uma comédia sobre
um complô para assassinar o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, com
previsão de estreia no Brasil no final de janeiro, não era um deles.
Os autores do ataque também divulgaram o salário e os
números de previdência social de milhares de empregados da Sony –
incluindo celebridades.
Como o grupo fez ameaças terroristas a cinemas que exibissem o filme, a Sony optou por cancelar sua estreia.
Quem são os principais suspeitos?
Um país, muito provavelmente a Coreia do Norte
Apoiadores do regime da Coreia do Norte baseados na China
Hackers em busca de chantagem
Hackers ou um único indivíduo com outra motivação, como vingança
Por que a Coreia do Norte é a principal suspeita?
De acordo com serviços de inteligência americanos, a Coreia do Norte é a
principal suspeita pelo ataque. O país tem motivos de sobra para estar
por trás do episódio e um histórico de ataques virtuais.
Além disso, o governo norte-coreano não disfarça a
irritação por causa do lançamento do filme, que classificou como "um ato
de terrorismo".
Para especialistas, as suspeitas recaem sobre a chamada
Unidade 121, a unidade de elite de hackers do governo norte-coreano. O
departamento faz parte do Escritório Geral de Reconhecimento (RGB, em
inglês) da Coreia do Norte, responsável por operações clandestinas.
A morte de Kim Jong-Un no filme 'A Entrevista'
Foto: Columbia Pictures
Pouco tempo depois da decisão da Sony de cancelar a
estreia do filme, o jornal americano The New York Times publicou uma
reportagem na qual uma fonte não identificada do governo americano dizia
acreditar que o ataque havia sido patrocinado pelo governo
norte-coreano.
Por que a Coreia do Norte pode não estar envolvida no ataque?
A Coreia do Norte negou estar por trás do ataque virtual à Sony,
alegando, por outro lado, que o incidente foi obra de alguém simpático à
sua causa. Pesa a favor do governo norte-coreano o fato de que poucas
vezes o regime comunista se prestou a negar acusações deste tipo.
Além disso, embora a Coreia do Norte já tenha sido
responsável por uma série de ataques virtuais, especialistas dizem que
esse incidente específico não faz parte do seu modus operandi.
Seu alvo principal é a vizinha Coreia do Sul, onde ataques como o lançado em março de 2013 derrubou as redes internas do país.
O blogueiro americano Marc Rogers diz que o código do
ataque remete a um computador com IP da Coreia. Porém, a linguagem torna
menos provável que a fonte tenha sido a Coreia do Norte.
Ele ressalva que os norte-coreanos não falam o coreano
tradicional, e sim, um dialeto próprio, já que o coreano tradicional é
proibido no país.
"Também não podemos esquecer que é comum mudar a
linguagem/local de um computador antes de compilar o código", disse ele,
em seu blog.
Rogers destaca ainda que os hackers responsáveis pelo
ataque conhecem a fundo os meandros da Internet e das redes sociais.
"Isso e a sofisticação da operação não correspondem ao perfil da Coreia
do Norte".
Mas talvez a evidência mais forte seja a de que os
hackers só se interessaram pelo filme "A Entrevista" quando a imprensa
sugeriu que a Coreia do Norte poderia estar ligada ao ataque.
Se não foi a Coreia do Norte, quem foi?
Em seu blog, Rogers sugere que a China poderia estar por trás do
ataque. "Acho muito mais plausível", pondera. Alguns especialistas
concordam. Eles dizem acreditar que o ataque possa ter partido de
hackers chineses possivelmente recrutados pela Coreia do Norte. Outros
sugerem que hackers podem ter invadido os computadores da Sony com o
intuito de extorquir a companhia.
Quando o ataque foi noticiado, havia poucos indícios de
que o ataque fosse tivesse motivação financeira. No entanto, hackers
enviaram e-mails a cinco executivos da Sony em 21 de novembro, dias
antes do vazamento dos arquivos confidenciais, pedindo dinheiro.
Sean Sullivan, executivo da empresa de segurança F-Secure, diz acreditar que a extorsão possa ter motivado o ataque.
"Uma motivação financeira é muito mais crível do que um
ataque coordenado por um país", diz ele à BBC. Para Sullivan, é preciso
aguardar o próximo passo dos hackers.
Ele diz que se o objetivo deles tiver sido apenas o
cancelamento do filme, a meta já foi alcançada e nada mais deve
acontecer. Mas, se, por outro lado, houver mais vazamentos, é provável
que a Coreia do Norte não seja a principal suspeita pelo ataque.
Como Rogers, Sullivan não descarta o envolvimento de hackers chineses na invasão de computadores da Sony.
"É muito mais provável que a Coreia do Norte tenha
recrutado hackers chineses que buscam ganhar dinheiro fácil e, ao mesmo
tempo, desestabilizar a Sony".
Existe também a possibilidade de que o ataque tenha sido
motivado por vingança. Para entender essa hipótese, é necessário
relembrar o passado da Sony e os ataques virtuais que a multinacional
japonesa já sofreu.
A Coreia do Norte negou estar por trás do ataque virtual à Sony,
alegando, por outro lado, que o incidente foi obra de alguém simpático à
sua causa
Foto: EFE en español
O convívio conflituoso entre os hackers e a Sony começou
em 2005, quando a divisão de música da companhia instalou um software
que modificou os sistemas operacionais dos computadores, impedindo que
CDs fossem copiados.
A guerra ganhou novo capítulo em 2010, quando a Sony
processou o hacker adolescente George Hotz, responsável por "quebrar" o
código do Playstation 3, divulgando-o na rede.
Mas o maior ataque sofrido pela companhia aconteceu em
abril de 2011 quando o grupo Anonymous lançou uma campanha para derrubar
a rede do Playstation. Os hackers obtiveram acesso a informações
pessoais de mais de 77 milhões de usuários. A invasão custou à Sony pelo
menos US$ 171 milhões (R$ 455 milhões).
Em entrevista ao site Gizmodo, Chester Wisniewski,
executivo da empresa de segurança Sophos, afirmou que a Sony "vem
provocando a ira dos hackers há muitos anos, portanto não surpreende que
a companhia seja um alvo provável".
Para Roberts, o suspeito mais óbvio pode estar mais perto do que muita gente pensa.
"Aposto minhas fichas em um provável ex-funcionário da Sony", diz ele.
O caso pode chegar aos tribunais?
Ainda não é certo que os responsáveis pelo ataque serão levados à
Justiça. O governo dos Estados Unidos disse que, se os hackers não forem
norte-coreanos, "será muito difícil processá-los".
E enquanto muitos especulam sobre outros suspeitos, faltam provas.
"A Coreia do Norte é potencialmente suspeita. Mas para
condená-la são necessárias mais evidências", afirmou Alan Woodward,
especialista de segurança da Universidade de Surrey, na Inglaterra.
Em meio a tantas dúvidas, há um consenso de que os efeitos do ataque serão sentidos por muito tempo.
Em primeiro lugar, levará algum tempo para que a Sony
recupere sua reputação e ganhe de volta a confiança de Hollywood. Outro
ponto é por que os cinemas cederam às ameaças, cancelando a exibição do
filme com medo de ataques terroristas, uma iniciativa que não coaduna
com o perfil dos Estados Unidos.
Além disso, o ataque lança luz sobre as deficiências de segurança das grandes corporações do país.
Para Sullivan, a invasão representa um momento ideal para que os Estados Unidos revisem "os seus padrões de segurança".
Fonte: http://tecnologia.terra.com.br/entenda-o-ataque-virtual-ao-estudio-de-cinema-da-sony,a3a6c77f1a96a410VgnVCM3000009af154d0RCRD.html